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A SEMIÓTICA E A MORAL

Por:   •  16/4/2021  •  Artigo  •  5.575 Palavras (23 Páginas)  •  137 Visualizações

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SEMIÓTICA E A MORAL

Em sua obra, Fundamentação da metafísica dos costumes, Kant aponta para o princípio supremo da moralidade, segundo o qual a liberdade a autonomia são elementos principais para as leis morais, que valham independentemente das experiências empíricas e que sejam universais e necessárias para todo ser racional. Com base no seu livro anterior, A crítica da razão pura, o filósofo de Konigsberg já tinha demonstrado que os únicos conhecimentos universais e necessários são aqueles fornecidos pela razão pura, ou seja, por sua forma a priori de organizar o mundo. Com base nisto, o pensador supõe que estes princípios supremos da moralidade deveriam ser obtidos por meio de conceitos a priori fornecidos pela razão pura, que, como neste caso está se referindo ao agir humano, o filósofo chamará de razão prática.

É um fato para Kant que a doutrina da moralidade deve ter caráter universal, tendo bases sólidas em uma moral que necessita da religião, uma vez que é por meio dela que chega o homem a ideia de Deus como o seu juiz, ultrapassando o terreno movediço da experiência que é sempre capaz de nos enganar e de se mostrar contraditória como ele mesmo mostrou na Crítica da razão pura. A ciência postula suas teorias através da experiência, o mesmo não ocorre com a moral kantiana, uma vez que para o filósofo, esta parte da interioridade do indivíduo, algo a priori, visto que a moralidade não consiste na simples concordância com o dever, uma ação em vista de um fim particular que beneficie algo ao praticar tal ação, mas antes um agir por dever, um agir tendo como fim a própria humanidade em si mesmo.

O procedimento adotado por Kant consiste, por conseguinte, em analisar detalhadamente a estrutura da própria razão humana, no sentido de encontrar princípios sólidos para agir moralmente, pois “[...] a verdade não se encontra fora da razão humana, mas dentro dela” (KONDER, 2006, p. 288). Kant propõe uma moral fundada no conceito do homem como ser livre e autônomo que, justamente por isso vinculado a si mesmo pela razão a leis incondicionais, devem está isentas de serem ditas e guiadas por outrem, mas pelo próprio sujeito como ser livre e autônomo em suas ações.

2.1. A autonomia da razão como liberdade para o homem

A moral filosófica kantiana tem como ponto de referência fundamental a ideia do homem como ser livre e autônomo[1]. A liberdade (Freiheit) e a autonomia (Autonomie) devem ser aqui entendidas em primeiro plano como emancipação do homem com relação ao determinismo da natureza. Muito embora fazendo parte da natureza e sendo afetado por ela como animal e ser sensível, no que diz respeito ao plano da moralidade, deve-se procurar a sua legitimação tão somente no plano da razão prática, onde a autonomia se define como propriedade por meio da qual a vontade toma a si mesma como lei não carecendo de qualquer mediação da natureza.

Desta forma, Kant faz uma clara diferenciação entre razão teórica e razão prática: a razão prática possui em si mesma o fundamento de sua determinação, enquanto a sensível nos situa num caos de tendências e impulsos somente sensíveis, alimentando mais o lado animal do homem do que o lado racional. A liberdade do homem, segundo Kant, requer como exigência fundamental que nós nos libertemos de toda e qualquer determinação por parte da natureza, afirmando-se no plano da ação, da consciência e da pura subjetividade.

A liberdade enquanto autonomia se manifesta de forma radical quando o homem é capaz de fazer uso de sua razão para dirigir a própria vida, sem que precise recorrer ao auxílio de outros. Por isso que o filósofo crítica duramente o indivíduo que vive a mercê do pensamento de segundos, uma menoridade que Kant entende como uma subordinação de sua própria autonomia de não pensar por si próprio, mas a partir do que outros dizem como se deve pensar e agir, aceitando de certa forma a ser guiado por ditos mestres que nem sempre são corretos em seus pensamentos e em suas ações, por livros e orientadores de consciência que nem sempre estão acompanhados pela honestidade, tanto no campo da moral como no campo da política.

É tão cômodo ser menor. Se tenho um livro que faz as vezes de meu entendimento, um diretor espiritual que por mim tem consciência, um médico que por mim decide a respeito de minha dieta, etc., então não preciso de esforçar-me eu mesmo. Não tenho necessidade de pensar, quando posso simplesmente pagar; outros se encarregarão em meu lugar dos negócios desagradáveis (KANT, 2003, p. 64).

Kant entende o próprio homem como sendo o próprio culpado dessa menoridade, sendo que se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. A imensa maioria da humanidade considera a passagem à menoridade difícil e árdua, pois ela exige do indivíduo esforço e autonomia de si mesmo, uma razão independente e livre de qualquer amarra.

O filósofo reconhece que esta tomada de consciência por parte do indivíduo, no sentido de conduzir o próprio destino, representa uma verdadeira revolução, pois a vida para o pensamento medievo é guiada por Deus por conta do pecado original, mas Kant reconhece que necessitamos de Deus, mas é o homem que através da sua subjetividade constrói esse caminho rumo a Deus, através do agir por dever que tem em vista uma ação que tenha nesta toda a humanidade. Kant acredita que há no mais intimo de todo ser , uma espécie de consciência moral adormecida, agindo nela como uma espécie de “bussola”, uma guia que faz o sujeito discernir entre o que é bom e mau, uma razão independente[2].

Todo homem tem consciência moral e se sente observado, ameaçado, e em geral, intimado (respeito ligado ao medo) por um juiz interior, e este poder que nele vigiar as leis não é algo que ele mesmo produz (arbitrariamente), mas está incorporando em seu ser. Segue-o como uma sombra, quando ele pensa fugir. O homem pode certamente entorpecer-se ou aturdir-se com prazeres e distrações, mas não pode evitar despertar ou voltar a si de quando em quando, ao escutar a terrível voz da consciência moral. Ele pode, na depravação mais extrema, até mesmo fazer pouco caso dela; mas de modo algum pode evitar ouvi-la (KANT, 2013, p.251).

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