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BREVE QUADRO DA FORMAÇÃO CULTURAL EUROPEIA E O PROBLEMA DO MAL EM SANTO AGOSTINHO

Por:   •  6/2/2019  •  Trabalho acadêmico  •  2.378 Palavras (10 Páginas)  •  184 Visualizações

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A formação cultural da Europa primitiva

O início da cultura ocidental pode ser observado na nova comunidade espiritual que surgiu das ruínas do

Império Romano, em razão da conversão dos bárbaros do norte à fé cristã. O colapso da organização política

do Império Romano deixara um vácuo que nenhuma autoridade poderia preencher. Ele foi preenchido,

contudo, pela Igreja, que assumiu a função de tutora e legisladora dos novos povos. Os padres latinos –

Ambrósio, Agostinho, Leão e Gregório – foram os pais fundadores da cultura do Ocidente, na medida em

que, os distintos povos do Ocidente puderam ser incorporados à comunidade espiritual da cristandade,

adquirindo, dessa forma, uma cultura comum.

No Ocidente, a Europa primitiva não preservou nenhum centro comum ou tradição unificada de cultura

espiritual. Os povos do norte não possuíam conhecimento de escrita e desconheciam a vida urbana. Foi

somente por meio do cristianismo e de um ethos de uma vida de sacrifício e de santidade transmitidos pela

ação da Igreja, que a Europa ocidental adquiriu sua unidade e forma. Foi apenas nesse mundo de mitologia

cristã – no culto dos Santos e às relíquias e os milagres associados a ambos – que a aglutinação da ética e da

fé cristãs com a tradição desses povos bárbaros do Ocidente pôde ser alcançada.

Era impossível que povos sem nenhuma tradição de filosofia ou mesmo de uma incipiente literatura escrita

pudessem assimilar de forma direta a profunda e sutil metafísica teológica. A conversão da Europa ocidental

foi realizada menos por meio do ensinamento de uma nova doutrina e muito mais por meio da manifestação

de um novo poder a se impor e conquistar os bárbaros do Ocidente.

Dessa forma, assim como os mártires haviam sido os heróis da conquista cristã do Império, os monges se

fizeram confessores e apóstolos dessa fé entre os bárbaros. Aqui, a relação entre religião e cultura não é de

assimilação e permeação, mas de contradição e contraste. A vida dos santos e dos ascetas impressionava tão

fortemente os bárbaros porque expressava a manifestação de um modo de vida e de uma escola de valores

inteiramente opostos aos deles. O contraste não era entre a civilização do mundo romano-cristão e o

barbarismo dos pagãos, mas entre dois mundos espirituais ou dois planos de realidade. Por trás do contraste

ético entre a vida do santo e o barbarismo se encontra o dualismo escatológico entre o mundo presente e o

mundo que virá. Temos aí o pano de fundo da visão medieval cristã.

Assim, deu-se o aparecimento de uma cultura cristã autônoma, centrada na vida monástica, que permeava a

Igreja e a vida das pessoas graças à sua influência educacional e religiosa. Não era mais uma questão de

bárbaros conquistadores afetados pela religião e cultura dos conquistados, como se deu com os francos e os

godos; tratava-se de uma nova criação, gerada pelo enxerto da tradição latino-cristã nas raças bárbaras

nativas, de forma que todo o processo foi internamente assimilado por esses povos.

É impossível compreender o cristianismo sem o estudo da história do cristianismo. E isso, encerra muito mais que o

estudo da história eclesiástica no sentido tradicional. Inclui o estudo de dois processos diferentes que agem,

simultaneamente, na humanidade ao longo do tempo. De um lado, temos o processo de formação e mutação da cultura

que é objeto da antropologia, da história e de disciplinas afins; e, de outro, temos o processo da Revelação e da ação

da Graça divina, que criou uma sociedade espiritual e uma história sagrada, embora isso só possa ser estudado como

parte da teologia e em termos teológicos. Na cultura cristã esses dois processos ocorrem em conjunto, numa unidade

orgânica, de modo que seu estudo requer a cooperação íntima da teologia e da história. É óbvio que essa é uma tarefa

difícil, mas muito necessária, já que não há outra maneira de estudar o cristianismo como uma força viva no mundo

dos homens e é da essência do cristianismo ser uma força e não uma ideologia abstrata ou um sistema de ideias.

(DAWSON, Christopher. Criação do Ocidente)

A Patrística

A Patrística se desenvolveu em um ambiente altamente influenciado pela filosofia grega e dela se valeu

para esclarecer e defender a fé cristã. O Neoplatonismo teve grande ascendência sobre os primeiros

escritores cristãos. Encontramos duas tendências opostas: de um lado, os padres da Igreja grega, que

pretendiam harmonizar o pensamento grego com a religião cristã; de outro, os padres da Igreja Latina, que

combateram a cultura pagã.

A mensagem evangélica suscitou uma série de problemas: textuais (fixação do cânon); de coerência

(Antigo Testamento x Novo Testamento) e teológicos (o problema trinitário). Sobre a base desses problemas

era claro o esforço de definir a identidade do cristão. Assim, podemos definir três momentos: o dos padres

apostólicos do século I, que tiveram interesses no campo moral e ascético; o dos padres apologistas do século

II, que tentaram uma defesa do cristianismo contra os ataques dos adversários pagãos e gnósticos; e por fim,

o momento da Patrística (a partir do século III) que usou de modo sistemático a filosofia para dar uma base

teórica para a Revelação.

Padres da Igreja, portanto, são todos aqueles homens que contribuíram de modo determinante para

construir o edifício doutrinário do cristianismo. O texto básico para a mediação racional e a sistematização

da doutrina e da filosofia cristã foi o prólogo do Evangelho de João (e as cartas de Paulo), que fala do Verbo

ou Logos divino, e fala de Cristo precisamente em termos de Logos:

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