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Denegrindo A Filosofia

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Por:   •  26/11/2014  •  8.510 Palavras (35 Páginas)  •  563 Visualizações

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Denegrindo a Filosofia:

o pensamento como coreografia

de conceitos afroperspectivistas

Por Renato Noguera

Resumo

Partindo da ideia de Deleuze que filosofia é criar conceitos, este artigo tem como objetivo apresentar a filosofia afroperspectivista, criando conceitos para articular ensino de filosofia e a educação das relações etnicorraciais. O conceito de denegrir trabalha para problematizar o nascimento da filosofia na busca por uma nova coreografia do pensamento.

Palavras-chave: filosofia afroperspectivista, denegrir, coreografia.

Abstract

Starting from ideia’s Deleuze that philosophy is to create to concepts, this article aims to present the afroperspective philosophy, creating concepts to articulate teaching philosophy an education in race relations. The concept of blacken of works to problematize the birthy of philosophy in search of a new choreography for the thought.

Key-words:afroperspective philosophy, blaken, choreography.

Abrindo a roda

É importante frisar que este artigo é um exercício de experimentação. O que está em jogo é a apresentação da filosofia afroperspectivista. Ou ainda, uma composição da filosofia afroperspectivista em termos deleuzeanos. Entre os temas mais decisivos deste trabalho, situo o horizonte do debate que envolve a obrigatoriedade da disciplina Filosofia no Ensino Médio e as Diretrizes que regulamentam a Educação para as Relações Raciais. Com efeito, um percurso em aberto entre a Filosofia e a Educação.

Deleuze entende que num trabalho filosófico o que é mais “essencial são os intercessores” (DELEUZE, 1988, p.156) e toda criação filosófica passa pelos intercessores. Neste trabalho, a filosofia afroperspectivista vai ser descrita e caracterizada dentro do pensamento de Deleuze a partir de um conjunto de intercessores que, apesar de serem estranhos à primeira vista, não devem ser tomados como estrangeiros à perspectiva deleuzeana de criação de conceitos. Vou retomar isso mais adiante.

Importante frisar que as motivações e o campo de problemas estão dentro do horizonte das recomendações das Leis 10639/03 e 11684/08 , ambas já incorporadas à Lei de Diretrizes e Bases da Educação e, por conseguinte, à Constituição Brasileira. A Lei 10.639/03 foi modificada pela Lei 11645/08 e gerou uma série de esforços e marcos legais que desencadearam as Diretrizes Curriculares Nacionais para Implementação da Educação das Relações Etnicorraciais e o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena. O mesmo se deu com a Lei 11684/08 que tornou obrigatória a presença da Filosofia como disciplina em todas as séries do ensino médio.

Uma pesquisa ligeira já poderia revelar que as tentativas de responder os desafios da presença obrigatória de conteúdos de história e cultura afro-brasileira, africana e indígena na Educação Básica e no Ensino Superior são anteriores à promulgação das Leis 10639/03 e 11645/08. Do mesmo modo, a Lei 11684/08 é posterior aos diversos esforços intelectuais e políticos que buscavam garantir a filosofia como disciplina na matriz curricular permanente do Ensino Médio. Mas, sem dúvida, o levantamento bibliográfico deste artigo não encontrou muitos trabalhos versando a respeito de investigações sobre o ensino de filosofia vinculado aos conteúdos de história e cultura africana, afro-brasileira e/ou indígena. A proporção de artigos, monografias, dissertações, teses e livros que tratam dos temas separadamente é significativamente maior do que as pesquisas que fazem abordagem articuladas.

Em busca de caminhos afroperspectivistas para o pensamento filosófico, o recorte do artigo propõe a localização de uma linha filosófica que torno possível a articulação entre o ensino de filosofia e elementos das histórias e culturas afro-brasileiras e africanas. O que significa, em certa medida, realizar um construtivismo a partir de traçados, invenções e criações de devires negros. Ou ainda, partir e partilhar, o que aqui eu denomino de forças afrodiaspóricas, afro-brasileiras, afrodescendentes, isto é, afroperspectivistas. Afinal, se os autores franceses Deleuze e Guattari (1992) não deixam dúvidas, a filosofia sempre precisa de um plano de imanência, personagens conceituais, problemas e conceitos que lhe dizem respeito. “A filosofia apresenta três elementos” (1992, p.101). O que caracteriza a filosofia é traçar um plano de imanência, inventar personagens conceituais e criar conceitos. “Traçar, inventar, criar, está é a trindade filosófica” (Ibidem). No caso da filosofia afroperspectivista, os traçados, invenções e criações precisam, num sentido filosófico, ser negros. Em outros termos, vai ser necessário denegrir, escurecer, tornar o pensamento negro e reativar as forças próprias de um devir negro-africano.

A “filosofia consiste sempre em inventar conceitos” (DELEUZE, 1992, p.170) e, simultaneamente, os conceitos só existem em função de problemas específicos. Ou seja, os conceitos só podem ser avaliados “em função dos problemas aos quais eles respondem e do plano sobre o qual eles ocorrem” (DELEUZE; GUATTARI, 1992, p.40). O alvo deste trabalho é apresentar conceitos que constituem a filosofia afroperspectivista, se detendo num conceito muito importante para o pensamento negro: denegrir. Deleuze e Guattari enfatizaram que a “grandeza de uma filosofia avalia-se pela natureza dos acontecimentos aos quais seus conceitos nos convocam, ou que ela nos torna capazes de depurar em conceitos” (Idem, p.47).

Em linhas gerais, a filosofia afroperspectivista nos convoca para acontecimentos negros, acontecimentos femininos, acontecimentos infantis, acontecimentos animais; ela só pode ser entrevistada a partir desses acontecimentos e outros do mesmo “gênero”, de clivagens próximas. Portanto, cabe uma ressalva para quem lê este texto afroperspectivista: não é adequado pensar os conceitos que aqui serão apresentados fora do seu plano de imanência, de suas personagens conceituais e de seus problemas.

Para Deleuze, a consistência de uma filosofia passa pela apresentação de seus três elementos constitutivos. No caso da filosofia afroperspectivista: traçar o plano de imanência da afroperspectividade, inventar personagens conceituais melanodérmicas, retintas e criar conceitos afroperspectivistas. Em certa medida, a filosofia afroperspectivista é denominada deste modo por conta do seu plano de

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