Marx - Prova Sociologia do Conhecimento

Karl Marx vai pensar pela primeira vez, de forma sistemática, a relação entre ideologia e conhecimento em torno de 1845 e 1846 ao escrever sobre a filosofia alemã de sua época no livro Ideologia Alemã que escreve junto com Engels. Além disso, vai pensar o conhecimento a partir do contexto histórico e das relações materiais que para ele fundam a consciência dos indivíduos em cada período da história.

Marx ao estudar o conhecimento e a ideologia não se limita a desmitificar ideias equivocadas sobre a realidade, mas seu foco é entender sob quais condições essas ideias surgem. As condições para ele são dadas pela própria forma como os homens se apropriam e transformam a natureza e essa atividade só pode ser feita pelo próprio trabalho. Por tanto, o que importa para Marx é como os homens produzem a sua vida material, que relações a partir daí derivam e reproduzem essa sociabilidade e como esses mesmos homens contraem essas relações e formam suas consciências.

Marx inicia o debate sobre o conhecimento a partir da análise da filosofia alemã de sua época. Segundo ele os filósofos alemães em sua maioria, como Feuerbach e Bruno Bauer, limitavam-se as suas críticas as representações religiosas e teológicas, dessa forma achavam que modificando a forma de consciência religiosa poderiam transformar o mundo, como se o mundo fosse criado a partir da consciência. Para Marx isso era impossível, visto que para ele o mundo é uma construção da própria atividade humana, por tanto a transformação da sociedade só poderia vir dessa atividade, sendo assim, mudanças materiais, com meios reais iriam modificar o mundo e também as formas de consciência e de representação desse mundo.

Por tanto, há uma diferença para Marx entre o que ele vai chamar de Objeto Sensível e Atividade Sensível. O primeiro conceito está relacionado com a representação teórica do real, e o segundo ao próprio real. Dessa forma, Marx expõe que a análise apenas do Objeto Sensível limita o pensamento a compreender apenas o homem como uma abstração teórica sem levar em conta as condições de existência, e não somente desse homem, mas dos homens em relação social com outros homens.

As condições materiais para Marx da existência do problema do conhecimento estão na própria divisão social do trabalho, que para ele se torna de fato uma divisão do trabalho quando a sociedade passa a distinguir trabalho manual do trabalho intelectual. Daí, segundo ele, podem surgir a filosofia, a moral, a teologia e a própria ciência.

Mas a filosofia, a moral, a ciência e a cultura de forma geral são constructos sociais que para o pensamento marxiano compõem a superestrutura da sociedade. Mas essa superestrutura tem uma base nas formas como os seres humanos produzem sua vida material, a infraestrutura. Essa base produz relações sociais que ao transporem-se para a consciência do ser humano transformam-se em ideologia.

Com isso temos aqui uma outra categoria marxiana, a de ideologia, muito mais desenvolvida e aprofundada por marxistas do que pelo próprio Marx. Mas em Ideologia Alemã Marx coloca que ideologia é uma forma pela qual a consciência dos indivíduos inverte a realidade, veem essa realidade primeiramente como estranha a si próprios, como se fosse independente da atividade humana, em uma segunda etapa ela tende a naturalizar os acontecimentos como se fossem esvaziados de história e por último a ideologia tende a generalizar aquilo que é particular.

O conceito de ideologia possuí ainda outras nuances. Segunda Marx as ideologias surgem junto com as classes sociais, por tanto ela é produto da própria relação dessas classes que é sempre de forma antagônica e conflituosa. Ao passo que uma classe domina os meios de produção de uma determinada sociedade, ela passa a dominar essa mesma sociedade, no entanto ao fazer isso não domina apenas o trabalho, mas também a política e a cultura. Com isso as ideias que essa classe forma sobre a sociedade, e que são também conhecimento, tornam-se ideológicos, pois tentam justificar essas relações sociais conflituosas. Dessa forma mascarando e naturalizando a luta de classes.

Por tanto, o conhecimento produzido por uma classe torna-se o pensamento dominante na proporção em que essa classe domina economicamente a sociedade. No caso da sociedade burguesa a ideologia se diluí sobre todos os outros complexos sociais, como a cultura, o cotidiano, a religião, a política, a educação, entre outros complexos. Dessa forma, a ideologia vai compor o pensamento do senso comum.

Mas voltando ao problema conhecimento, já sabemos que ele tem uma base no contexto histórico e nas relações sociais de produção, sendo assim, a ciência não escapa dessas determinações sociais. A ciência sofre também os efeitos da ideologia. No entanto, Marx coloca critérios para estabelecer qual ciência estaria mais próxima da verdade e qual resultaria em ideologia, para isso ele se utiliza do conceito da práxis.

Com isso Marx entende que ao produzir ciência é necessário se levar em conta a relação entre particularidade e totalidade. Essas duas categorias não podem ser separadas uma da outra, pois são elementos constitutivos da sociedade, visto que para Marx só se pode entender as particularidades de um determinado fenômeno se antes entendermos a forma mais complexa desse fenômeno, aquilo que compõe seu todo. Por tanto entender um objeto é compreendê-lo na sua totalidade, com isso ele quer dizer também que o objeto só pode ser entendido no seu contexto, até porque o objeto é o próprio contexto. Para ele são as relações sociais na sua totalidade, produzidas na práxis (ou na prática social) contraídas pelos indivíduos é onde podemos encontrar os determinantes que condicionam a existência das outras esferas da sociedade, desde a educação até a produção estética na sociedade.

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