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O Santo Agostinho e o Tempo

Por:   •  25/9/2019  •  Trabalho acadêmico  •  1.119 Palavras (5 Páginas)  •  226 Visualizações

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FAMOSP – Faculdade Mozarteum de São Paulo

Manassés Salustiano Pereira Junior

Santo Agostinho e o Tempo.

São Paulo

2019

Mal conseguimos definir o que é o tempo e, ainda assim, corremos contra ele. Quantas vezes não queríamos que o dia tivesse mais do que 24 horas ou que a semana não é suficiente para executarmos todas as atividades? Sabemos, sim, que as horas parecem faltar e quando isso nos sufoca, violenta e oprime. Mas, concomitante não sabemos é que essa opressão é causada pela nossa relação com o tempo, que é uma sensação resultante da nossa impossibilidade de dar conta de tudo, que é própria de nossos tempos. Portanto, uma questão de perspectiva, ou melhor de valores. No entanto, este jogo pode ser modificado, compreendo que a solução passa pela reformulação de conceitos, tais como: o que é útil e reconhecermos a nossa finitude.

Antes de dizer que o tempo parece correr tanto é preciso pararmos e refletirmos a relação que mantemos com ele e como o concebemos e saber que já foi diferente. Por exemplo na Idade Média, o sino das igrejas controlava o ritmo de vida das pessoas, na Revolução Industrial o apito das fabricas ocuparam essa função, massa jornada começava às 08h00 e findava às 17h00. Atualmente o celular cumpre esse papel, ele não tem uma hora pré-determinada para tocar, obrigando-nos a ficar conectados 24 horas. Se pararmos para refletir, é perceptível como mudamos a finalidade de nossas vidas que antes era apenas viver, o objetivo é acumular capital e mais capital, ele se torna um fim em sim mesmo.

Desta perspectiva encontramos expressões como time is Money (tempo é dinheiro), classificamos os dias em uteis que é aquele que “produzimos” alguma coisa, sábados, domingos e feriados, ficam fora desta lógica. Quando se alcança metas e resultados somos “premiados” com um celular corporativo.

Diante desta introdução proponho convido o meu interlocutor a meditar sobre uma das mais profícuas reflexões sobre o tempo, que foi realizada por Santo Agostinho (354 – 430) e registrada no tomo XI sob o título O Homem e o Tempo, do seu livro Confissões. A proposta reflexiva é marcante ao longo história da filosofia, influenciando pensadores como Hume, Kant, Heidegger, Wittgenstein e mesmo neurocientistas como Daniel Kanehann.

Segundo ele, todos nós sabemos o que é o tempo até que alguém nos pergunte. Na obra citada acima, ele diz: “se ninguém me perguntar, eu sei; se o quiser explicar a quem me fez a pergunta eu já não sei” (AGOSTINHO, 2010, p.178).  Uma resposta de grande relevância até os nossos dias, pois a partir dela nasceu a ideia de pensamento intuitivo, mesmo que Agostinho não deu está nomenclatura, trocando em miúdos: eu sei, mas não consigo elaborar e transformar em discurso.

Ele segue problematizando a questão e se propõe a explicar que nada sabemos sobre o tempo e nem podemos saber, pois estamos imersos na temporalidade. E de acordo com Agostinho para refletirmos sobre este tema é necessário que haja certa exterioridade, o que não é possível. Desta forma, ele chega à conclusão de que só o eterno (Deus) consegue saber o que é temporal, portanto, partindo desta premissa o tempo “não é”.

        Para o pensador, o tempo não está nas coisas em si, mas uma extensão do espirito humano, também conhecido como tempo da alma, o qual abordaremos mais adiante neste texto.

Ele reflete sobre a nossa divisão do tempo, isto é, a noção de passado presente e futuro e diz:

Mas quem pode medir o tempo passado, que agora não existe, ou o tempo futuro, o que ainda não existe, se não tiver a coragem de dizer que pode medir o que não existe? Portanto, pode-se perceber à medir o tempo que está no passado, mas se já é passado não se pode medir, porque não existe (IBDEM, p.178).

E diante disso ele compreendeu que o passado não é, porque ele já foi e o que existe é a memória do passado. O mesmo afirma em relação ao futuro, pois ele ainda não é, o que há é a expectativa do futuro, enquanto que o presente é um constante esvair, pois quando proferimos: “agora é” no fim do enunciado o agora já se foi e se transformou no passado.

É impróprio afirmar que os tempos são três: pretérito, presente e futuro. Mas talvez fosse próprio dizer que os tempos são três: presente das coisas passadas, presente das presentes, presente das futuras. Existem, pois, estes três tempos na minha mente que não vejo em outra parte: lembrança presente das coisas passadas, visão presente das coisas presentes e esperança presente das coisas futuras. (IBDEM,p.184).

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