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O argumento ontológico e suas críticas

Por:   •  26/8/2017  •  Trabalho acadêmico  •  1.223 Palavras (5 Páginas)  •  614 Visualizações

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Das críticas de Kant, Gaunilo e Tomás de Aquino ao argumento ontológico de Anselmo de Aosta

 

A crítica de Kant

É preciso que entendamos, inicialmente, que, para Kant, é impossível uma prova ontológica porque ele nega o conhecimento a priori de toda e qualquer existência. Segundo o idealismo kantiano, a existência é uma condição de possibilidade para uma coisa ter propriedades, ou seja, para se predicar algo, e não um predicado ou um atributo entre outros que conceituam uma coisa: não é possível instituir propriedades a coisas não existentes. Deste modo, podemos compreender a crítica de Kant à segunda premissa do argumento em sua primeira formulação: “existir na realidade é maior do que existir apenas na mente” e à terceira premissa na segunda formulação do argumento: “a existência é logicamente necessária ao conceito de um ser necessário”. O ser de algo não está necessariamente ligado à sua existência na realidade segundo Kant. Ademais, se a existência não pode ser considerada um predicado, logo, não pode fazer parte dos predicados que definem o conceito de Deus. Portanto, se digo que Deus existe não adiciono nenhum outro predicativo ao conceito de Deus e muito menos posso afirmar que algo é, incluindo Deus, melhor por existir. Isto é, não se pode pensar que algo é melhor que outro porque existe, por exemplo, que um ser bondoso existente é melhor ou maior que um ser bondoso inexistente.

Há, conforme Kant, duas acepções de ser: uma não relacional – a posição absoluta de uma coisa, que corresponde à noção de existência – e outra relacional – a posição relativa de uma coisa como predicado ou atributo de um sujeito. A diferença entre essas duas acepções, que se dá em relação a existência e a relação lógica de um juízo, é uma das causas para Kant ter invalidado o argumento ontológico de Anselmo, chamando-o ilícito, pois afirma que ele não soube fazer tal distinção. Sendo assim, podemos resumir a crítica de Kant em alguns pontos: “a não cognoscibilidade a priori da existência; a não predicabilidade da existência a partir de um conceito possível; a equivocidade da noção comum de ser”.

Gaunilo:

A crítica de Gaunilo a Anselmo, em defesa do insipiente, se dá contra a premissa em que é afirmado: “existir na realidade é maior do que existir apenas na mente”. Esta crítica pode também ser considerada, em um dos argumentos lógicos, como reductio ad absurdum porque Gaunilo refuta o argumento de Anselmo aplicando-o em uma situação absurda, substituindo Deus, como “o ser acerca do qual não se pode pensar nada maior”, por uma ilha, a ilha cuja excelência não se pode pensar em nenhuma outra:

  1. É possível imaginar uma ilha x, que é melhor do que qualquer outra que possa ser pensada;
  2. Essa ilha existe no entendimento;
  3. Algo que exista tanto na mente quanto na realidade é melhor que algo que exista apenas na mente;
  4. Se tal ilha não existe na realidade, podemos pensar alguma outra ilha que seja ainda melhor que a melhor ilha;
  5. Porém, não podemos imaginar ilha melhor do que a melhor e mais excelente ilha;
  6. Portanto, tal ilha deve existir na realidade.

Como é possível compreender, a crítica de Gaunilo está no fato de que por simplesmente definirmos algo como maior e melhor do que qualquer outra coisa que possa ser pensada não significa que tal coisa exista fora da mente. O problema da refutação de Gaunilo, entretanto, está na sua primeira premissa: na impossibilidade de se conceber uma ilha perfeita e melhor que qualquer outras. Ou seja, o que a faz ser melhor que as outras sempre poderá ser pensado de modo que a faça melhor e mais excelente ainda. O mesmo não pode ser aplicado a Deus, visto que os predicativos que lhe são instituídos são características inultrapassáveis, por exemplo: onipotente, enquanto possuidor de um poder tal que não possa ser nem alcançado nem, muito menos, superado.

Tomás de Aquino:

        A crítica de Tomás de Aquino a Anselmo não se dá diretamente ao conceito de Deus, haja vista Tomás também acreditar ser Deus o “ser acerca do qual não se pode pensar nada maior”, mas à ideia de Anselmo de que todos, incluindo os insipientes, teriam o mesmo conceito sobre Deus. Aquino também critica a tentativa de provar a existência de Deus usando um argumento a priori, ou seja, a partir da ideia, afirmando que o argumento acerca da existência de Deus deve ser dado, adversamente, a posteriori tendo em vista que a ideia que se tem das coisas contingentes não se dá na mesma medida que a essência de Deus. Ademais, afirma que não é pelo simples fato da razão pensar algo existente fora da mente que isso há de existir: o homem pensar Deus como real e existente e, por isso, inferir que Ele realmente exista é confundir a ordem do ser e do pensar, é saltar da ordem lógica à ordem ontológica. Para Tomás, o termo “Deus” não remonta à sua existência, porque se o fizesse não haveria necessidade de demonstração alguma, todavia, mesmo sendo a existência de Deus evidente por si mesma – sendo o verbo existir inerente a Deus –, não o é para todos os homens.

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