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Os Desafios Do Multiculturalismo

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Por:   •  9/12/2014  •  946 Palavras (4 Páginas)  •  467 Visualizações

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Desafios ao multiculturalismo:

o lugar da identidade no contexto global

Destacamos na introdução o caráter contencioso das demandas e práticas multiculturais e procuramos argumentar que um dos elementos importantes desta contestabilidade reside na dinâmica complexa dos vínculos entre identidade e globalização. Se as energias iniciais para as demandas multiculturais podem remontar às lutas pelos direitos civis e aos desdobramentos dos movimentos estudantis no final da década de 60, então seria preciso admitir que a emergência da identidade como preocupação, como reação ou como projeto já estava implicada num movimento de proporções internacionais. Durante os anos 80 e 90, as demandas multiculturais tornaram-se decididamente globais em sua extensão e disseminação.

Esta disseminação, entretanto, nem ofusca, nem diminui o potencial polêmico do multiculturalismo. Assim como o terreno da globalização é disputado, também o é o das identidades coletivas passíveis de constar na lista dos atores “legítimos” do multiculturalismo. Mais do que uma emergência pura e simples, tomando a forma de diferenças cuja positividade seria indisputável, as identidades reivindicadoras de práticas multiculturais estão simultaneamente em processo de construção e em disputa pelo reconhecimento dos agravos e cenários onde sua postulação cobra ares de objetividade incontestável. O fato, porém, de que não podemos simplesmente escolher quais manifestações identitárias – por nos parecerem mais aceitáveis ou progressistas – poderiam fazer parte da “lista”, o fato de que há identidades reativas, intolerantes e fechadas em si mesmas, nos adverte para alguns desafios que, postos a estas identidades, estendem-se também às chamadas “novas identidades” e, a fortiori, ao multiculturalismo.

Concluiríamos, então, ressaltando, de forma puramente evocativa, alguns desafios que o contexto da globalização coloca à experiência da identidade – pessoal e coletiva – e às políticas multiculturais que se põem em sua defesa.

Em primeiro lugar, o desafio da abertura. Tradicionalmente, a idéia de identidade foi associada a um “seu-próprio” que não se dividia com outros, que se pretendia proteger dos outros e que determinava uma uniformidade interna entre os “portadores” de tais atributos. Além disso, a identidade se revestia de uma atemporalidade que escondia tanto a história de seu desenvolvimento como a existência de outras possibilidades de sua expressão que foram preteridas ou derrotadas ao longo desta história. O cenário da globalização, ao alterar os processos tradicionais de produção e reprodução da identidade, confronta-a com sua própria historicidade – e, portanto, com a possibilidade de ser diferente de si mesma, heterogênea consigo mesma – e com a relação ao outro – e, portanto, com a necessidade de reconhecer dentro de si a presença (ausente) de outros sujeitos e de negociar com eles suas demandas e valores.

Em segundo lugar, o desafio da reflexividade. A “ameaça” de invasão, destruição ou subordinação que a inserção nos fluxos globais representa para as identidades localistas, ou a resposta ao desafio da abertura, têm cobrado que a identidade trabalhe sobre si mesma. Recomponha-se, investigue-se, critique a si mesma e elabore estratégias para sua atuação e suas relações com outras. A avaliação permanente das suas condições de existência e de suas chances de melhora relativa no espaço social, político, econômico e cultural impõe um permanente retorno sobre si mesma que, embora não signifique a possibilidade de compensar a perda da estabilidade, a aura atemporal e a falsa homogeneidade que geralmente as experiências identitárias cultivam, torna-se um elemento habilitador nas relações com outras identidades.

Em terceiro lugar, o desafio da política. Embora muito se fale sobre a decadência ou a retração da política no contexto contemporâneo, a leitura

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