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A Totalidade Do Diabo - Por Milton Santos

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Por:   •  3/12/2014  •  4.089 Palavras (17 Páginas)  •  1.327 Visualizações

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O CONCEITO DE LUGAR NA GEOGRAFIA

CULTURAL-HUMANISTA: UMA

CONTRIBUIÇÃO PARA A GEOGRAFIA

CONTEMPORANEA

WERTHER HOLZER*

Universidade Federal Fluminense

"Lugar", conceito espacial que durante longo tempo foi utilizado pelos geógrafos

para expressar o sentido locacional de um determinado sítio. Devido a esta definiçiio

foi relegado a um plano secundário em relação a outros conceitos espaciais como

paisagem, espaço, e território. Hoje, no entanto, "lugar" é considerado conceito fundamental

no estudo da geografia. Já debati sobre esta mudança de perspectiva

conceitual em outro texto (HOLZER, 1999). Aqui procurarei relacionar o conceito

de "lugar" com a investigação que determinado coletivo dedicado à ciência geográfica

fez dos conteúdos teóricos e métodos preconizados pela fenomenologia, me

deterei na contribuição fundamental de um único autor: Tuan.

Esta investigação iniciou-se na década de 20 tomando-se mais dinâmica na década

de 60. Considerada esta trajetória, é preciso refletir sobre o modo como este

aporte teórico conceitual vem sendo incorporado pelos geógrafos. Ao falarmos de

fenomenologia na geografia devemos nos reportar à obra de Carl Sauer, que já em

1925 se referia à fenomenologia em artigo intitulado "A Morfologia da Paisagem"

(1998 [1925]). Neste artigo, dedicado às questões teóricas mais palpitantes para a

* Professor d o ~epanarnentod e Arquitetura da UFF

GEOgraplria -Ano V - No 10 - 2003 Werther Holzer

geografia naquele momento, o autor inicia procurando delimitar o "campo da geografia",

e começa a fazê-lo apoiado na "visão fenomenológica da ciência".

Segundo o aporte bibliográfico escolhido pelo autor, uma abordagem científica

fenomenológica exige a determinação inicial dos limites e qualidades de um fato

que só podem ser compreendidos quando observados em suas relações. As ciências

se constituiriam enquanto seções ingênuas (naive) da realidade. Ingênuas porque o

agrupamento dos grandes campos do conhecimento se dá a partir da experiência

humana e não pela pesquisa do especialista. No conjunto destes grandes campos do

conhecimento a geografia estaria envolvida, a partir de uma "realidade ingenuamente

perceptível", com o estudo da área ou paisagem, constituída pelos fatos do lugar.

(SAUER, 1998 [1925], 13-15).

Esta reflexão teórica iria se sofisticando ao longo das décadas seguintes na medida

em que a "Geografia Cultural", enquanto produto acadêmico desta reflexão, se

tomava a disciplina mais lecionada nos cursos de geografia norte-americanos e a

que mais gerava pesquisas de campo. Neste contexto não se discutia mais o aporte

teórico, mas manteve-se seus fundamentos de se observar o fator em suas relações

(espaço vivido) e de se considerar que a geografia estava "além da ciência", isto é,

que extrapolava os métodos de pesquisa científica impostos pelo positivismo, idéia

que Sauer já enunciara neste primeiro artigo (SAUER, 1998 [1925], 61), e na qual

insistiria até o fim da vida (SAUER, 1981 [1967], 244).

Outro autor que não pode ser ignorado é Eric Dardel que produziu uma obra em

que a fenomenologia existencialista é o suporte teórico. Ele não aceitava que a geografia

fosse vista como uma disciplina científica nos moldes positivistas. Para ele a

geografia se refere à inserção do homem-no-mundo, de modo que não pode lidar

apenas com aspectos objetivos ligados a um espaço geometrizado. Ela pressupõe um

campo de estudos próprio que se refere à existência humana na Terra, a partir de um

objeto fenomenologicamente determinado: o "espaço geográfico", que tem como

elemento essencial a "geograficidade", definida como uma "geografia vivida em

ato" a partir da exploração do mundo e das ligações de cada homem com sua terra

natal. (DARDEL, 1990 [1952], 2).

O livro de Dardel seria praticamente esquecido. Redescoberto por Relph, que o

cita em sua tese The Phenomenon of Place de 1973, ajudaria a despertar a curiosidade

sobre a fenomenologia numa jovem geração de geógrafos ligados à Geografia

Cultural. Esta geração via os campos de pesquisa tradicionais da disciplina se esgotarem,

ou perderem a hegemonia para a "geografia quantitativa", como está muito 4

bem enunciado por Mikesell(1978). Deste modo incitados primeiramente por Relph

(1970), e posteriormente por Tuan (197 1 b), passam a procurar na fenomenologia

procedimentos úteis para a "descrição do mundo cotidiano".

Relph valorizava na fenomenologia a descrição das essências das estruturas

temáticas,

...

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