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A VIDA CONTEPORANEA E SEUS DESVIOS

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Por:   •  23/4/2014  •  2.211 Palavras (9 Páginas)  •  317 Visualizações

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A VIDA CONTEPORANEA E SEUS DESVIOS

O fato de a humanidade ter acrescentado 29 anos a sua expectativa de vida é a maior conquista do século XX e o

grande desafio do século XXI"

Oscar Cabral

Para o médico gerontologista Alexandre Kalache, o rápido envelhecimento da população mundial, tendência que costuma alarmar os especialistas no assunto, deve ser motivo de comemoração. Segundo ele, esse novo quadro demográfico vai obrigar os países a transformar os idosos de fardos para a economia em pessoas integradas à sociedade produtiva. Kalache coordena desde 1995, em Genebra, na Suíça, o Programa de Envelhecimento e Curso de Vida, da Organização Mundial de Saúde, que estabelece políticas públicas globais para a terceira idade. Segundo o médico, as sociedades terão de se preparar em várias frentes para um mundo que, em 2050, terá o mesmo número de idosos e de jovens. A instituição da aposentadoria, por exemplo, deverá ser totalmente revista. "A tendência é que, em vez de se aposentar de um dia para o outro, a pessoa reduza a carga horária devagar, com o passar dos anos. Esse procedimento é o ideal porque mantém o cidadão integrado à sociedade", opina Kalache. Na semana passada, o médico, que é carioca, esteve no Rio de Janeiro para participar do Congresso Internacional de Gerontologia. Ele deu a seguinte entrevista a VEJA.

Veja – A média da expectativa de vida no mundo, que era de 50 anos em 1900, pulou para 79 anos em 2000. A sociedade está preparada para abrigar tantos idosos?

Kalache – O fato de a humanidade ter acrescentado 29 anos a sua expectativa de vida é a maior conquista do século XX e o grande desafio do século XXI. Em muitos países, mesmo na Europa, ainda persiste a mentalidade de que a população é predominantemente jovem. O sistema de saúde e a infra-estrutura urbana não levam em consideração o aumento acelerado de pessoas na terceira idade. Na França, um país rico, idosos morreram aos milhares durante a onda de calor de 2003. Em 2050 o número de idosos no mundo vai ser equivalente ao de jovens, e é preciso que as sociedades se preparem para essa mudança. O idoso de 2050 não é uma abstração, ele é o jovem de hoje. A geração que atualmente está próxima da aposentadoria, os chamados baby boomers, nascidos depois da II Guerra, talvez mude a forma como entendemos o envelhecimento.

Veja – De que maneira isso pode acontecer?

Kalache – Essa geração, nascida entre 1950 e 1964, criou o conceito de adolescência como o conhecemos hoje, uma fase com seus próprios problemas e demandas. Ela promoveu uma revolução sexual e de costumes. Agora, está redefinindo as expectativas pessoais e profissionais da vida adulta. Essa geração vai nos ensinar que envelhecer participando da sociedade é mais importante do que envelhecer com saúde. Seus integrantes têm um padrão educacional muito mais alto do que seus pais e avós. Vão envelhecer exigindo ter voz ativa e serão muito mais exigentes com seus médicos e familiares. Serão também grandes consumidores. O mercado de turismo já tem muitas agências especializadas nesse setor. Há carros sendo projetados especialmente para essa geração, com portas mais largas, poltronas que se elevam para que o motorista entre com mais facilidade e pára-brisa maior. Por causa dos baby boomers, o design do século XXI vai ser simplificado.

Veja – As famílias estão ficando menores e a diferença de idade entre as gerações está aumentando. Esse distanciamento pode provocar conflitos na convivência doméstica?

Kalache – O risco de conflitos não tende a aumentar porque o avô e a avó sempre exercem um papel conciliador. O mesmo vale no ambiente profissional. Uma grande rede de supermercados da Inglaterra tem como política contratar pessoas com mais de 60 anos para fazer pequenos trabalhos. A administração chegou à conclusão de que a presença do idoso no ambiente profissional faz com que os conflitos entre chefes e empregados diminuam. O mais velho é aquele que conversa com o chefe, dá algumas sugestões ponderadas e acalma o ambiente. O mesmo pode acontecer na família, desde que os membros mais idosos não participem dela apenas por falta de opção.

Veja – Como será possível sustentar cada vez mais idosos aposentados sem que o sistema previdenciário dos países entre em colapso?

Kalache – Para pagar a conta dos aposentados, a solução é manter as pessoas trabalhando por mais tempo. A previdência social, no mundo todo, está numa encruzilhada. O risco é acontecer em muitos países o que acontece no Brasil, em que se tem um sistema fantástico só para a elite e quase nada para a maioria da população.

Veja – Isso significaria rever a instituição da aposentadoria?

Kalache – Exatamente. A idade média em que as pessoas se aposentam vinha caindo de forma alarmante, mas hoje há uma reversão nesse quadro. Em 1995, nos países-membros da União Européia, 30% dos trabalhadores tinham mais de 50 anos. Esse número deve aumentar para 48% em 2030. A tendência é que, em vez de se aposentar de um dia para o outro, a pessoa reduza a carga horária devagar, com o passar dos anos, e faça trabalhos que não dependam da força física. Esse procedimento é o ideal, porque mantém o cidadão integrado à sociedade.

Veja – Mesmo que queiram continuar produtivos, os idosos têm pouco espaço no mercado de trabalho. É possível aproveitar melhor a experiência deles?

Kalache – A integração do idoso à sociedade pode acontecer de outras formas. Não é de hoje que a economia de mais de 3.000 municípios do Brasil gravita em torno daquele dinheirinho da pensão. O valor da pensão parece uma miséria, mas é fundamental, movimenta o comércio e gera crédito para toda a família. Na África, é a mulher idosa que cuida dos filhos e dos netos vítimas de aids. Na Espanha, segundo uma pesquisa recente, as mulheres entre 75 e 84 anos que têm doentes em casa dedicam em média cinco horas e meia por dia para cuidar deles. Se essas mulheres idosas fizessem greve, o sistema de saúde entraria em colapso.

Veja – Os problemas de saúde enfrentados pelos idosos são diferentes nos países desenvolvidos e nos países em desenvolvimento?

Kalache – Não. As causas de mortalidade do idoso são as mesmas na África ou na Noruega. Nos países em desenvolvimento, depois que se escapa da morte prematura na infância, a expectativa de vida passa a ser muito próxima à dos

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