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AS RELAÇÕES SOCIAIS DA EDUCAÇÃO

Por:   •  12/6/2016  •  Resenha  •  3.705 Palavras (15 Páginas)  •  431 Visualizações

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RESUMO CAPÍTULO 6: AS RELAÇÕES SOCIAIS DA EDUCAÇÃO,

1: A DOMESTICAÇÃO DO TRABALHO

A autoridade e a hierarquia não são exclusivas das empresas capitalistas, elas podem ser encontradas também na economia familiar de subsistência, na fazenda escravista, na oficina medieval ou na empresa “socialista real’. Diferenças como estas marcam a necessidade de processos de socialização distintos. A autoridade do cabeça de família na unidade econômica autossuficiente não é a mesma que a do empresário sobre seus trabalhadores: a primeira é paternalista, a segunda burocrática A socialização familiar podia ser adequada e suficiente para preparar o camponês para a aceitação das relações de dependência pessoal e de serviços mútuos com o senhor feudal, mas não o seria para a inserção na organização impessoal e regulamentada da empresa moderna. É aí, justamente, onde intervém a escola.

O modo de produção capitalista tem sido a forma específica da industrialização no Ocidente. As relações sociais que implica dependem, na verdade, do fato de ser um capitalismo industrial, isto é, tanto de ser industrial quanto de ser capitalista. De forma análoga, a industrialização permitiu ao capitalismo desenvolver sua lógica a um ponto que nunca teria sido possível sob suas formas comercial ou financeira.

As conclusões que aqui extraímos sobre a conexão entre as relações sociais da educação e as relações sociais de produção capitalistas apenas de forma limitada são generalizáveis ás relações sociais de produção sobre outras formas de industrialização não capitalistas.

Ordem, autoridade e submissão

Uma das características importantes, se não a mais, que as escolas têm em comum é a obsessão pela manutenção da ordem. Basta recordarmos nossa própria experiência como aluno ou professor, ou visitar uma sala de aula, para evocar ou presenciar um rosário de ordens individuais e coletivas para não fazer ruído, não falar, prestar atenção, não movimentar-se de um lugar para outro. A maioria dos professores, para não dizer a totalidade pensam que é a condição imprescindível de uma instrução eficaz. O que confere sua dimensão característica ao problema da ordem nas escolas é que não se trata de instituições voluntárias.

O problema da ordem, quando não é livremente desejada ou consentida, converte-se de imediato no problema da autoridade e da submissão à mesma. Muitos professores não veem nisso um problema, pois consideram que aceitar a autoridade é parte da transição a vida adulta, que é necessário para uma presença não conflitiva e uma atividade eficaz em contextos adultos.

Os alunos veem-se assim inseridos dentro de relações de autoridade e hierarquia, tal como deverão fazê-Io quando se incorporarem ao trabalho. A submissão a autoridade aprendida no seio da família não constitui uma base preparatória suficiente para a aceitação da autoridade no local de trabalho.

Como escreveu Richard Sennet:

O que sabe uma criança acerca da proteção de seu pai não é o mesmo que o que aprenderá um adulto jovem acerca de um chefe. O trabalho não é uma extensão natural da família. (...) Na melhor das hipóteses, quando cada ser humano sai da família em que nasceu, esse ser humano vê essas relações refletidas no trabalho ou na política como em um espelho deformante (Sennett, 1980: 59).

As grandes manifestações de autoridade apresentam sempre, para que a exerce, o risco de provocar grandes resistências; mas as pequenas fazem com que o risco de resisti-las não valha a pena para quem as sofre .Subsidiário, mas não carente de importância, é o efeito que a submissão permanente a autoridade produz sobre a imagem de si mesmo e a autoestima dos alunos. O exercício constante da autoridade sobre eles é uma forma de fazer-lhes saber e recordar-lhes que não podem tomar decisões por si mesmos, que não se pode depositar confiança neles, que devem estar sob tutela.

Um feito que se ajustam as mil maravilhas com o que já reivindicavam fortemente os patrões na primeira metade do século XIX:

O homem que, de qualquer lugar que venha, queira converter-se em um bom operário deve começar por desfazer-se da ideia exagerada de seu próprio mérito (Charlot e Figeat, 1985: 90).

A ordem e a autoridade nas salas de aula, como opostos a livre criatividade - e não, como às vezes se pensa a violência, aos distúrbios ou ao simples ócio - é o derivado necessário do ensino simultâneo. Elimine-se esta forma de ensino e tornar-se-á automaticamente prescindível o manejo dos alunos ao estilo de um pelotão militar.

Pois bem, o ensino simultâneo está para a autodidaxia como o trabalho assalariado está para a produção de subsistência ou para o trabalho autônomo, e está para a livre aprendizagem comum como urna empresa capitalista está para urna cooperativa ou para urna empresa autogestionada.

Burocracia e impessoalidade

A autoridade, ao menos tal como a tratamos na seção anterior, é apenas uma dimensão pessoal da organização. .Uma das características que separam o mundo do trabalho, ao qual a escola serve, da família, no que tange a seu publico, e a que opõe as relações pessoais e íntimas desta as relações impessoais, formais e burocráticas daquele.

Que tem a escola, no que concerne a normas e valores, que não pode ter a família? Que, nela, crianças e jovens são agrupados de acordo com umas poucas características e tratados de forma teoricamente uniforme sem a interferência de considerações individuais nem, muito menos, afetivas.

A relação pessoal com o pai, a mãe ou outros adultos da família é substituída na escola pela relação com o professor, mas uma relação na qual o aluno é considerado apenas enquanto parte de um grupo, coletivo ou categoria. Como escrevia um crítico das escolas secundárias na segunda metade do século passado:

(...) é o que se deve esperar inevitavelmente da escolarização em massa. Para manejar com êxito urna centena de crianças, ou mesmo a metade deste número, o professor deve reduzi-Ias tanto quanto seja possível a uma unidade (citado por Tyack, 1974: 54).

Mas o que compromete a impessoalidade e o tratamento como parte de um coletivo não é o número em si, mas uma organização socialmente determinada das escolas e da educação. O trabalho do professor passa assim a consistir, sobretudo, e contrariamente a qualquer ideia platônica a respeito, em ensinar crianças e jovens a comportar-se da forma que corresponde ao coletivo ou categoria em que foram incluídos, exigindo

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