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Globalização Perversa E Políticas Econômicas Nacionais: Um Contraponto às Visões Correntes Em Certos Meios

Trabalho Universitário: Globalização Perversa E Políticas Econômicas Nacionais: Um Contraponto às Visões Correntes Em Certos Meios. Pesquise 860.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  8/9/2014  •  3.143 Palavras (13 Páginas)  •  322 Visualizações

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Globalização perversa e políticas econômicas nacionais: um contraponto às visões correntes em certos meios

Freqüentemente somos confrontados, na imprensa diária ou em revistas de opinião, com artigos de orientação crítica ao processo de globalização, com argumentos não muito diferentes daqueles que são repetidos, ao ponto de fastídio, nos conclaves de antiglobalizadores. O mesmo ponto de vista crítico se encontra também nos próprios discursos das autoridades, que retomam argumentos de igual teor contra a “globalização assimétrica”. Pessoalmente, considero que esse tipo de “embate” intelectual está de antemão condenado ao fracasso ou à inocuidade, uma vez que não parece haver no mundo força humana ou social que consiga canalizar a globalização para uma trajetória “bem comportada”, digamos assim. Isso se dá pela simples razão de que não existe ninguém no comando do processo, pelo menos não como força politicamente organizada, ainda que muitos acreditem que seus promotores e “condutores” se reunam todo ano em Davos.

Como tenho deparado com uma incidência usualmente maior de artigos que postulam o caráter intrinsecamente perverso da globalização e como seus autores prometem “resolver”, ou pelo menos “melhorar”, os problemas do Brasil no tratamento do “problema, resolvi condensar alguns contra-argumentos às afirmações que tenho encontrado na imprensa. Não tenho a mínima intenção de fazer a “defesa” da globalização, tanto porque seria sumamente ridículo pretender adotar qualquer postura pessoal em relação a esse processo, que independe, como disse, da vontade dos homens, dos partidos, dos capitalistas organizados ou mesmo dos Estados nacionais. Minha intenção é tão somente coletar algumas alegações que tenho encontrado na imprensa e agregar minhas próprias observações críticas a elas.

Cada uma das seções seguintes conterá uma afirmação que pode ser apresentada como um exemplo típico dos argumentos condenatórios da globalização perversa, ou “assimétrica”, após o que aduzirei meus próprios comentários.

1. O Brasil cede espaços na lógica perversa da economia global, porque resolveu adotar, nos anos 1990, uma abertura econômica exagerada e uma liberalização comercial sem barganha, perdendo uma oportunidade de uma inserção benévola na globalização.

PRA: Os fenômenos de inserção econômica global convivem mal com qualificativos ou adjetivos, uma vez que os processos de integração à economia mundial não são pré-determinados, para que deles possamos decidir, ex-ante, que deles aceitaremos apenas aspectos favoráveis, rejeitando os menos risonhos, mormente quando se trata da globalização, que não é comandada por nenhuma força identificável em particular. Países decidem estabelecer medidas de política econômica que são mais ou menos abertas a influxos externos por decisões conscientes de suas autoridades e estima-se que, a menos que sejam particularmente estúpidas ou perversas, tenham elas feito um cálculo de custo-benefício da abertura econômica e concluído que o exercício era importante para o país.

Da mesma forma, não há nenhuma lógica “perversa” – ou “benéfica”, que seja – na economia global, pela simples razão que essa economia global, supondo-se que funcione da mesma forma que sistemas complexos, não obedece a critérios de utilidade racional, unitários ou comandados a partir de um centro. Ninguém está no comando da globalização, ponto. Isso precisaria ficar muito claro aos favoráveis e aos opositores da globalização, que pedem seja uma globalização não-assimétrica, seja um outro mundo possível. Tudo isso é absolutamente inócuo.

Muitos analistas, sobretudo os identificados com as “teses” do Fórum Social Mundial, têm a tendência a ver apenas aspectos desfavoráveis na globalização. Acredito que um chinês, retirado de sua aldeia miserável do interior do país para um salário razoável em Xangai, poderia ter uma opinião claramente distinta da economia mundial e de suas oportunidades “positivas”.

Não creio, pessoalmente, que o Brasil tenha perdido oportunidades ao se abrir nos anos 1990, uma vez que ele seguiu uma tendência geral à qual ele antes era contrário. Não resta dúvida que, em virtude de suas políticas setoriais – comercial e industrial – o Brasil era classificado, nos anos anteriores, como protecionista. Assim como não deveria haver dúvidas a respeito dos efeitos globalmente positivos da globalização: os países que nela se inseriram com intensidade (e sem qualquer adjetivo), dela retiraram benefícios, como provam os casos da China e da Índia. Qualquer que seja o julgamento que se possa fazer sobre a qualidade das políticas econômicas nacionais desses dois países, o fato é que nenhum benefício delas adviria se eles não tivessem conduzido processos de abertura aos investimentos estrangeiros e ao comércio internacional.

2. Mesmo se a abertura econômica do Brasil foi necessária, ela pode ser considerada açodada, uma vez que veio sem o “escudo protetor” de um “projeto estratégico”. Este poderia diminuir os riscos inerentes à abertura e capturar algumas vantagens econômicas da fragmentação das cadeias produtivas globais, como ocorreu nos casos da China, da Índia, da Coréia do Sul e do Chile.

PRA: “Açodada” não é bem o termo para um país que faz um reforma tarifária modesta (entre 1990 e 1993), que depois de concluída viu tarifas serem continuamente reescalonadas para o alto, em todas as demais oportunidades anteriores (e ainda agora, com a tentativa de elevar as alíquotas incidentes sobre têxteis, calçados e móveis), e que ainda mantém uma média e picos tarifários superiores – para automóveis, por exemplo – aos da maior parte dos países emergentes (com algumas exceções pontuais que mereceriam qualificação).

“Projeto estratégico” é geralmente uma ilusão conceitual, pois ele raramente existe em circunstâncias normais, sendo mais um conceito ex-post para “explicar” o que deu certo. Se não deu certo, vai para a lata do lixo da história e ninguém mais fala do conjunto de políticas exercidas naquele momento ex-ante. Todos os países possuem políticas e práticas, algumas mais exitosas do que outras, em função de variáveis que devem ser explicadas caso a caso, e não como o resultado de algum desenvolvimento teleológico que já estava pré-determinado em sua origem.

A única coisa que podemos afirmar dos “projetos estratégicos” dos países citados é que eles estavam dispostos a aproveitar as oportunidades oferecidas pela economia

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