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Resenha de “O SERTÃO: UM “OUTRO” GEOGRÁFICO”, DE ANTONIO CARLOS ROBERT DE MORAES

Por:   •  1/11/2019  •  Resenha  •  1.091 Palavras (5 Páginas)  •  407 Visualizações

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Universidade Federal Fluminense

Instituto de História

Disciplina: História dos Movimentos Sociais no Nordeste

Professor: Darlan Reis Jr.

PRIMEIRA AVALIAÇÃO

MARLON BOTELHO CARDOZO

Niterói

2019


  1. APRESENTANDO AS IDEIAS CENTRAIS DO TEXTO “O SERTÃO: UM “OUTRO” GEOGRÁFICO”, DE ANTONIO CARLOS ROBERT DE MORAES

No texto “O Sertão: um “outro” geográfico”, Robert de Moraes organiza o texto por espécies de aforismos – dezenove, pra ser preciso -, em que discute a noção de Sertão, e questiona o fundamento dessa noção quando manejada pela geografia e também pelas narrativas do Estado e de certos segmentos sociais no decorrer da história do Brasil.

Para iniciar, o autor afirma que o sertão não é um tipo empírico de espaço, do ponto de vista clássico da geografia. Ou seja, não seriam as características do meio natural que lhe definiriam a priori, embora o meio natural seja característica central, impondo um ritmo às pessoas que vivem no sertão. Ainda assim, também não seria pelo fator da intervenção humana na paisagem que o sertão se definiria. Muito mais até seria pela relativa ausência desta intervenção humana como um todo. Robert de Moraes afirma que embora a geografia clássica tenha se ocupado em tentar descrever o sertão, a caracterização geográfica precisa é relativamente impossível. O sertão possuiria status distinto das noções usuais de “habitat”, “ambiente”, “território” ou “região”. Por ter uma definição que não se restringe à sua materialidade física, seria possível dizer, como disse João Guimarães Rosa, que “o sertão está em toda parte”.

O sertão seria então, por assim dizer, mais que um lugar: seria uma atribuição conferida a diferenciados lugares, um “símbolo imposto”, uma “ideologia geográfica”, uma “apropriação simbólica de um determinado lugar”. O que haveria de comum nesse lugares denominados de sertanejos seria então constituído por um imaginário de sertão formado sobre estes, além de uma intencionalidade intrínseca de ocupá-lo e valorizá-lo de alguma forma. O autor diz que a noção de sertão geralmente foi mobilizada no contexto de um “processo de hegemonização de políticas e práticas territoriais de Estado ou de segmentos da sociedade”. Desse traço segue-se que o sertão acaba sendo espaço para novas ondas colonizadoras, acabou sendo um espaço que oferece novos lugares a serem ocupados. Eis o sertão como espaço em expansão, ou melhor, como “objeto de um movimento expansionista”. Logo, a noção é usada para áreas “de soberania incerta, imprecisa, ou meramente formal”, ou seja, para os fundos do território nacional que em cada época planejou-se ocupar, e dominar politicamente.

O sertão, por conseguinte, só poderia ser definido através de um antípoda (a colonização é geralmente essa figura, falando de modo amplo, assim como a modernidade), em contraposição a um espaço que lhe define pela ausência, como a região costeira, na maioria dos casos, ou as localidades urbanizadas, por exemplo. Visto que o sertão está sempre sendo definido por um não-sertão, conclui-se que essa definição tem origem em olhares externos ao mesmo. Tem origem em uma “sensibilidade estrangeira”, sempre fazendo atribuições que ao mesmo tempo visam sua transformação, ainda quando são atribuições positivas. Estas, no entanto, reiteram seus “potenciais adormecidos”, como no exemplo que o autor dá referente aos intelectuais estado-novistas, que realizaram um relativo elogio à autenticidade e originalidade dos modos de vida sertanejos, associando tais fatores ao desenvolvimento da nação, o que resultaria, como é de se esperar, numa incorporação da terra e de suas riquezas ao projeto de país que tais intelectuais se comprometiam.

A noção de sertão seria constituída por uma dinâmica que já visa sua transformação, reiterando o que já foi dito aqui. Como por exemplo, quando muito se disse sobre o amplo “desconhecimento” relativo ao sertão, que vinha sempre acompanhado de propostas de conhecê-lo e de explorá-lo. Conhecer e explorar o sertão para que ele deixe de sê-lo, em suma.

Uma das imagens mais utilizadas nesse imaginário sobre o sertão é o do mesmo ser isolado e distante, porém o autor lembra que não se deve esquecer que esses conceitos referenciais-espaciais são relativos, e dizem mais sobre quem os maneja do que sobre o espaço rotulado pelos mesmos. O autor lembra como mesmo as terras para além da Serra do Mar, mais adentro do país que o litoral caiçara dos estados de RJ e SP, eram considerados sertão (o que atualmente provavelmente não é mais). Ou seja, a qualificação de um lugar como “longe” ou “distante” está mais relacionado a uma grande distância dos circuitos cotidianos de trânsito daqueles que manejam esses referenciais do que a uma grande distância a priori. O que os “sertanejos” deste ou daquele lugar diriam sobre essa questão? Certamente utilizariam outros referenciais ou o mesmo referencial com outro significado, é isto que está em questão. Com a noção de isolamento o paradigma é o mesmo: isolado de quê? Isolado de quem? O isolamento se referiria a um lugar desconhecido, e para o autor o próprio fato de ser rotulado como desconhecido, absolutamente isolado, já é um sinal de seu semi-isolamento, e não de um isolamento completo. No fim das contas, não haveriam localidades absolutamente isoladas na forma e na proporção comumente afirmada, não só por este aspecto citado mas por conta de migrações de populações que nem sempre o Estado identifica e/ou reconhece. O isolamento, o desconhecimento, também são muito usados para referência dos modos de vida dos habitantes destas localidades, evidenciando que a noção de sertão, ao incidir não só sobre um espaço mas sobre seus habitantes, incide sobretudo na diferença destes dois, que não é só paisagística mas também cultural.

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