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Entrevista Sebastian Conrad

Por:   •  2/6/2025  •  Artigo  •  2.593 Palavras (11 Páginas)  •  41 Visualizações

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Fala do historiador Sebastian Conrad (Freie Universität / Berlim) respondendo questões sobre História Global.

A proposta da atividade é promover a compilação e a comparação de perspectivas em torno da História Global de diversos historiadores e historiadoras, de diferentes partes do mundo e pertencentes a distintas tradições intelectuais.

1. Como, em sua trajetória, você começou a trabalhar com história global e o que a define em sua concepção?

...meu caminho particular na historia global é claramente moldado pelo modo como fui ensinado na Alemanha em universidades alemãs. Quando se estuda história, quando eu estudei história foi história alemã, quase exclusivamente história alemã, igual em muitos países. Na Italia se estuda história italiana, na França, francesa, sempre história nacionalmente compartimentada. NO meu caso, fiz dupla especialização. Também estudei japonês, história japonesa, língua japonesa e assim por diante. E durante meu tempo de estudante, tive dificuldade em reunir esses dois de forma significativa. História japonesa claramente não era parte do departamento de história. Por muito tempo eu procurei memórias e estruturas que me ajudaram a pensar nesses diferentes lugares juntos. No meu caso, durante algum tempo, os estudos pós-coloniais nos anos 90. Em particular, o ano de 1990, foi um estudo muito efetivo que me ajudou a pensar nas relações entre as partes do mundo e também me ajudou a pensar sobre a experiência alemã e japonesa no século XX em conjunto. Mas a medida que avançamos para o século XXI os desafios e limites dos estudos pos-colonais tornaram-se gradualmente mais evidentes e a história global emergiu como um novo campo que considerei extremamente útil, produtivo e até libertador. 

E desde então, para mim, tem sido a maneira mais eficiente e produtiva de pensar sobre relações, conexões em lugares diferentes. Esta é a minha própria trajetória neste campo.

A história global me ajudou a estruturar meu pensamento. De outra forma, teria sido difícil. Voce também pergunta o que é história global para mim.

Nos termos mais amplos possíveis, é me afastar da história de um país, da história como normalmente ensinada nas escolas e universidades. A história do próprio país. 

Obviamente, se discutirmos isso de modo mais específico e disciplinar, eu diria que é o estudo da história que coloca as conexões em primeiro plano, mas também se interessa na maneira do mundo se tornar gradualmente integrado. Assim tudo o que acontece em um lugar também pode ser parcialmente explicado por processo que são muito maiores e mais amplos transnacionais e às vezes até globais. 

Transferências culturais – transnacionais ou globais? Meu para Hélvio. 

2. Quais as possibilidades de diálogos entre local e global, micro e macro?

Se perguntarmos às pessoas sobre história global, elas podem nem saber. Mas se elas tivessem algum ideia, pensariam que é a história do planeta. É a história. É uma história que é macro-história, processos enormes, continentes diferentes, civilizações diferentes. É o que a maioria das pessoas associam à história global. E também porque alguns dos livros mais influentes em nosso campo, os estudos mais influentes, foram histórias totais, por exemplo, do século XIX, ou de toda a história, certo? Quero dizer, vamos pegar os livros de Chris Bayly sobre a história global do século XIX, ou o livro de Jurgen Osterhammel, novamente do século XIX, voce também pode pensar em um livro mais popular de Yuval Harrai, Sapience, que está sobre toda a história. Todas essas histórias são macro. Portanto, a história global tem essa imagem de macro-história. Se olharmos par o que a maioria dos historiadores globais fazem, isso não é realmente o que eles buscam. A maioria deles tem projetos de pesquisa muito concretos, focados em eventos, lugares e sociedades individualmente e tentam enxergar através das lentes da história global, tentam entende-lo em um estrutura de história global.

Isso também pode ser realmente micro-história. Na verdade, alguns dos trabalhos mais interessantes nos últimos anos tem acontecido nessa interesecção entre o micro e o global. Há um número especial interessante de um revista sobre passado e presente de alguns meses atrás dedicado a essa relação entre micro e macro. E quero dizer também pessoalmente acho produtivo pensar sobre indivíduos específicos, pequenos tópicos específicos ou pequenas localizações e coloca-las em um contexto global. Recentemente, escrevi um artigo sobre duas pessoas, dois arquitetos que viveram por volta dos anos de 1900, um era de toquio, japão, e o outro de Calcutá na bengala ocidental. Eles nunca se viram, mas suas trajetórias são bem parecidas ou relacionadas por meio de processos amplos, processos globais muito amplos. Olhar para essas duas pessoas e suas próprias biografias, suas agendas em um contexto global, foi desafiador por um lado, mas também produtivo por outro.

Eu diria que não há principio de contradição entre micro e macro.

 3. Como trabalhar com as múltiplas temporalidades em história global? Existe história global de curta duração? 

De certa forma, pode-se até dizer que grande parte da história global é precisamente sobre a curta duração. O que quero dizer é: tradicionalmente os historiadores olham um tipo de mudança ao longo do tempo. Então, por exemplo, o surgimento gradual de um senso de nacionalidade vietnamita, o surgimento gradual do nacionalismo em Buenos Aires. São as perguntas em que os historiadores globais, em vez de olham para a longa redução dentro de um país, normalmente se concentram em um momento global, em qu se trata mais do impacto sincronizado de diversos fatores. Em vez de olhar para os últimos 200 anos, eles olham para este único momento e veem como diferentes eventos influenciam o que estudamos. Então, em outras palavras, a questão tradicional seria: O que foi construído ao longo da Revolução Francesa? Bem, a questão da história global seria, se pensarmos na Primavera Árabe de 2011, como os eventos na Tunísia influenciaram os eventos no Egito ou no Bahrein, a esse respeito. Neste aspecto, metodologicamente falando há uma dimensão de curta duração para a história global eu acho. Mas, ao mesmo tempo seria uma “visão curta” se os historiadores globais apenas analisassem o tipo de presente sincrônico. Uma maneira de pensar sobre isso que considero útil é o termo “estratos do tempo”, apresentado por Reinhart Koselleck, historiador alemão. Ele chama de “Zeitschichten”, estratos do tempo. O que significa que existem, como em, por exemplo, Fernand Braudel, em seu trabalho com o Mediterrâneo, existem diferentes processos que tem temporalidades diferentes, digamos assim. É só olhando pra essas diferentes temporalidades ao mesmo tempo que compreendemos sua confluência na maneira como trabalham juntas, podemos assim, compreender um evento. Acredito que isso seja verdade para as histórias nacionais e para a história global também.

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