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ANTECEDENTES DA REDE URBANA CEARENSE

Por:   •  24/4/2016  •  Projeto de pesquisa  •  1.058 Palavras (5 Páginas)  •  282 Visualizações

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ANTECEDENTES DA REDE URBANA CEARENSE 

Se em seus primórdios a lógica originária da rede urbana cearense não difere de suas congêneres (nasce como suporte à circulação de excedentes produzidos e reproduzidos sob a hegemonia do capital mercantil5 ), quando comparada, no entanto, aos demais espaços brasileiros e nordestinos em particular, sua rede de cidades se constitui de forma tardia. Além disso, ela ganha feições que se preservam até os dias atuais, embora se constate que movimentos recentes imprimam-lhe novos e importantes contornos, indicando um lento processo de mudanças em curso. Em perspectiva histórica, cabe destacar que algumas das principais cidades que atualmente exercem papel de lugar central na rede urbana do Ceará tiveram sua fundação e/ou elevação à categoria de vila ao longo do século XVIII, em decorrência do desenvolvimento da pecuária extensiva que promoveu a ocupação do interior do que é hoje seu território estadual. Reproduziram-se em terras cearenses as características socioeconômicas da civilização do couro, tal como descreveu Capistrano de Abreu (1999), a partir do povoamento às margens dos rios Aracaú (na região ao norte, na parte ocidental do estado) e Jaguaribe, que corta o Ceará de norte a sul, em sua porção oriental6 . Ao longo do primeiro, destaca-se o município de Sobral; na foz do segundo, Aracati, que durante muito tempo foi o principal porto do estado. O que houve de relevante naquele movimento foi que a conquista/ocupação extensiva com base na geração de um excedente comercializável a partir da pecuária configurou as aglomerações iniciais sobre as quais se constituiriam as cidades comerciais que lhes dariam suporte. Ademais, é importante destacar não só o povoamento pela ocupação, mas também o processo de articulação que vai se criando, pela necessidade de escoamento da comercialização, com as feiras dos pólos da zona açucareira fora do Ceará, como Goiana, Olinda e Recife, no Pernambuco. Essa articulação, embora precária, fixou uma malha de estradas e caminhos vicinais que integrou os núcleos e fazendas e suas hinterlândias nas distintas regiões do estado e deste aos seus vizinhos, anunciando um embrionário sistema de cidades que seria estruturado posteriormente com as ferrovias impulsionadas pelo algodão. 5 Sobre o papel do capital mercantil na urbanização e na dinâmica de desenvolvimento regional no Brasil, ver Cano (2010). 6 Sobre breve histórico da formação da rede urbana cearense, ver Cavalcanti (2008), especialmente item 1.3. 73 REDES, Santa Cruz do Sul, v. 17, n. 1, p. 70 – 93, jan/abr 2012 Ainda que o Ceará tenha sua ocupação territorial iniciada com maior vigor a partir do interior, a exemplo do Piauí e diferente dos demais estados nordestinos, o predomínio litorâneo na rede urbana cearense logo se faria sentir. Fortaleza iniciaria, ainda no século XVIII, seu papel de entreposto comercial, consolidando-se contínua e progressivamente nos subsequentes, em decorrência do avanço de outra atividade estruturadora de seu território que se desenvolveu a partir da segunda metade daquele centúrio e com maior vigor no seguinte: o algodão. Este produto promoveu o florescimento de importantes núcleos urbanos no sertão – como, por exemplo, Iguatu, Quixadá, Quixeramobim e, principalmente, Icó, além do Crato na região do Cariri (no sul do estado) –, tornando-os progressivamente tributários da capital, em especial a partir da consolidação das ferrovias no século XIX que organizariam o espaço cearense de forma muito mais definida e duradoura do que as antigas rotas do gado. Tal processo preparou lentamente as condições materiais para a incorporação do espaço cearense à lógica de acumulação que emergiria com a industrialização brasileira na segunda metade do século XX. A implantação das ferrovias teve efeitos na organização urbana pela dupla emergência: 1) dos centros coletores como pólos regionais; e 2) de Fortaleza como centro de exportação. Os próprios eixos delas definiram a lógica de adensamento da capital já que às suas margens cresceram novos bairros surgidos desta fase em diante. A partir de então, sedimentar-se-iam os elementos que caracterizam o sistema urbano do Ceará na atualidade, marcado pelo exponencial crescimento da capital, presença de poucos centros de médio porte e inúmeras pequenas aglomerações. A capital passaria a exercer, a partir daquele momento, papel que seria decisivo para a consolidação de sua primazia urbana: centro comercial responsável pela centralização e intermediação da produção algodoeira sertaneja (e de outras mercadorias de menor monta) para o exterior e/ou para o mercado interno extraestadual. Portanto, reproduziu-se no estado uma estruturação territorial decorrente do binômio pecuária-algodão7 , intermediado pelo capital mercantil sediado em uma cidade portuária, dando-lhe um padrão mais próximo, porém com especificidades próprias, de rede dendrítica verificado em outras áreas do Nordeste8 . Conformam-se assim traços que se manteriam, a despeito da diversificação produtiva e transformações posteriores, especialmente ao longo do século XX. Em outras palavras, o tipo de inserção cearense no comércio nacional e internacional – periférica e primário-exportadora – definiu os traços urbanos mais marcantes que ainda persistem. 7 Furtado (1959) faz uma síntese da importância dessas atividades para a organização espacial da região Nordeste. 8Dantas (2006) apresenta uma bela descrição da formação da rede urbana colonial cearense, criticando a ideia de rede dendrítica no estado. Somente a partir da segunda metade do XIX, Fortaleza é estruturada para centralizar excedentes estadual concorrendo e esvaziando núcleos urbanos do interior, especialmente aqueles articulados à economia pernambucana. 74 REDES, Santa Cruz do Sul, v. 17, n. 1, p. 70 – 93, jan/abr 2012 Além do movimento econômico, as condições climáticas, num contexto de forte concentração latifundiária, baixa produtividade econômica e extrema pobreza rural9 contribuíram para o crescimento populacional da capital nos últimos dois séculos. Especialmente em anos de seca, as migrações internas no sentido sertão-capital tornavam-se a opção derradeira para uma leva de desterrados que ocuparam a periferia de Fortaleza, aumentando significativamente sua primazia (em termos populacionais) na rede urbana estadual. Esse padrão macrocefálico se mantém até os dias de hoje, embora se observe a partir do final do século XX maior adensamento e diversificação econômica fora de Fortaleza e de sua área metropolitana, com ritmo de crescimento mais acelerado (e seletivo) de determinadas partes do interior, fato que pode ser observado por um conjunto de indicadores descritos adiante, especialmente na seção 5. Com isso, observa-se um lento processo de descentralização econômica, refreando a excessiva concentração que se consolidou na RMF, advinda da industrialização brasileira a partir da segunda metade do século, com a incorporação do Ceará à lógica de acumulação derivada da integração do mercado nacional.

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