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AS INTERDIÇÕES FEMININAS NA TRADIÇÃO RELIGIOSA AFRO-PARAENSE MINA NAGÔ: Menstruação Um Fator Biológico De Exclusão

Artigo: AS INTERDIÇÕES FEMININAS NA TRADIÇÃO RELIGIOSA AFRO-PARAENSE MINA NAGÔ: Menstruação Um Fator Biológico De Exclusão. Pesquise 860.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  24/11/2014  •  6.007 Palavras (25 Páginas)  •  367 Visualizações

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AS INTERDIÇÕES FEMININAS NA TRADIÇÃO RELIGIOSA AFRO-PARAENSE MINA NAGÔ: Menstruação um fator biológico de exclusão

Lucielma Lobato Silva -SEDUC

lucielma.lobato@gmail.com

RESUMO

Muito já foi estudado pela historiografia e antropologia afro-religiosa a respeito do importante papel exercido pelo gênero feminino, onde o mesmo pode em igual patamar que seu sexo oposto administrar os espaços sagrados como sacerdotes ou sacerdotisas (SILVA, 2009). Por outro lado, na Religião Mina Nagô tradição afro-paraense, é criado em seus intramuros o tabu menstrual, em que a mulher é interditada durante este período. Dessa forma, este artigo busca analisar este tabu em casas de santo de Mina Nagô do município de Abaetetuba-PA, onde este elemento simbólico é ultrapassado para o social (DOUGLAS, 2010), e se torna um importante meio de interdito do feminino, o qual fica restrito as funções políticas e administrativas, durante este período. Assim, o tabu menstrual tem a função de diminuir ou abafar o poder político do feminino no interior da referida religião em que a mulher também pode ser o importante pilar.

Palavras-Chave: Gênero, Tabu Menstrual e Poder Político na Religião Mina Nagô.

1. INTRODUÇÃO

O tabu é o guardião do espaço do poder (...). Poder mágico implica também poder político. E, sob esse prisma, o tabu ganha novo colorido (AUGRAS, 1989, p. 45) .

A relação entre religião e política é muito tensa, apesar de ambas estarem filiadas e caminharem em pares bastante unidos. A combinação da política como aparelho de dominação do Estado e Religião Mina Nagô não é algo comum no município de Abaetetuba-PA, ambas estão separadas, não se vê nenhum individuo desta religião ocupando cargos públicos, apesar dos integrantes religiosos estarem presentes no interior dos diversos partidos políticos.

Por outro lado, a tradição religiosa afro-paraense Mina Nagô é substancial no que concerne o poder político em seu interior, uma vez que este é demarcado pela intensa formulação de tabus restritivos. Augras (1989) salienta que o tabu é um importante mecanismo de manutenção da ordem política e social. Já que ao serem criados há a forte incumbência mental de que se o individuo transgredir a regra, imenso será seu prejuízo. Vários são os tabus presentes na religião Mina Nagô, mas o hierárquico e o menstrual é quem vão nortear este estudo.

O tabu é revertido por um papel primordial na interdição do gênero feminino, o qual apesar de estar presente como o comando religioso, isto é, sacerdotisa/mãe de santo, ou como filha de santo ou ainda como participante e adepta da religião (SILVA, 2009) ainda assim é afastado de seu poder religioso e político no intramuros dos terreiros. Pois, “uma mulher menstruada não pode entrar na casa de santo, não pode tocar em instrumentos ou objetos sagrados e nem em seus pais de santo” .

Isso denota que a mulher apesar de ser importante nas religiões afro-brasileiras, mesmo assim o patriarcalismo social se transfere da sociedade para tais religiões e em especial a Mina Nagô, e de maneira velada consegue interditar o gênero feminino devido sua condição biológica que lhe é própria e incontrolável (DOUGLAS, 2010). Dessa forma, este trabalho tem por objetivo analisar o tabu menstrual como um importante meio de controle político em que a mulher não controla, mas é controlada, mesmo quando detém o poder do sagrado. Isso por que a menstruação é fonte potencial de perigo e poder.

Souza (2011) assinala que estudar religião e gênero é uma combinação duas vezes marginal, primeiro o é para a academia e segundo para a religião que em sua maioria são excludentes quando se pensa nas posições do feminino. Por isso, este estudo ratifica sua importância, pois na religião Mina Nagô as mulheres são muito importantes e segregadas, pelo menos nos períodos de fluxo do sangue menstrual. Como metodologia da pesquisa foi utilizada pesquisa de campo e bibliográfica com abordagem qualitativa e modelo de investigação etnográfico/participativo (SEVERIO, 2009; TRIVIÑOS, 1987) .

Assim, este trabalho apresenta primeiramente o Tabu e poder político, onde é analisado a formulação das restrições dos tabus como importante meio para a detenção e o controle do poder religioso, o qual no intramuros da Mina Nagô é reelaborado como poder político; em seguida será demonstrado O tabu menstrual: Importante mecanismo de interdição do feminino na religião Mina Nagô, nesse momento será abordado o tabu como forte meio de controle e interdição do gênero feminino, mesmo quando este é o dono do espaço sagrado; e por último A menstruação: como poder feminino na religião Mina Nagô, aonde afirma-se que a menstruação é na verdade um elemento que emana poder, pois uma mulher menstruada tem seu poder multiplicado, e por isso é abafada, interditada por seu sexo oposto, devido o temor à menstruação, pois é um momento em que a mulher é comparada a natureza por estar mais perto das funções dos animais (SARDENBERG, 1994).

2. TABU E PODER POLÍCO

A palavra tabu tem seu significado totalmente marcado ou ainda discriminado por ser algo proibido em razão de possuir poder que se estabelece, em certos casos no sagrado, e por isso se torna perigoso e proibido. É por essa razão que os conceitos de sagrado, perigoso e proibido, estão estritamente conectados (TEDLOCK, 2008) . Para Freud (1950) em sua importante obra Totem e Tabu:

O significado de ‘tabu’, diverge em dois sentidos contrários. Para nós significa, por um lado, ‘sagrado’, ‘consagrado’, e, por outro, ‘misterioso’, ‘perigoso’, ‘proibido’, ‘impuro’ (FREUD, 1950, p. 18).

Porém o tabu não designa apenas o caráter de sagrado/perigoso, de uma pessoa ou de uma coisa, mas também os dispositivos montados para lidar com ele, apontando para a presença do dito poder e para a dimensão da realidade a qual este está engajado (AUGRAS, 1989). Estes dispositivos por sua vez são organizados pelos homens, dentro de religiões ou no cerne da sociedade, para controlar outros homens e a eles próprios. Nesse sentido, o tabu permite lidar com o poder sem risco de destruição, mas demonstrando a realidade por meio das interdições.

O poder dessa dita realidade, ao emitir ameaça aos que detém o controle social, político, religioso ou econômico, no sentido de

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