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Analise de Ano 1000 ano 2000 Medo do Além

Por:   •  30/4/2022  •  Ensaio  •  1.387 Palavras (6 Páginas)  •  179 Visualizações

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UNIVERSIDADES ESTADUAL VALE DO ACARAÚ

Centro de Ciências Humanas-CCH

Curso: História/Licenciatura

Disciplina: História Medieval II

Professor: Francisco Dênis Melo

Acadêmica: Nicole Santana de Freitas

Data: 06.12.2021

ANÁLISE

Medo do Além: Ano 1000, ano 2000. Na pista de nossos medos de Georges Duby

Ao avaliar o livro Ano 1000, ano 2000. Na pista de nossos medos um dos últimos trabalhos do historiador medievalista francês Georges Duby, reconhecido por utilizar um modelo de escrita que se relaciona com os pensamentos de cientistas sociais, ao mesmo tempo que nos situa sobre questões da idade média, observa-se que na obra em questão o autor se desprende de um modelo de escrita acadêmica e escreve de forma mais leve, dialogando e utilizando imagens o que ajuda o leitor a se inserir na temática dos medos, sendo eles: medo da miséria, medo do outro, medo das epidemias, medo da violência e medo do além. O intuito da obra se estabelece ao relacionar os medos vigentes no primeiro milênio na Europa e que se perpetuam até a hodiernidade. Ao refletir sobre essa questão, acaba fazendo comparações e destacando diferenças das sociedades, como está exposto na contracapa do livro: “Esses anacronismos têm uma única função: comover os mais justos, falar claro, estabelecer essa comunicação para sensibilizar as pessoas nesse tempo de medo e dúvida” (CATINCHI).

É interessante pensar sobre a abordagem uma vez que esses medos permanecem “assombrando” a sociedade pós-contemporânea, seja na idade média ou no agora, todos esses medos se relacional em um só: o medo da morte. Quando pensamos sobre um cenário do modelo de mundo atual é quase que impossível não imaginar a pandemia da Covid-19, o vírus mortal que matou mais que a bomba atômica (como exemplificou o autor) e desestabilizou toda a estrutura mundial. Entretanto, podemos encaixar essa questão no quesito medo de epidemias, o medo da contaminação se relaciona diretamente com a sua potencialidade em matar, portanto o medo “final” seria da morte.

Outra questão que podemos observar, ainda usando o mesmo raciocínio, é o quando a crise econômica e política influenciada pela Covid-19 fez crescer a problemática da fome, o que encaixo no campo do medo da miséria. Trago ainda a mesma reflexão, a preocupação com a fome está ligada diretamente com a necessidade de sobreviver, portanto, o medo da morte.

Quando estudamos sobre idade média, nos deparamos com a força da Igreja, e na maneira que utilizam dessa temática para assegurar o maior número de devotos ao propagar o anseio ao paraíso e o temor do inferno. O trecho a seguir retirado da Doutrina para Crianças escrito pelo teólogo catalão Raimundo Lúlio, podemos observar sua resposta para alguém que se encontrava com medo de morrer:

            Filho, sabes por que a morte é temível? Porque não podes fugir dela e não sabes quando ela te levará. Assim, se temes a morte, que não pode te matar, mas somente teu corpo, temerás a Deus, filho, que pode colocar teu corpo e tua alma no fogo perdurável. (RAMON LULLI, Doutrina para crianças, cap XXXVI,9).

Podemos compreender que a ideia da morte é estabelecida na sociedade historicamente, mesmo que funcione como uma condição humana. Quando paramos para analisar o motivo da morte ser tão temorosa nos deparamos com sua instabilidade, expressada no trecho medieval supracitado, o “quando?” e principalmente “para onde?” é apavorante e isso pode ter sido herdado historicamente e culturalmente. Essa instabilidade cresce cada vez mais quando as ideias do pós-morte se multiplicam. Ter convicção do destino é algo muito improvável, ainda que o indivíduo acredite na versão paraíso/inferno, nada o assegura do seu destino final, uma vez que o pecado está presente na realidade de todos e a decisão vem do divino. Essa dúvida ganha mais intensidade quando outras vertentes começam a se estabelecer. Hoje cada religião designa uma visão diferente desse “lugar”, seja o purgatório antes do céu ou o inferno, o arrebatamento ou a reencarnação nenhum deles nos dá certeza de nada e o questionamento “para onde irei?” aparece constantemente na vida dos indivíduos (mais para uns do que para outros). Independentemente do que acreditamos, ou do que não acreditamos, é inevitável esse ar de “será?”. Com isso, observo que a finalidade dos medos, seja da miséria, das epidemias ou da morte seja proveniente do medo do além e com isso analisarei essa questão traga por Duby.

No texto o autor nos apresenta a um olhar interessante. Os sujeitos da idade média não tinham exatamente medo de morrer, uma vez que não duvidavam da existência de um céu, além da Igreja ter criado métodos de ajudá-los a ser menos pecadores ao fazer essa mediação entre o mundo e o divino guiando as almas em direção ao paraíso. A obediência a Igreja e aos dogmas já transmitia uma sensação de segurança, mas caso houvesse um desvio no caminho isso poderia se resolver com a prática das penitencias e confissões. Para além disso, o autor nos lembra que esse período foi marcado por heresias, existiam estratégias económicas que de certo modo favoreceria na sensação de estar com o paraíso garantido, seja com o uso de amuletos ou com o comercio das indulgências. Outra chance de ajudar na decisão final seria as práticas fúnebres, logo após a morte o defunto ofertaria indiretamente um banquete demonstrando sua generosidade. A ideia que tinham era bem estabelecida, não restava dúvidas, morreriam para um mundo e viveriam em outro, o que o autor traz como menos “incognoscível”, o oposto do que temos na pós-contemporaneidade.

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