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CULTURA VISUAL E ENSINO DE HISTÓRIA: IMAGENS DA ÁFRICA E DO BRASIL AFRODESCENDENTE

Por:   •  17/6/2018  •  Trabalho acadêmico  •  1.088 Palavras (5 Páginas)  •  276 Visualizações

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CULTURA VISUAL E ENSINO DE HISTÓRIA:

IMAGENS DA ÁFRICA E DO BRASIL AFRODESCENDENTE

Estudar África partindo de suas reproduções visuais permite, mais do que ilustrar o que se observa no imaginário ocidental acerca deste continente, entender de que forma as construções visuais incitam lógicas de pensamento, produzem discursos e reproduzem relações sociais.

A estruturação de uma ideia de África na mentalidade europeia é fruto de uma série de combinações e modificações de noções pautadas não somente na identificação do Outro, mas também na afirmação de si mesmo. Essas noções se misturam e deixam reflexos até o presente no olhar que o Ocidente volta à África.

Ao analisar trechos da obra de Anderson R. Oliva, Reflexos da África: Ideias e Representações sobre os africanos no imaginário ocidental, estudos de caso no Brasil e em Portugal, pode-se traçar, de maneira generalizada, o olhar que se estabeleceu sobre este imenso continente ao longo do tempo, nas regiões da Europa Ocidental.  Resumindo rapidamente tal olhar, é perceptível uma série de acumulações e recombinações no imaginário europeu frente a designação da África e dos africanos.

Desde a Antiguidade a concepção criada envolta do continente africano esteve pautada no estranhamento. A caracterização do Outro estava ligada a questões de cunho geográfico, considerando-se clima e geografia propriamente dita. Esta identificação dos Aethiops, como eram nomeados na época, implicou necessariamente num exercício de alteridade. Tais povos representavam a negatividade do mundo Clássico. A essa concepção somaram-se, na Idade Média, uma série de questões religiosas, responsáveis em grande parte pela associação do negro ao diabólico, amaldiçoado e nefasto. Tais noções, cristalizadas pela sociedade medieval, nunca se desvincularam totalmente do pensamento Ocidental na caracterização do negro africano. Não obstante, estas são refletidas nas mentalidades dos períodos seguintes, mesmo que com novas significações.

Os períodos subsequentes da História ainda são marcados por visões negativas da África, reafirmando estigmas, desta vez apoiados pelas Ciências. Com os projetos político-econômicos que voltam novamente o olhar europeu a este continente, as Ciências trabalharam a fim de legitimar as visões negativas produzidas sobre o mesmo, reafirmando ainda a alteridade, a “falta” existente no continente, quando comparado à “civilização” ocidental.

Levantadas as conclusões de Oliva acerca do desenvolvimento do olhar europeu frente ao continente africano é possível analisar os trabalhos fotográficos de Edmond Fortier, que teve cerca de 3.500 de suas fotografias reunidas por Daniela Moreau, a tratar de sua viagem à África em 1906. Examinando o conjunto de fotografias apresentado como uma série, percebe-se uma tendência em retratar tipos. Tipos humanos, tipos de atividades realizadas por esses humanos, tipos de habitações e estruturas arquitetônicas. Essa escolha de representações remete às questões tratadas por Oliva ao identificar como característica da representação do Outro, a partir do contato europeu com a África com o advento das Grandes Navegações, um olhar quase que antropológico, centrado nos aspectos e humanos e geográficos das regiões. Apesar das fotografias datarem do início do século XX, as concepções de África nunca foram homogêneas ao longo do tempo, o que permite concluir a possibilidade de, de fato, tais representações visuais terem caráter antropológico. Esta conclusão se dá em vista da escolha temática de Fortier, onde em seu conjunto de imagens encontram-se uma série de retratos que valorizam o enquadramento dos tipos vegetais arbóreos, espécies de animais, como é o caso das fotografias de número x, y, z (slide 24), bem como a grande quantidade de imagens de africanos em suas vestimentas e disposição corporal “originais”, naturais. Estando estes em grupos ou individualmente, suas poses remetem à um tipo de apresentação aos europeus, quase que catalogada dos mesmos. Quando em grupos, geralmente estão todos juntos, numa disposição que visa “mostrar quem e como são”. Este é um caso apresentado nas imagens a, b, c. Mais do que simples exposição de pessoas e geografias, os trabalhos de Fortier expressam este caráter ao valorizar a representação de atividades e ritos, ou seja, uma dimensão cultural da vida dos africanos representados, sejam elas ritualísticas, artísticas ou cotidianas, como por exemplo as atividades de dança apresentadas na fotografia d. Outra característica capaz de explicitar a intenção de demonstrar os aspectos humanos da região está no nome de algumas fotografias. As fotografias de número 88 e 89 trazem em seu nome Jovem tipo “djalonquê”, que traduzem um pouco a intenção em “catalogar” os tipos existentes em África e apresentar-lhes aos receptores destas fotografias. Existe nestes trabalhos também uma tendência em se retratar nos e as habitações e construções da região, o que a meu ver, seriam recebidas como primitivas pelo público europeu. Uma primeira observação da ocorrência da escolha em se apresentar tais estruturas não nos permite concluir o olhar inferior voltado a elas, mas em um segundo momento, analisando o conjunto de imagens e, f e g, que mostram a intervenção do universo europeu na realidade africana, cria-se um choque quando comparas as imagens h e i, por exemplo. Sem precisar usar palavras, as imagens criam uma ideia de “avanço” com a intercessão do homem branco. Essa ideia acaba por criar valores em ambas representações, onde não surpreendentemente, o mundo negro toma a noção de negativo, atrasado, primitivo, enquanto a mão branca intervindo nesta região estaria trazendo-lhe a positividade imposta pela noção de civilização. Ideia esta que é reafirmada com as atividades e supostas melhorias apresentadas nas imagens (slide 21)’, onde são apresentadas uma escola de artesanato e um hospital. O conjunto de imagens, sendo assim, não apresenta seus entes ao acaso e exprimem mesmo que nem sempre explicitamente as visões que se estabeleceram sobre África enquanto um continente de faltas.

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