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Educação e modernidade em Ribeirão Preto: um olhar indiciário através do Terceiro Grupo Escolar

Por:   •  12/12/2018  •  Monografia  •  6.472 Palavras (26 Páginas)  •  196 Visualizações

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Educação e modernidade em Ribeirão Preto: um olhar indiciário através do Terceiro Grupo Escolar

Claudio Gonçalves da SILVA NETO[1]

Educação e modernidade em Ribeirão Preto

Ribeirão Preto viveu uma intensa busca por sua inserção no cenário moderno no início do século XX; a contar deste período inicia-se na cidade a entrada e absorção de novos costumes, novos produtos e serviços.

Segundo as elites locais era necessário alterar a base desta sociedade, para que ela pudesse perpetuar os costumes que se desejava implantar, era necessário reafirmar o que era ou não importante.

A vida de seus habitantes começou a ser alterada, a pequena vila dos tempos imperiais se transformou em uma cidade que valorizava cada vez mais seus espaços simbólicos e começava a implantar uma forma de sociabilidade a qual a cidade não estava ainda acostumada (PAZIANI, 2004).

A cidade se arisca nos meandros da modernidade, se lança para uma nova fronteira que dividirá o velho e o novo, que mostrará o quanto a cidade pode se transformar e alterar o modo de vida de seus habitantes.

Pode-se afirmar, portanto, que Ribeirão Preto passava a ser caracterizada pela experiência da modernidade, segundo definição de Marshall Berman:

[...] promete aventura, poder, alegria, crescimento, autotransformação e transformação das coisas ao redor – mas ao mesmo tempo ameaça destruir tudo o que temos tudo o que sabemos tudo o que somos. A experiência ambiental da modernidade anula todas as fronteiras geográficas e raciais, de classe e nacionalidade, de religião e ideologia: nesse sentido, pode-se dizer que a modernidade une a espécie humana. Porém é uma unidade paradoxal, uma unidade de desunidade: ela nos despeja a todos num turbilhão de permanente desintegração e mudança, de luta e contradição, de ambiguidade e angústia (1987, p.15).  

Para Evaldo de Melo Doin a modernidade se apresenta de acordo com as possibilidades de cada lugar, há uma plasticidade que a envolve e assim ela adquiri uma especificidade, portanto suas transformações sociais, econômicas e sua apreensão se tornam particularizadas (DOIN et al, 2007).

Estas particularidades podem ser facilmente percebidas pelas transformações que a elite ribeirão-pretana se empenha em realizar [...] dispostos a fazer valer a modernização “a qualquer custo” (SEVCENKO, 1999).

Estes desejos além de aparentes na urbanização, higienização e industrialização também se desdobravam no ambiente escolar; sua arquitetura, a forma como se administrava até então as escolas, o conteúdo vinculado ao processo ensino-aprendizagem e as formas de avaliação foram repensados, ou seja, uma nova escola deveria ser implantada e vivida pelos alunos e por toda a sociedade.

O modelo até então praticado pelas escolas era pautado principalmente nas teorias do alemão Johann Friedrich Herbart (GHIRALDELLI JÚNIOR, 2009); a teoria herbartiana defendia a ideia de que os conceitos morais, históricos e científicos são os carros chefes do processo mental; tal concepção postulava que a mente funcionava com base em representações e negava a existência de ideias inatas; sua teoria pretendia interferir diretamente nos processos mentais do aluno, sendo considerada uma teoria profundamente intelectualista; entretanto, tal modelo começou a perder forças devido a influência dos pensadores americanos, que chegava ao país pela imprensa, literatura, cinema e também pelas relações comerciais com os Estados Unidos.

A entrada dos autores norte-americanos impulsionou o Brasil a seguir um movimento conhecido como “movimento da educação nova”, o escolanovismo, tão difundido pelo filósofo John Dewey (GUIRALDELLI JUNIOR, 2009); sua teoria diz que o objetivo é educar a criança como um todo, o que importa é o crescimento físico, emocional e intelectual. Atividades manuais e criativas ganharam destaque e a democracia ganha peso por ser a ordem política que permite o maior desenvolvimento dos indivíduos.

A contar da influência dos educadores norte-americanos estava instituído um movimento nacional que buscava a implantação deste modelo, como salienta Jorge Nagle:

Inicia-se com as conferencias de Olavo Bilac e com a consequente formação da Liga de Defesa Nacional (1916). Visa a clamar contra “a gravidade da nossa situação moral”, cujo remédio se encontra, de um lado no serviço militar [...] de outro, na instrução, para combater o perigo interno, que se manifesta pela quebra de unidade, pelo depauperamento do caráter, pelo definhamento do patriotismo (NAGLE, 1977, p.262).

A modernidade passava pelos valores republicanos e a difusão destes valores também se daria através da educação popular, até então delegada à iniciativa privada e também à Igreja; o Estado passa, então, a se apropriar deste instrumento e aprende com a experiência europeia e americana que, para se alcançar o êxito no processo civilizador, a educação popular teria papel político e social. Diante disso, neste período são criadas as escolas populares, cursos noturnos para adultos e escolas profissionais.

Este novo projeto que visava valorizar a escola pública serviria tanto para a promoção das atividades políticas do Estado quanto para a propagação dos ideários e modelos republicanos.

 Havia uma grande simbologia na criação de um grupo escolar, através desta reforma aconteceria um rompimento com os modelos antigos. Tudo novo: linhas pedagógicas, organização escolar, nova arquitetura e também novas finalidades (SEVCENKO, 1999). Os grupos escolares atendiam um ideário social, já que estes prédios concretizavam a imagem do progresso e modernização nas localidades urbanas.

Ribeirão Preto tinha capacidade para implantar estes projetos, pois neste período o cultivo do café era a principal atividade econômica do país, que se colocava como principal exportador para o mercado internacional, tendo no Nordeste paulista e Sul de Minas sua principal zona de produção; citamos como exemplo Francisco Schmidt, o maior proprietário de café do mundo no início do século XX, político atuante em Ribeirão Preto.

A cidade de Ribeirão Preto (e sua localização política e econômica privilegiada no Estado de São Paulo) – espaço onde a cultura e a sociabilidade procederam “de um antagonismo entre vontade inovadora e tendências conservadoras” – emergiria e se modernizaria graças a mobilidade social e as práticas personalistas [...] (PAZIANI, 2004, p.157).

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