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História em Quadrinhos e História

Por:   •  8/8/2022  •  Trabalho acadêmico  •  3.689 Palavras (15 Páginas)  •  91 Visualizações

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I – Introdução

        Ao longo do segundo semestre do curso de Mestrado, do Programa de Pós-Graduação em História, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, no ano de 2021, fui aluno da disciplina eletiva “IM – 1256: Introdução à História Digital”, onde pude aprender e compreender alguns métodos de gerenciamento, criação e catalogação de fontes históricas através dos meios digitais.

        Durante a minha pesquisa da graduação, trabalhei com histórias em quadrinhos e grande parte das fontes que eu utilizei estavam disponíveis em espaços virtuais, uma vez que, a maioria delas, possuíam mais de três décadas de idade. Eu analisei um total de 10Gb de histórias em quadrinhos para produzir o trabalho de conclusão de curso. Isso acabou por chamar a minha atenção para a quantidade de espaço que esse material ocuparia, se fosse físico. Ao olhar para trás, percebo que se tivesse iniciado um processo de catalogo com o acervo que pesquisei, poderia ter explorado de forma ainda mais satisfatória essas fontes.

        Como a disciplina pedia por um trabalho final, fiquei interessado em criar uma gibiteca, onde poderia disponibilizar o que eu pesquisei, assim como convidar outros pesquisadores de histórias em quadrinhos, para contribuírem não só com as HQs em si, mas também com suas pesquisas, estabelecendo assim, um banco de dados para um futuro grupo de estudos sobre arte sequencial. Ao comentar essa ideia com outros dois alunos do curso de História, da UFRRJ, que também utilizam revistas em quadrinhos como fontes, eles ficaram interessados nessa proposta.

        Dessa forma, esse trabalho inicial pode acabar se tornando um projeto a longo prazo, pois pode começar como uma gibiteca, se ampliar para um grupo de estudos e vir a se tornar um núcleo de pesquisa, uma vez que no Rio de Janeiro, existem diversos pesquisadores – o Observatório Carioca de Histórias em Quadrinhos[1] é um ótimo exemplo, pois divulga trabalhos, congressos, pesquisas, socializa materiais, além de criar conexões entre pesquisadores de diferentes locais – porém não se tem nenhum grupo vinculado a Instituições de Ensino Superior, diferente do que acontece com a Revista Aspas, que ligado a Escola de Comunicação e Artes, da Universidade de São Paulo (ECA/USP).

        

II – História das histórias em quadrinhos

        Embora as histórias em quadrinhos possuam sua origem na civilização europeia, através do surgimento das técnicas de reprodução gráfica que proporcionaram a junção das figuras com as imagens, foi nos EUA que elas se popularizaram e receberam o formato que chegou até nós.

        Segundo a pesquisadora Maria de Fátima Hanaque Campos[2], foi graças as grandes empresas jornalísticas estadunidenses, ao fim do século XIX, que as histórias em quadrinhos conseguiram sua autonomia, fazendo com que criassem uma expressão própria, tornando-os um fator para a ampliação da venda de jornais[3]. Sendo publicada aos domingos, The Yellow Kid[4] – O Garoto Amarelo – tornou-se uma grande atração do jornal New York World. Através da disputa entre os grandes grupos jornalísticos, os quadrinhos obtiveram um grande desenvolvimento na criação das histórias, porém não eram considerados como uma nova manifestação de arte.

Figura 1 - At the Circus in Hogan’s Alley[pic 1]

        Em seus primeiros anos, no século XX, as histórias em quadrinhos tinham predominância do quadrinho estilizado. As histórias possuíam como característica principal o humor. Entretanto outros temas foram surgindo: histórias mitológicas, fantasias e até ficção científica, sendo algumas mais elaboradas que outras, servindo assim, para o enriquecimento e renovação do gênero artístico. Um dos artistas renomados desse período foi Winsor McCay, levou para os EUA o estilo art nouveau, fazendo grande sucesso nas histórias de Little Nemo in Slumberland[5]. Um dos legados do art nouveau aos quadrinhos foi a preocupação decorativa, uma estilização do desenho. Os cenários eram elaborados e existia uma atenção ao retratar a natureza e os animais.

Figura 2 - Little Nemo in Slumberland

[pic 2]

        Após a Primeira Guerra Mundial, duas correntes se tornaram importantes nas histórias em quadrinhos: os humoristas e os intelectuais, que exploraram e ampliaram as possibilidades. Uma das histórias de maior destaque desse período foi Bringing Up Father[6], do personagem Jiggs, de George McManus, sendo a primeira história em quadrinhos a conseguir fama internacional[7]. Sendo influenciado pelo art déco, Bringing Up Father refletia o clima de efervescência e os avanços tecnológicos. Os cenários passaram a possuírem melhor elaboração na parte dos mobiliários, das roupas e dos personagens.

Figura 3 - Bringing Up Father

[pic 3]

        Durante os anos de 1930, ocorreu o início da era da aventura. A maioria das histórias eram adaptações de obras literárias ou mais voltadas para o estilo pulp, noir e detetive. As histórias de terror também faziam muito sucesso. Umas das características bem definidas das histórias em quadrinhos do período é que o herói era sempre bom, corajoso e justo e o vilão sempre tinham uma risada maléfica e raptava uma bela donzela. Os personagens não possuíam superpoderes e contavam apenas com a sua astúcia e habilidades com as armas. Nessa época surgiram os personagens Tarzan[8], de Harold Foster; Buck Rogers[9], de Philip Nowlan; Flash Gordon[10], de Alex Raymond; The Phantom[11] e Mandrake[12], de Lee Falk.

Figura 4 - Capas da Amazing Stories, Flash Gordon, Mandrake e The Phantom

[pic 4] [pic 5]

[pic 6][pic 7]

        Porém, os quadrinhos começaram a serem atacados por alguns setores mais conservadores da sociedade. Segundo Amy Kiste Nyberg, no livro Seal of Approval: the history of the Comics Code[13], um dos primeiros grupos a promoverem ataques contra os quadrinhos foram os educadores, que os consideravam uma péssima influência sobre as habilidades de leitura dos estudantes e os gostos literários. Muitos educadores preencheram revistas especializadas com sugestões sobre como afastar os jovens dos contos de super-heróis. Os quadrinhos eram vistos como uma ameaça à autoridade do professor, pois estabelecia que as crianças podiam selecionar seu próprio material de leitura de lazer.

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