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O Marxismo Latino-Americano nos Anos da Terceira Internacional

Por:   •  26/10/2015  •  Trabalho acadêmico  •  2.031 Palavras (9 Páginas)  •  456 Visualizações

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Fichamento do texto O marxismo latino-americano nos anos da Terceira Internacional-  José Aricó

  1. A América Latina como unidade problemática

“O primeiro obstáculo para uma tentativa de reconstrução das características diferenciadoras do marxismo na América Latina consiste no próprio campo geográfico delimitado pela analise.” (...) “A presença na história de nossos povos de uma cultura, de uma língua, de uma religião, de um passado comuns, será suficientes para definir um complexo social único, com uma identidade própria, com uma força capaz de impor-se às profundas diferenças que se criaram durante mais de um século e meio de vida independente dos Estados nacionais que o integram?” (...) “Uma resposta positiva a estas perguntas, que subestime seus níveis de problematicidade, comporta o risco de orientar a analise para o perigoso terreno de uma tipologia de corte sociológico que destrua ou silencie o tecido “nacional” em que as histórias diferenciadas das classes operarias e populares latino-americanas se constituíram enquanto tais.” (p. 419)

“A problematicidade da categoria “América Latina” tem, assim, fundamento e explicação em sua necessidade de dar conta de uma realidade não pré-constituída, mas em formação, cuja morfologia concreta pode ser concebida não como a “mundanização” de um a priori, mas como o produto histórico de um prolongado processo de constituição, que pode ser estudado graças à presença de um substrato histórico comum que remonta a uma matriz contraditória, porém, única.” (p. 420)

 “As próprias características da expansão capitalista na America Latina e a profunda transformação operada pela introdução tão elevada da força de trabalho estrangeira num período relativamente curto provocaram um deslocamento econômico e social radical de toda a sociedade latino-americana.” (...) “Em vez de um continente irremissivelmente arrastado na corrente do progresso universal, a America Latina se transformou velozmente numa vasta área de desagregação social, que exacerbava as tensões, desarticulava as relações sociais e adiava sine die a constituição daquelas nações burguesas que o pensamento positivista europeu e sua replica americana concebiam como resultado inelutável.” (p. 420 e 421)

“A inserção objetiva da classe operaria num projeto de modernização burguesa da sociedade fornecia como resultado não pretendido nem previsto uma perigosa fragmentação do movimento social; a classe operaria eliminava sua própria capacidade potencial de centro de agregação social e política das exigências de todas as classes exploradoras, para transformar-se em parte de um bloco de forças que tendia a excluir o mundo das classes subalternas corroídas pelo crescimento capitalista.” (p. 421)

“Foi a corrente anarquista que mostrou, até os anos 20, uma flexibilidade externa para herdar boa parte de todo aquele híbrido mundo de pensamentos inspirados em projetos de reformas sociais e de justiça econômica, mantendo, porém, um estreito vinculo com as classes proletárias urbanas.” (p. 421)

“O socialismo de raiz marxista foi antes de tudo a expressão ideológica e política das classes operarias urbanas de origem migratória. Suas áreas de difusão correspondem exatamente àquelas em que se tinham concentrado os fluxos de mão de obra proveniente da Europa e só conseguiram crescer em disputa permanente com as correntes anarco-sindicalistas.” (p. 422)

“Além disto, deve-se considerar que a Internacional jamais atingiu uma consciência real da diferença existente entre sua experiência, limitada à Europa – ou melhor, à parte avançada da Europa – e sua pretensão universalista, exatamente porque havia excluído preliminarmente de sua consideração o mundo subdesenvolvido por ser bárbaro.” (p. 423)

“Mas não foi só a Europa que negligenciou esta realidade: a própria América Latina necessitou da presença fulgurante das revoluções russas e chinesa, para descobrir, nos anos 20, que em seu próprio território estava se desenvolvendo há anos uma das experiências de massa mais singulares. O laboratório político mexicano punha á prova a validade das hipóteses teóricas fundamentais do movimento operário mundial e se mostrava que, sem uma revisão da prática e do socialismo, a realidade americana era indecifrável para o marxismo.” (p. 424)

  1. Juan B. Justo e sua reinterpretação do marxismo

“O paradoxo do socialismo latino-americano, pois, consistia no fato de que, agindo numa realidade diferente da européia, seus esforços para aplicar em nosso ambiente as orientações fundamentais do marxismo canonizado pela Segunda Internacional apresentavam efeitos contraditórios, dos quais, porém, não se tinha consciência.” (p. 424)

“Paradoxalmente, no momento em que descobre a virtualidade revolucionária dos camponeses, nota o erro que comporta a crença numa determinação “socialista” universal da classe operária.” (p. 425)

“Não foram os discípulos americanos de Marx que aceitaram um desafio que os fundadores do marxismo tinham somente começado a considerar; contudo, houve na América Latina, mais precisamente na Argentina, um pensador socialista que, sem ter nenhuma possibilidade de conhecer estas reflexões marxianas – exceto aquelas que se podiam deduzir da leitura de O Capital (particularmente do capítulo XXV do livro I, “A teoria moderna da colonização”) – tentou enfrentar, seguindo as linhas de análise de Marx, a tarefa histórica de construir em seu próprio país um movimento socialista. (...) “Um ano antes da constituição do Partido Socialista Argentino e um ano depois da criação do jornal operário VanGuarda, Juan B. Justo (1865-1928) pôde realizar uma viagem ao Estados Unidos, da qual extraiu conclusões que, sem dúvida alguma, lhe permitiram formular uma proposta de socialismo na Argentina que partia da explícita recusa de um modelo a imitar.” (p. 425)

“Estreitamente ligado ao movimento socialista internacional, leitor assíduo das principais publicações sociais européias e americanas, estudioso da problemática teórica e política dos movimentos sociais, tradutor de O Capital já no fim  do século, Justo foi uma das grandes figuras da Segunda Internacional.” (p. 426)

“Na realidade, sua “teoria científica da história e da política argentina” foi tão-somente a reiteração do papel relevante desempenhado pelo fator econômico durante a revolução de maio de 1810 e da guerra civil que segue, sobre o qual já insistira a historiografia liberal.” (p. 426)

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