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Resenha do Livro Tempo Passado: Cultura da memória e guinada subjetiva de Beatriz Sarlo

Por:   •  13/12/2019  •  Resenha  •  1.329 Palavras (6 Páginas)  •  829 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI[pic 1]

DECIS – Departamento de Ciências Sociais e Jurídicas

Graduação em História

Memória e História – Prof. Dr. Danilo José Zioni Ferretti Larissa Curcio – graduanda em História/Licenciatura – 8º período

05/12/2019[pic 2]

Resenha do livro: Tempo Passado: Cultura da Memória e Guinada Subjetiva de Beatriz Sarlo

SARLO, Beatriz. Tempo Passado: Cultura da Memória e Guinada Subjetiva. Tradução Rosa Freire D’Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras, Belo Horizonte: UFMG. 2007.

        Na obra Tempo Passado: Cultura da Memória e Guinada Subjetiva, a argentina Beatriz Sarlo realiza um exame da ideia que se tem de memória, partindo principalmente das experiências vividas pelas vítimas das ditaduras militares ocorridas na América Latina, em especial daquela ocorrida na Argentina. A análise de Sarlo se dá a partir narrativas testemunhais e apoiada nesses testemunhos a autora inicia uma série de abordagens sobre as metodologias, o olhar histórico e político, as tipologias, entre outros aspectos, para assim, problematizar a maneira como são tratados os discursos de memória. Além disso, ela se preocupa particularmente em cuidar da problemática da “pós-memória”, ou seja, a memória de gerações que não viveram os eventos narrados, de fato.

        O capítulo 1, “Tempo Passado”, faz referência às interpretações do passado e das disputas entre memória e história, efetivamente. Em suma, para Sarlo, deve-se diferenciar as duas áreas, pois para ela, a primeira estaria comprometida com a narrativa das experiências dos que se lembram dos fatos, já a segunda estaria mais voltada para um distanciamento, e portanto, deveria se ater à criticidade e à análise minuciosa dos ocorridos. Para a autora, nos últimos tempos tem se dado muita importância para os lugares de memória e aos romances (livros e filmes) que tem como fundo um momento histórico, destinados ao grande público. Sendo assim, na visão de Sarlo, nesses casos há um apelo estético e uma necessidade de se corresponder às expectativas daqueles que consumem esse tipo de conteúdo, o que ocasiona uma problemática para a história. Dentre essas produções, muitas partem de ambientes não acadêmicos, e muitos desses autores trabalharam com as temáticas das ditaduras latino-americanas. Para ela, isso gerou uma supervalorização das experiências pessoais em detrimento das estruturas históricas de fato.

Em seguida, no capítulo “Crítica do Testemunho: Sujeito e Experiência”, a autora trabalha sobre as condições que possibilitam a emergência do testemunho. Para isso, a autora se refere à uma obra de Walter Benjamin, O Narrador: Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov, sobre como a Primeira Guerra interferiu na forma como o relato e a experiência são abordados. Já o capítulo “A retórica testemunhal” inicia fazendo alusão às ditaduras ocorridas na América Latina entre os anos 60 e 70, assim, Sarlo trata da forma como os laços sociais e comunitários se reestabeleceram mesmo após toda a violência sofrida no período. A autora cita que nesse momento as vítimas do período, além de antropólogos e ideólogos comprometidos com as narrativas daquilo que ocorreu, ganham voz e se sobressaem nas narrativas sobre o ocorrido. Ela lembra ainda, que é nos anos 1980 que na Europa ressurge o debate acerca das memórias do Holocausto, privilegiando o discurso das vítimas, e lembra que a partir dos trabalhos desses historiadores levanta o debate na esfera pública como um todo.

        Voltando aos ocorridos nas ditaduras – em especial na Argentina – Sarlo demonstra que o reaquecimento da memória desses crimes ocorridos naqueles anos, surge em um momento em que os discursos testemunhais estão em voga. Ela se lembra que apesar das atrocidades, as vítimas não pareciam se conter ao narrar seus testemunhos, o que segundo Sarlo foi fundamental para a reconstrução de uma esfera pública de direitos. Ela faz também uma pequena reflexão acerca do que é memória, “a memória é um bem comum, um dever (como se disse no caso europeu) e uma necessidade jurídica, moral e política” (SARLO, P. 47), assim, a autora se lembra da necessidade de se crer e confiar no discurso das vítimas, algo que para ela, é fundamental para a consolidação da democracia, da reparação e da justiça.

        O eixo desse terceiro capítulo seria então, uma ideia de “retórica testemunhal”, e a memória das ditaduras latino-americanas surge a partir das recordações, não só das vítimas, mas de parentes e amigos próximos delas, além de estudiosos do período, que vão se tornar a prova jurídica fundamental para a condenação dos criminosos.

        Outro ponto levantado por Sarlo nesse momento é a ausência de uma crítica metodológica, ou seja, foi preciso haver plena confiança no discurso dessas vítimas para se reconstruir um regime democrático, mas ela se lembra que outros discursos de fatos ocorridos em períodos anteriores às ditaduras seguem sendo contestados; para Sarlo, portanto, deveria haver um maior rigor na análise desses discursos, e cita que deve haver um questionamento da veracidade irrestrita dos testemunhos.  

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