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Um Pequeno Bilhete Sobre Piranhas

Por:   •  28/4/2015  •  Resenha  •  2.208 Palavras (9 Páginas)  •  191 Visualizações

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CONTEXTO

Maceió – Alagoas - Domingo, 5 de fevereiro de 2012

Um Pequeno Bilhete Sobre Piranhas

        Eu conheci Piranhas; passei por lá diversas vezes. Sempre tive vontade de demorar, passear e, como dizia a velha minha mãe: apreciar. Em outubro do ano passado, houve a oportunidade; fomos, Myrian e eu acompanhando um casal amigo: Márcio Pinto e Técia. Valeu a pena. Não me resta dúvida de que se trata de uma cidade que se cuida, começando a crescer a ideia de que o turismo é uma fonte econômica de primeira grandeza.

Aliás, segundo outro amigo, Eliseu dos Santos Gomes, cidadão de Delmiro Gouveia, Piranhas atualmente já é o terceiro município alagoano em termo de destino e amplia sua capacidade de receber. Eles vendem diversas mercadorias: uma delas, é a sua história e o cangaço, de onde se tem a presença do Lampião; outra, a beleza do São Francisco. No seio de tudo, tem-se o senso da população de que algo transformou a economia urbana.

Falta, sem dúvida, bem mais sobre a história do local, a sua função no povoamento sertanejo. Piranhas tem muito, mas muito mais a oferecer e irá paulatinamente descobrindo. É esta descoberta paulatina, o principal elemento que foi trabalhado em Piranhas e, sem dúvida, uma de suas grandes vantagens.

Contexto não tem a menor dúvida ao sugerir que se visite Piranhas. O que é bom, tem que ser dito. Piranhas mudou. E, como se dizia antigamente, para melhor.

Sávio de Almeida

Um Passeio Pelos Mistérios da Bela Piranhas

Luiz Sávio de Almeida

        Como disse, conhecia Piranhas, mas sempre fui por conta do Rio São Francisco e não pela cidade. Sabia que era uma injustiça, a cidade deveria ser pensada e mais do que isso: sentida, sorvida. Vai que aparece a possibilidade de um esticão pelo sertão: Piranhas, Delmiro e Água Branca. Decidimos começar por Piranhas e, de pronto, me perguntei como agir com a cidade. Sabia que deveria começar um diálogo, nada de transformá-la em um tradicional objeto, mas sentir que havia um sujeito coletivo chamado a cidade. Eu deveria permitir-me viver meus estranhamentos, pois são eles que deixam, mais do que tudo, procurar entender.

Seria possível dialogar? A dúvida durou pouco, pois o importante seria tentar e, mais ainda, escrevendo a partir de uma linguagem que nunca dominei: a fotografia. Eu sabia que Piranhas já havia sido fotografada de cabeça para cima e de cabeça para baixo. Mas isto nada significava, pois abstraia, justamente, o diálogo comigo, com um sujeito determinado. Sempre que fotografo para documentação, anoto as coordenadas e a visada para possibilitar que outro compare no futuro, olhando para a mesma direção e da mesma posição.

Não sei onde deixei as anotações. Também, faltou pouco para que eu não esticasse as botas, na beira do açudão do Xingó. A pressão ficou tão baixa, que as piabas beliscaram. E eu bufo no chão, quase sendo tibungado nas águas pelo destino. E não me acabei por conta do filho do Leleu e do Márcio Pinto que me seguraram. Depois a grande surpresa ao bater no Hospital: a responsabilidade profissional do médico que me atendeu. Infelizmente, não guardei o nome dele. Um sujeito legal: eu confiaria nele em qualquer circunstância. Coitado! Seu rosto ao me olhar era de certa angústia: “Com o que eu tenho aqui, posso fazer muito pouco pelo senhor!”. A minha resposta foi: “Eu sei; quer ver apenas a minha pressão!”. E nos acalmamos e terminamos num belo papo no corredor. Contra sua ordem, que me pedia para procurar imediatamente um cardiologista, eu permaneci em Piranhas. Eu precisava conhecer a cidade, conversar com ela.

Comecei a fotografar e a anotar. Felizmente eu não perdi este material. Foram inúmeras as fotos e, quando eu for tomando gosto, vou mostrando aqui; as de hoje foram todas tiradas do mesmo ponto. Olhando de cima para baixo, sentindo a fala das portas, janelas e telhados, além da geometria e do bordado feito pelas ruas.

Não resta dúvida que a população de Piranhas descobriu a existência do turismo, como se fosse refeito o foco de sua vocação para o serviço. Piranhas é fruto de uma das vias (a sertaneja) de acumulação realizada pelo capital mercantil. Depois e muito depois e também dentro da ideia de serviços, sofre a pressão do Xingó, em um quadro absolutamente diverso. O importante da descoberta do turismo, é que ele não foi um enclave, uma resultante do chamado grande capital investido no setor. É portanto, justamente aquilo que nos convém: não um turismo de assalariamento, mas um turismo de renda. Não um imenso empreendimento encravado a funcionar como sifão, mas uma atividade onde um traço em comum perpasse a renda: a transformação de uma virtualidade em uma atividade econômica ao pé de todos.

Na medida em que o grande capital entrasse em Piranhas, desmontaria a construção do local turístico, mas parece, que o grande capital de sifão funciona nas Alagoas tendo em vista o litoral. E Piranhas com sua experiência poderia ser o fundamento para se trabalhar numa ideia de turismo que se enraíze na construção de um território sertanejo. Acabar com esta ideia de rota a insinuar uma passagem, um caminho por onde se vai, para chegar à ideia de um território, um lugar onde se está e, aí, sem dúvida, somente a absorção do fator turismo pelo cotidiano garante a integridade, com o patrimônio primeiro pertencendo a uma comunidade que deseja refazer a economia.

Na verdade, há uma tese sustentando esta pequena discussão escrita logo após um piripaque: somente a valoração pelo local agrega e viabiliza no sentido distributivo da formação da renda e parece que este é o caso de Piranhas, visto neste dia que passamos a visitá-la, observá-la e a conversar aqui e ali. É a simplicidade de Piranhas, aquilo que lhe deu sustentação e até o ar naive que se respira é parte do que se constrói. Houvesse qualquer maior sofisticação, nada teria sido feito. Sertanejo com mumunha europeia é mais ou menos como pensar em Lampião tratando das hemorroidas em Paris.

Chega de inventar rotas; aparece coisa solta como a chamada rota do Imperador na busca do local onde ele brindou a terra com seu cocô, a natureza da caatinga a rejubilar-se pela pompa das nobres fezes. Deve ter sido um espetáculo singular, saber de parte do staff do estado correndo atrás de espanhóis consultores, que fariam e traçariam o perfil de nossas rotas. Pois foi e ainda fizeram uma belíssima exposição aos seus caetés. Chega de rota do açúcar, um caminho bem mais ideológico do que turístico, um açúcar que renuncia ao rapadureiro - quem sabe? - a inviabilizar a rapadura sertaneja.

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