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A ANTOLOGIA POÉTICA COMENTADA: Noémia de Sousa

Por:   •  8/12/2021  •  Trabalho acadêmico  •  2.518 Palavras (11 Páginas)  •  137 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO

Instituto de Educação, Letras, Artes, Ciências Humanas e Sociais

Departamento de Linguística e Língua Portuguesa

Cursos de Letras

Letícia Mendonça Assis

ANTOLOGIA POÉTICA COMENTADA: Noémia de Sousa

Uberaba

2021

Letícia Mendonça Assis

 

ANTOLOGIA POÉTICA COMENTADA: Noémia de Sousa

Trabalho apresentado ao curso de Letras da Universidade Federal do Triângulo Mineiro como requisito parcial para aprovação na disciplina de Literaturas Africanas da Língua Portuguesa.

Prof. Dr. Carlos Francisco de Morais

Uberaba

2021

  1. BREVE [1]BIOGRAFIA:

Foram analisados nesta antologia três poemas[2] da considerada primeira mulher a publicar poesia em Moçambique, Noémia de Sousa.

Natural de Moçambique, nasceu em 20 de setembro de 1926, em Lourenço Marques, atual Maputo. Carolina Noémia Abranches de Sousa Soares, mestiça de pai originário de família luso-afro-goesa e mãe afro-germânica, refletia sua vivência por via dessa circunstância. Ademais, as viagens feitas por toda a África durante as lutas pela independência de vários países, ocorridas posteriormente em sua vivência, também simbolizam sua obra.

Ainda quando não havia publicado nenhum livro, muda-se para Lisboa e mais tarde, para Paris.         Posteriormente, em retorno a Portugal, Noêmia trabalhou como jornalista da agência noticiosa portuguesa, na cidade de Lisboa. Durante o período de 1949 a 1952, têm seu desenrolar poético, escrevendo dezenas de poemas pelas imprensas moçambicana e estrangeira. Mais especificamente, foi com 22 anos de idade que Noêmia iniciou seu percurso literário na poesia moçambicana, travado por sua consciência social, consciência de sua cultura e do seu povo. Tem seu único livro de poemas, “Sangue Negro”, publicado em 2001 pela Associação de Escritores Moçambicanos (AEMO).

Desde muito cedo sua poesia revelou-se marcada pela esperança e libertação de seus irmãos moçambicanos, também de protesto para um país mais justo e denúncia, sempre com presença fixa de suas raízes africanas, estas que são exaltadas e glorificadas pelos seus valores. É essencial citar a tamanha coragem da escritora de difundir versos num período em que a Polícia Política de Portugal operava em ações de prisão e ameaça a pessoas que não respeitassem à ordem colonial da época. Craveirinha já havia afirmado (2000, p.100 apud FREITAS, 2010, p.100), “podemos sentir o hálito ardente da fogueira, quando lemos os versos desta escritora, o que mostra em sua literatura a evidência da moçambicanidade, ou seja, a valorização da sua nação em seus poemas. Ler Noêmia de Sousa é ler Moçambique”. Em dezembro de 2002 na cidade de Cascais, em Portugal, morre aos 76 anos.

  1. PRIMEIRO POEMA:

      “POEMA”         
“Bates-me e ameaças-me
Agora que levantei minha cabeça esclarecida
E gritei: “Basta!” (…) Condenas-me à escuridão eterna
Agora que minha alma de África se iluminou
E descobriu o ludíbrio E gritei, mil vezes gritei: _Basta!”.
Armas-me grades e queres crucificar-me
Agora que rasguei a venda cor-de-rosa
E gritei: “Basta!”

 
Condenas-me à escuridão eterna Agora que minha
alma de África se iluminou E descobriu o ludíbrio...
E gritei, mil vezes gritei: _Basta!_

 
Ò carrasco de olhos tortos,
De dentes afiados de antropófago
E brutas mãos de orango:

 
Vem com o teu cassetete e tuas ameaças,
Fecha-me em tuas grades e crucifixa-me,
Traz teus instrumentos de tortura
E amputa-me os membros, um a um…

 
Esvazia-me os olhos e condena-me à escuridão eterna… –
que eu, mais do que nunca,
Dos limos da alma,
Me erguerei lúcida, bramindo contra tudo: Basta! Basta! Basta!

Em questões estruturais, o poema possui cinco estrofes, entre elas uma oitava, dois tercetos e dois quartetos finais. A construção, não só desta, mas das outras duas poesias presentes nesta antologia são seguem uma métrica exata e “simétrica”, possuem versos livres e sem rimas. Voltando para este poema, pode-se evocar diversas vozes, atribuídas à vivência e motivações da poeta, como referência ao feminismo, o anseio por uma libertação ideológica, e um eu-lírico difundido em um grito coletivo.

O poema trata-se de um “grito” para a liberdade, sem medos ou ressalvas quanto ao que antes colocava um povo em submissão a um sistema. É interessante observar a forma que os colonizadores são caracterizados acontece maneira escancarada e raivosa, com razão: carrascos de olhos tortos, de dentes afiados de antropófago e brutas mãos de orango. Mesmo que o eu-poético assuma uma adjetivação feminina, como em “me erguerei lúcida”, em todo poema há uma questão mais coletiva, com um objetivo político que visa uma conscientização entre as raças, os gêneros e as classes. Isto também é presente em outros diversos poemas de Noêmia.

O uso contínuo da expressão “basta” reitera a condição de resistência do eu-lírico, este que se insere dentro de um contexto marginalizado sem qualquer privilégio. No verso “agora que minha alma de África se iluminou / e descobriu o ludíbrio...”, observa-se a transformação do eu-poético quando olha para si mesmo e reconhece suas raízes conseguindo, dessa forma, se desprender das dores e do sofrimento sentido.

A raiva como emoção no poema é usada em resposta ao racismo, principalmente em razão dos processos sociais envolvidos no contexto colonial moçambicano. Assim, a tomada de consciência do eu-lírico se faz fundamental para a construção de uma nova nação com o entendimento de que colonizado e colonizador não se sobressaem. Em conclusão, para entender o poema se faz necessário o entendimento também do contexto de repressão colonial em que Noémia denunciava.

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