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A Análise Coração Numeroso

Por:   •  20/7/2022  •  Trabalho acadêmico  •  1.271 Palavras (6 Páginas)  •  1.083 Visualizações

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Universidade de São Paulo

Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas

Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada

Introdução aos Estudos Literários I - 1° horário - Noturno

FLT0123 - Prof. Anderson Gonçalves da Silva

Rebeca Ianibelli de Melo – NUSP: 13824747

Análise Interpretativa do Poema

“Coração Numeroso”

São Paulo

2022

A memória de um coração numeroso

Foi em 1930 que Carlos Drummond de Andrade publicou seu livro de estreia “Alguma Poesia”, pouco depois do Modernismo eclodir em São Paulo na Semana de Arte Moderna (1922). Com a sua linguagem informal, teor provocativo e muitas repetições, o mineiro nascido em Itabira foi alvo de críticas e elogios, principalmente com seu poema “No meio do caminho”, analisado por diversos poetas, como Haroldo de Campos.

Nascido em 1902, Drummond veio de uma família de mineradores e fazendeiros, entretanto, não seguiu o ramo da família, e deixou sua cidade natal aos quatorze anos para estudar na capital de Minas Gerais. Formou-se em Farmácia e debruçou-se aos estudos do jornalismo, quando começou a publicar seus primeiros artigos no “Diário de Minas”, mais tarde, ingressou como funcionário público na Secretaria do Interior de seu estado.

Sua primeira obra contém quarenta e nove poemas, todos tratando de temas distintos, entre eles: o amor, a família, a poesia e a terra natal, tema de “Coração numeroso”, poema da presente análise. Esse, faz parte da dicotomia existente entre o interior e a cidade grande, o primeiro, com a vida pacata e tradições passadas, o segundo, com tudo de novo que o desenvolvimento tecnológico nos proporciona. Entretanto, Drummond está longe de escolher um lado, mas sim provocar pensamento crítico para ambos os modelos de cidade, onde o indivíduo sofre seja onde for.

Revela-se a subjetividade do cidadão que deixa para trás a vida no interior e vai tentar conquistar tudo na cidade grande. Um sujeito sozinho, solitário, nostálgico e cheio de saudade, completamente assustado com o caos da capital. Cidade essa, que se forma na dualidade do mundo caótico e a bela natureza, onde alguns elementos formam o imaginário de sua cidade natal, mas logo são substituídos pela dura realidade. A promessa do mar permanece, as estrelas inumeráveis do céu escondem-se nos bicos de luz da cidade.

“Foi no Rio.

Eu passava na Avenida quase meia-noite.

Bicos de seio batiam nos bicos de luz estrelas inumeráveis.

Havia a promessa do mar

e bondes tilintavam,

abafando o calor

que soprava no vento

                      e o vento vinha de Minas.”                                                              (DRUMMOND, 1930).

Isto é, tamanha angústia e solidão do sujeito, que este se perde em lembranças de sua pequena cidade, e crê que o vento que aquece a cidade grande é vem de Minas.

O sentimento é evidenciado ainda mais na segunda estrofe, quando o poeta assume sua profunda tristeza e compara, até mesmo, a própria vida com a morte. Há de se notar que a promessa do mar - tratada na primeira estrofe – não se concretiza na segunda, fazendo com que o sentimento de isolamento e solidão tomem conta dos pensamentos do autor.

Drummond explicita o estranhamento do migrante ao mostrar o cenário do Rio de Janeiro – cidade para onde este se muda em 1918 – e destacar lugares que o próprio poeta frequentava, como a Galeria Cruzeiro. Tamanha é a estranheza deste sujeito, que este perde a vontade até de beber, torna-se um homem-realejo, relembrando e sentindo, várias vezes, o vento mineiro. A tristeza é tão profunda que, ao final da estrofe, o poeta decide acabar com todo este sentimento.

“Meus paralíticos sonhos desgosto de viver

(a vida para mim é vontade de morrer)

faziam de mim homem-realejo imperturbavelmente...”

  (DRUMMOND, 1930).

Em meio aos sentimentos, destaco aqui a raiz de todas as emoções sentidas pelo poeta: a memória. Para embasar meu pensamento, uso obras como “Ética” e “Tratado da Correção do Intelecto”, do filósofo holandês, Baruch Espinosa. O pensador trata da criação das memórias em seus versos, ao afirmar que esta é resultado do conjunto de sensações do cérebro junto ao pensamento da duração desta mesma sensação. Spinosa afirma que “a imaginação só é afectada por corpos”, o que contrasta com os versos de Drummond, que acredita estar sentindo o vento de sua terra natal, na cidade grande. Ou seja, o imaginário do poeta foi construído através das memórias de sua cidade, e o quanto estas afetam seu corpo, fazendo com que sua mente sinta o vento de Minas Gerais, no Rio de Janeiro.

“O que será, pois, a memória? Nada mais do que a sensação das impressões do cérebro junto com o pensamento de uma determinada duração da sensação; o que também a reminiscência mostra. Realmente, nesta a alma pensa nessa sensação, mas não sob uma contínua duração; e assim a ideia desta sensação não é a própria duração da sensação, quer dizer, a própria memória.”

                (SPINOSA, 1677)

Entretanto, a visão negativa da cidade grande é desconstruída na terceira estrofe, quando o poeta começa contrapondo seu pensamento ao descrever a metrópole com grande beleza, destacando elementos característicos do Rio de Janeiro, como as casas compridas, o calor e o mar, características estas, que passam despercebidas pelos próprios cariocas, mas não pelo poeta mineiro.

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