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A Contribuição Da Literatura Religiosa Para A Formação Da Identidade Armênia

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Por:   •  4/6/2013  •  1.399 Palavras (6 Páginas)  •  891 Visualizações

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Este trabalho tem como objetivo demonstrar de que modo a literatura religiosa cristã colaborou com a formação da identidade nacional armênia, especialmente no período clássico (séculos V - XIII). Para isso, contaremos com o aparato teórico de Stuart Hall, contido em seu livro Identidade cultural na pós-modernidade para estabelecer os conceitos de nação e nacionalidade. Além disso, veremos como uma obra religiosa fornece informações sobre a história do povo armênio, por meio da Encíclica Universal, escrita pelo catolicôs São Nersês Shnorhali.

A criação e difusão do alfabeto armênio devem-se muito à religião cristã, pois uma das razões para isso era poder difundir a religião sem ter que utilizar os idiomas de outros povos. Até o século V, os alfabetos grego, persa e siríaco eram usados em documentos oficiais da época e como veículo de expressão literária e teológica (SAPSEZIAN, 1988, p. 33). Somente nesse momento as autoridades religiosas e políticas juntaram forças para encomendar ao monge Mesrob Mashdotz uma criação de tal porte como o alfabeto armênio, que até hoje é usado e consagrado. Foi também por iniciativa da comunidade religiosa que as primeiras obras foram traduzidas para o novo sistema de escrita. A primeira tradução, como não poderia deixar de ser, foi da Bíblia, feita a partir do texto siríaco e, depois, do grego; o resultado inaugurou uma nova era, tanto para a evangelização do país como para a evolução e o aprimoramento da língua (SAPSEZIAN 1994, p. 22).

É importante ressaltar que tanto o criador do alfabeto como os tradutores dos livros religiosos faziam parte do clero, o que é explicado pelo fato dos monastérios serem o local de prestígio para os estudos. O momento da criação do alfabeto e a produção literária que aconteceu em seguida, posteriormente, foi considerado o século de ouro da literatura armênia. Além da Bíblia, foram traduzidos muitos outros textos religiosos importantes, como História Eclesiástica e Crônica, de Eusébio de Cesaréia; Catecismo e Comentário do Pentateuco, de Cirilo de Alexandria; Cartas, de Ignácio de Antioquia; Comentário de São João e Comentário de São Mateus, de João Crisóstomo; Livro da Criação, de Atanásio de Alexandria (SAPSEZIAN, 1994, p. 23). Essas obras, além de seu valor literário, serviram para evangelizar o povo armênio, pois a oficialização da religião não significou que eles aceitaram o cristianismo sem contestação. Muitos armênios ainda eram adeptos de religiões pagãs, como o zoroastrismo, por influência das nações vizinhas. Para convencer um povo a aceitar uma nova fé como a única e verdadeira, era essencial que houvesse uma bibliografia para servir de referência, mesmo que muitos armênios não soubessem ler na época.

A aceitação do cristianismo colaborou com a formação da identidade dos armênios como um só povo. Stuart Hall conceitua a nação como um sistema de representação cultural e uma comunidade simbólica com poder para gerar sentimentos de identidade e lealdade. No entanto, na era pré-moderna, estes sentimentos eram direcionados à tribo ou à religião (2006, p. 49), por isso a dificuldade em se estabelecer a união de um grupo grande de pessoas que não se conhecem para construir e manter uma nacionalidade. Hall reitera que devemos ter em mente três conceitos ressonantes daquilo que constitui uma cultura nacional como uma comunidade imaginada: as memórias do passado; o desejo por viver em conjunto; a perpetuação da herança. Há um consenso de que a cultura nacional traz a unificação entre as pessoas porque anula e subordina suas diferenças de classe e gênero (HALL, p. 57). A religião e, por consequência, a sua literatura, contribuíram para a construção dessa identidade, pois a escolha da religião cristã foi essencial para diferenciar a nação armênia em uma região em que predominavam as religiões pagãs e o islamismo.

Hall também estabelece as culturas nacionais são compostas de símbolos e representações e constituem um discurso, com sentidos com os quais podemos nos identificar e construir nossas identidades. Ele concorda com Benedict Anderson a respeito da definição de identidade nacional como uma “comunidade imaginada” e apresenta cinco elementos discursivos que são acionados para a construção do senso comum de uma nação: a narrativa da nação, a ênfase nas origens, na tradição e na intemporalidade, a invenção da tradição, o mito fundacional, e a ideia de um povo puro e original. Esta última é especialmente influenciada pelo cristianismo por ter um de seus mais fortes fundamentos na Bíblia. O imaginário armênio está fortemente arraigado com a crença de que seu povo é descendente de Noé, sendo Hayk, o fundador da nação, descendente de Jafet, que é filho de Noé (CAMARGO, 1997, p.107). Esse imaginário também corrobora com outro dos cinco elementos que é narrativa da nação, que consiste na série de histórias, imagens, símbolos e ritos que é divulgada entre seu povo e conecta com o destino nacional que preexiste a nós e continua existindo após nossa morte. Nesse caso, o fato de constar na Bíblia que a arca de Noé atracou no Monte Ararat inicia a narrativa da nação armênia como uma espécie de mito fundacional.

Sapsezian afirma que, assim como os gregos antigos, os armênios tinham grande apreço pela história como uma arte, por isso, a historiografia possuía um lugar de honra na literatura armênia (1994, p. 27). O texto Encíclica Universal,

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