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A Desconstrução da Figura Materna em "Mãe, o Cacete"

Por:   •  25/4/2017  •  Trabalho acadêmico  •  1.106 Palavras (5 Páginas)  •  669 Visualizações

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Mãezinha querida (?): A desconstrução da figura materna em Mãe, o cacete, de Ivana Arruda Leite

        “Toda mulher nasceu com o dom da maternidade”; “Você só vai ser feliz de verdade quando tiver filhos”; “Amor materno vem do instinto feminino”. Crescemos cercadas por diversos dizeres que pregam ao nosso destino a tarefa de ser mãe. Desde o jeito certo de segurar o bebê no colo, até o entendimento sobre cólicas em recém nascidos, remédios para febre, a melhor alimentação para que a criança cresça forte e nutrida, amor pleno e infinito e abandono de planos e trocas de prioridades, é preciso que saibamos que, em determinado momento de nossas vidas, guardaremos nossos nomes na caixinha das recordações e seremos, a partir daí, conhecidas como “mamãe”.

        Toda mãe ama seu filho como nunca amou outro ser antes. Toda mãe protege sua cria, dá carinho, leva na escola, ajuda com o dever de casa, sofre quando vê sua criança sofrendo. Parece comum. Parece correto. Parece natural. Parece biológico. Mas não é isso o que a crítica feminista diz.

        Elisabeth Badinter, em seu famoso livro Um amor conquistado: O mito do amor materno, já nos apresenta o afeto materno como um sentimento adquirido, e não inerente à mulher. Simone de Beauvoir, na obra O segundo sexo, também contesta o determinismo biológico da mulher para o exercício da maternidade, evidenciando, inclusive, que o fato de a mulher ser compreendida como aquela que detêm a maior responsabilidade de cuidar e proteger o filho é um dos fatores que a coloca em posição de submissão e inferioridade pelo homem, uma vez que maternidade passou a ser um elemento crucial que servia como uma das explicações para a dominação de um sexo sobre o outro: ao cumprir sua tarefa de mãe, estando em casa, zelando pelo bem estar do filho e da família, a mulher não freqüentava o espaço público, e sua ausência era justificada pelo motivo já citado.

        Há bastante tempo, as mulheres são qualificadas negativamente, muitas vezes, pelo simples fato de serem mulheres em cenários historicamente coordenados e comandados por homens. A imagem feminina carrega consigo uma vasta gama de preconceitos, submissão e opressão, da qual fazem partes alguns comportamentos e atitudes quem são direcionados às mulheres, em uma imposição que dita o que é correto e errado. Aqui entra o estereótipo de boa mãe.

        A maternidade possibilitou a criação e manutenção de um modelo ideal de mãe, que é aquele representado por amor incondicional, instinto protetor, o filho como prioridade. Tal idealização parte do conceito de que todas as mães amam seus filhos de igual maneira, não aceitando que eles padeçam por qualquer mal. Este modelo vinculou-se na sociedade, permitindo a inserção de um tipo de julgamento estabelecido através dessas características, é então que a mulher, a partir do olhar do outro, que representa o social, é alvo de críticas que visam qualificá-la positiva ou negativamente.

        O conto Mãe, o cacete, produzido por Ivana Arruda traz uma narrativa que apresenta ao leitor uma desconstrução que desmonta o modelo de mãe cuidadosa e amorosa. Contada pela filha que declara sentir ódio pela mãe, a história entrega nas mãos do leitor uma mulher que, em atitudes de descaso, desprezo e indiferença, segue sua rotina e destina à criança um lugar qualquer, no qual a menina segue sua vida em constante estado de abandono. Através da quebra de padrões comportamentais construídos socialmente ao longo do tempo, a personagem mãe passa a desconstruir um modelo, descaracterizando todo o aparato social criado em torno da figura materna.

        Trechos como “Quando eu ficava doente, me tacava um comprimido na garganta e apertava o nariz pro comprimido descer logo. Me esquecia na cama com termômetro no braço. Eu que adivinhasse a febre, quando ainda nem sabia ler” e “Se eu gostava de um programa de televisão, ela mudava de canal. Se me via feliz, me mandava pro quarto, vai rir na cama. Minha mãe detestava me ver contente. Talvez por isso nunca tenha me dado presente, nem no Natal nem no aniversário”, aclaram para o leitor a atmosfera que envolve as duas personagens, tão bons modelos de subversão ao sistema patriarcal e sua extensa lista de regras direcionadas às mulheres.

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