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A História Literária - Souza

Por:   •  26/11/2020  •  Resenha  •  1.441 Palavras (6 Páginas)  •  185 Visualizações

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RESENHA

ACÍZELO DE SOUZA, Roberto. A História Literária. In: ____. História da literatura: trajetória, fundamentos, problemas. São Paulo: É Realizações, 2014, p. 51-71.

Acadêmico de renome nacional e professor titular de Literatura Brasileira na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Roberto Acízelo de Souza possui diversas obras e vários trabalhos publicados nas áreas de Literatura Brasileira e Teoria da Literatura, com grande destaque para a história e os fundamentos conceituais dos estudos literários. O livro História da literatura: trajetória, fundamentos, problemas, publicado pela primeira vez em 2014, é um volume considerado de apoio ao magistério, amplamente indicado nas bibliografias de cursos universitários de Letras no Brasil.

Neste livro, o autor aborda os principais tópicos da disciplina dos estudos literários, elaborando um guia que remonta desde discussões da Antiguidade Clássica até os impasses contemporâneos sobre o tema. Contudo, o capítulo que é objeto desta resenha, em específico, trata da história literária, começando por sua origem e elementos constitutivos, passando por seus momentos de valorização e queda de prestígio, até a concepção atual de história da literatura e o problema do esvaziamento das questões propriamente literárias diante da emergência dos estudos culturais e da tendência à transdisciplinariedade.

A abrangência de conteúdos versados chama a atenção, pois a proposta de Acízelo de Souza é justamente constituir uma narrativa de longa duração acerca dos estudos literários e ele o faz com excelência. Em virtude da relevância deste texto de Roberto Acízelo, causou-nos estranheza que, durante nossa pesquisa, só pudemos identificar e selecionar três trabalhos sobre o referido livro, haja vista que boa parte das produções dedica-se a debater a obra Teoria da Literatura, também do autor, publicado em 1986 pela primeira vez, com edição revisada e atualizada em 2018.

Os trabalhos que optamos por discutir aqui são: um ensaio e uma resenha acadêmicos, de Lucia Helena e de Vicentônio Regis do Nascimento Silva, respectivamente, bem como um artigo de Wanderson Hidayck Silva, cujo referencial teórico contém a obra de Acízelo de Souza. Esses três trabalhos, embora distintos em sua forma e em seus objetivos, destacam os principais argumentos do autor sobre a história literária, cada qual salientando os pontos que mais lhe marcaram, de modo que passaremos a comentá-los individualmente a seguir.

Em uma coletânea que celebra os 70 anos do professor e pesquisador Roberto Acízelo, reunindo comentários de vários colegas de profissão sobre o trabalho de Souza e a importância de suas obras para se pensar a literatura, o ensaio de Lucia Helena adota um tom elogioso e celebrativo da carreira e da produção textual do autor. Helena nutre um apreço especial pelo livro aqui resenhado, em razão de seu “[...] cunho erudito e didático ao mesmo tempo, o que torna um grande companheiro de sala de aula para vários tipos de alunos, dos mais cultos aos iniciantes na arte da compreensão do que leem” (HELENA, 2019, p. 251).

Sobre a diferença entre estudos literários e estudos de história da literatura:

[...] os primeiros, milenares; os segundos, fruto do século XIX e da revolução do saber decorrente da Revolução Francesa, da laicização do poder e do Iluminismo, este em sua busca de clarificar a origem do povo e da burguesia, cuja construção, milenar, chega a cabo em finais do século XVIII, florescendo com a construção de pesquisas sobre o popular, o lendário, o imaginário do camponês e com o surgimento da urbes, do comércio, da produção racional para o mercado em expansão e não mais para a economia de subsistência. Nesse momento, o início do século XIX, com Michellet vai surgir a primeira cadeira de história da França, da qual ele é o criador e o regente. E nasce aí a preocupação em estabelecer fronteiras e conceitos do nacional e das literaturas nacionais, e não mais das gestas medievais que integravam uma etapa final do medievalismo. Será criado o romance nacional, o romance histórico, o romance urbano, e se busca dar conta do mundo sertanejo também. Já no século XX, Lukács concluía que findariam as narrativas de sedimentação da memória de uma comunidade, bem como as das experiências dos viajantes. E vai criar-se a categoria de um novo herói, o herói problemático, o herói do romance do século XIX, cuja história deverá ser escrita e estudada, agora pela nova criação do espírito, a história da literatura (HELENA, 2019, p. 251-252).

Sobre a queda do prestígio da história da literatura e as revitalizações:

[...] a história da Literatura sofre contestações, como o reconhecimento da Literatura como artefato verbal/linguístico imanente ou como a importância da linguagem verbal em todas as áreas das ciências humanas, o que compromete e desestabiliza “fatos” considerados indestrutíveis, como o contexto social ou político na condição de mecanismo de influência ou de explicação da obra, abalando assim a história literária, já que toda obra seria exclusivamente um artefato linguístico.

Por outro lado, a história da Literatura obteria algumas revitalizações em 1920 (o formalismo russo aceitaria uma espécie de evolução de “substituição de sistemas”), 1960-1970 (com o surgimento da Estética da Recepção) e 1980 (com o novo historicismo nos Estados Unidos).  Atualmente, ela se dilui em outras disciplinas (NASCIMENTO SILVA, 2017, p. 257).

E sobre as provocações de Acízelo de Souza quanto aos estudos culturais:

[...]

  • o comportamento arisco a todas as formas de poder (entre elas, segundo os pesquisadores dos estudos culturais, a história da literatura e a própria literatura) e o consequente relativismo cultural não “acaba conduzindo à descrença em qualquer projeto coletivo, e, portanto, à exaltação do individualismo?” (SOUZA, 2014, p.69).
  • já que o desconstrutivismo típico dessa linha de pesquisa – que  engloba todas as manifestações culturais no conceito de discurso, retirando-lhes valorações – é realizado por professores formados na tradição historicista dos centros universitários,  na  qual  tiveram  acesso aos  grandes  esquemas literários,  não  se  pode dizer que sem esse conhecimento tradicional tão execrado não haveria como questionar o modelo historicista?
  • a cultuada transdisciplinaridade, e seu desprezo pelo rigor técnico da teoria literária, analisando com o mesmo instrumental a literatura e diversas outras produções culturais e entrecruzando inúmeros campos de conceituação para analisar questões não literárias, não seria “um recuo ao historicismo extrínseco e sua integral confiança nas explicações ecléticas?” (SOUZA, 2014, p. 71). (SILVA, 2019, p. 5-6).

A partir desses trechos é possível inferir que, no terceiro capítulo de História da literatura, Acízelo de Souza traça o percurso da história da literatura desde os anos de 1500, passando por seus elementos característicos até ganhar os contornos que a consagrarão no século XIX, diante da emergência da história como ciência moderna, da influência do romantismo e da aproximação com a ideologia nacionalista. É neste esteio que os estudos literários adotam uma perspectiva histórica e a história da literatura surge como uma disciplina hegemônica com pretensões de ciência e, como tal, operava análises objetivas, o que a indisporá com a crítica, a qual, por sua vez, adotará um posicionamento subjetivo, mais pessoal, após o século XVIII.

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