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A INTERTEXTUALIDADE DO AUTO DA BARCA DO INFERNO COM OS TEXTOS BÍBLICOS

Por:   •  10/10/2018  •  Trabalho acadêmico  •  1.258 Palavras (6 Páginas)  •  3.209 Visualizações

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FLÁVIA CRISTINA DO AMARAL GUIMARÃES - 1700282

A INTERTEXTUALIDADE DO AUTO DA BARCA DO INFERNO COM OS TEXTOS BÍBLICOS.

Pré-Projeto de Pesquisa apresentado a UNIP Interativa – Polo Patos de Minas (MG) – Curso de Letras (Português), como requisito para elaboração de Trabalho de Curso.

Orientação:

Patos de Minas

2018

1. INTRODUÇÃO

“Auto” era a denominação dada às composições dramáticas a partir do século XIII, de caráter burlesco, religioso e/ou moral, em Portugal e na Espanha, cuja finalidade era entreter (como representação teatral) e moralizar difundindo a fé cristã (característica que foi se perdendo durante a Idade Média, que ao popularizar-se objetivava apenas o entretenimento).

O Auto da Barca do Inferno, obra prima de Gil Vicente, retrata clara e fielmente, através das críticas sociais, a sociedade portuguesa da época, de acordo com a afirmação de Paul Teyssier:

A Barca do Inferno é uma peça de riqueza excepcional, desenrolando-se em vários planos e dilatando-se em várias dimensões. É uma evocação de certos tipos sociais quinhentistas. É também uma sátira feroz contra os grandes e os poderosos – o aristocrata orgulhoso, o frade dissoluto, o juiz corrupto – mas não poupa os pecadores de condição mais modesta (TEYSSIER, 1982: 50 e 51).

Com temas do cotidiano envolvendo personagens comuns a qualquer ambiente do século XVI, Gil Vicente expôs a fragilidade do caráter humano mediante (de acordo com as convicções dos textos bíblicos) os parâmetros do caráter impecável de Deus. Abordagens e questionamentos de comportamentos (biblicamente) inapropriados (e suas consequências) como: prostituição, falsa religiosidade, luxúria e avareza, por exemplo, fizeram-se presentes através do olhar de Gil Vicente sob a forma de “juízo eterno” (ou o juízo final). Neste ponto observa-se a interação entre a teologia e a literatura (intertextualidade entre os discursos), atendendo de forma prazerosa tanto a quem buscava apenas o entretenimento, bem como a quem alcançava o objetivo de conscientização através do (claro) lado moralizador deste auto.

2. OBJETIVOS

 2.1. Objetivo Geral

O objetivo deste trabalho é mostrar a intertextualidade entre o texto de Gil Vicente “Auto da Barca do Inferno” e a Bíblia.

Com algum conhecimento teológico é inevitável não associar o texto Vicentino aos textos bíblicos, identificando uma forte intertextualidade entre eles, pois o autor aborda de forma muito precisa, apesar de usar humor, ironia e fortes críticas, ensinamentos e valores da fé cristã e as consequências de utilizar-se (ou não) deles.

A intertextualidade pode ser observada sob vários pontos, mas é necessário um certo conhecimento de ambos os textos, para que se possa pontuar a interação, tanto do escritor quanto do leitor (ou receptor, no caso de encenações teatrais), o que se encaixa perfeitamente no ponto de vista de ORLANDI (1996, p.259), que diz que “a intertextualidade se define pela remissão de um texto a outros textos para que ele signifique”.

2.2. Objetivos Específicos

A época em que as obras de Gil Vicente foram produzidas foi a de transição da cultura medieval (com seus ideais de uma sociedade fortemente teocêntrica) para a cultura clássica do Renascimento, onde se observa a presença  de figuras da mitologia, crítica e denúncias sociais, com o intuito de apontar “os maus caminhos” das pessoas da sociedade portuguesa da época; buscando mostrar sua “humanidade”.

Todo o texto de Gil Vicente se vê envolvido de forma muito coerente com os textos bíblicos, partindo do momento da entrada do pecado no mundo (segundo a Bíblia, texto presente em Gênesis 3-4, conhecido como “Pecado Original”) através do engano (pela figura da serpente), da ambição e desobediência (figuras de Adão e Eva) até o destino final daqueles que obedecem aos mandamentos bíblicos ou decidem usufruir do pecado de forma aberta (justificando suas próprias necessidades e motivos como seres humanos livres) ou de forma mais velada, desafiando a onisciência e onipresença de Deus (Jeremias 23; 23-24).

Com a finalidade de remissão dos pecados mediante arrependimento (durante a vida) e possibilidade de uma vida eterna após a morte, segundo a fé cristã existe um momento que todos irão passar, vivos e mortos, indistintamente: o momento do julgamento e a separação do “joio do trigo” (1 Pedro 4; 4-6 / Mateus 13:30). Por isso, a dualidade céu e inferno é tão importante para destacar comportamentos considerados adequados os não, segundo o ponto de vista cristão, independentemente de serem adequados os não durante a vida “terrena”, antes da morte dos indivíduos.

3. JUSTIFICATIVA

Antes mesmo de ser iniciada a justificativa, é interessante que seja observado um conceito de intertextualidade, onde define que “não há fronteiras, não há linha divisória entre o eu e o outro, não há ruptura. É a retomada intencional da palavra do outro” (DISCINI, 2001, P.11).

O presente trabalho se justifica no sentido de proporcionar subsídios relevantes em relação à identificação da intertextualidade entre textos teológicos e a obra de Gil Vicente.

O Auto da Barca do Inferno foi escrito em uma época semelhante à nossa, quando o homem se expunha a perigos buscando novas descobertas e comportamentos. Observa-se pelo texto que houve da parte de Gil Vicente uma grande preocupação sobre a ética no seu tempo, por isso criticou tudo e todos aqueles que se desviavam do comportamento ético. Em sua obra, ele procura demonstrar que a vida terrena deve se guiar por princípios religiosos, claramente assumidos (tema tão discutido atualmente e muitas vezes alvo de questionamentos quanto à intolerância religiosa).

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