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A Paper Sobre Variação Linguística

Por:   •  4/11/2022  •  Seminário  •  3.259 Palavras (14 Páginas)  •  113 Visualizações

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Francineudo Alves Ferreira¹ 

Giuliana Muñoz Araújo¹

Jainara Lopes de Sousa¹

Fabiana dos Santos²

  1. INTRODUÇÃO

A Variação Linguística é um tema recorrente no âmbito social, o Brasil tem como idioma oficial o Português, entretanto ele não é um país monolíngue, há uma pluralidade de línguas que podem ser observadas nos idiomas indígenas, e nos idiomas de estrangeiros que vivem em território brasileiro. Contudo, é de suma importância reconhecer que essa diversidade linguística está presente na sociedade e principalmente no âmbito escolar, para que assim, tanto o discente como o docente tenham a familiaridade com as diferenças linguísticas que permeiam nesse ciclo social.

Bagno (2015) garante que é necessário mostrar, em sala de aula, que a língua varia e que existem diversas maneiras de dizer alguma coisa e que todas podem corresponder a um significado diferente, mas eficaz do recurso que o idioma oferece a seus falantes.

O mesmo autor afirma que “[...] todas as variedades de uma língua têm recursos linguísticos suficientes para desempenhar sua função de veículo de comunicação, de expressão e de interação entre seres humanos” (BAGNO, 2021, p. 25).

Com base no enunciado proposto por Bagno é certo assegurar que a escola deve trabalhar a variação linguística, visto que no ambiente escolar existe uma pluralidade de alunos advindos de vários lugares, o ensino não deve limitar-se  apenas há uma unidade linguística, mas sim, em todas as suas variedades, e com isso transmitir aos alunos o conhecimento de que há uma diversidade linguística e destarte evitar o preconceito linguístico. Os professores também devem estar atentos às multiplicidades de variedades na linguagem do aluno.

Um dos meios de evidenciar esse tema em sala de aula é através dos livros didáticos propostos para o ensino/aprendizagem do estudante, é notório que a norma padrão é bem mais evidenciada nos livros em relação a variedade linguística, mesmo essa sendo uma temática tão importante para ser discutida e validada. Assim como o aluno tem acesso a aprendizagem da norma-padrão, é fundamental também que ele tenha esse mesmo acesso aos ensinos da variação linguística.

Partindo dessa premissa o objetivo deste trabalho é analisar as variações linguísticas dentro do contexto escolar e como esse tema é tratado e elaborado nos livros didáticos e aplicado em sala de aula. Foram analisados 3 livros didáticos de Língua Portuguesa do ensino fundamental II, tendo como princípio o estudo de verificar e assegurar que a variedade linguística se faz presente como objeto de aprendizado para os educandos.

  1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A Língua Portuguesa é viva. Portanto, claro, ela se torna variável e flexível. As variações linguísticas são características intrínsecas à língua externada que ocorre em meio ao contexto histórico, geográfico, social e cultural.

O ser humano possui sua identidade social e ele irá se comunicar de acordo com o ambiente no qual ele está inserido. Com esse entendimento facilita, sobretudo, a democratização do ensino e da educação. Quando não há o reconhecimento da variação linguística, abre-se um espaço para uma cultura discriminatória, denominada como preconceito linguístico.

Bagno (2015, p. 24), evidencia essa problemática dizendo que “[...] onde não existe uma política linguística bem informada e esclarecida, a ignorância (ou a má-fé) se instala com a maior tranquilidade.”

A variação linguística é objeto de estudo da Sociolinguística que é o ramo da Linguística que estuda a linguagem humana em seus mais variados contextos. Esses contextos podem ser diferenciados em quatro categorias, que são elas:

Diastráticas (conhecidas como sociais) que correspondem ao grupo ou ao ambiente no qual o indivíduo está inserido, ou seja, as pessoas com que ele convive e compartilham os mesmos interesesses, que podem ser como idade, gênero, profissão, religião, classe social e etc.

Essa variante pode ser observada como o uso de gírias que pertencem ao meio social dos jovens e também os jargões que podem ser usados em determinados ambientes profissionais.

Diacrônicas (conhecidas como históricas) essa variante corresponde à linguagem que era usado no passado, mas que hoje caiu em desuso, que equivale ao arcaísmo termo que que refere-se às palavras que não são mais usadas.

Essa variedade pode ser encontrado em livros, jornais ou revistas antigas. Veja o exemplo a seguir:

“[...] e o cortiço palpitou inteiro na trêfega alegria do domingo. Nas salas do barão a festa engrossava, cada vez mais estrepitosa; de vez em quando vinha de lá uma taça quebrar-se no pátio da estalagem, levantando protestos e surriadas.” (AZEVEDO, 2019, p. 108, grifo nosso). Essas palavras que estão em destaques são exemplos dessa variante.

  Diatópicas (conhecidas como regionais ou geográficas) essa variante relaciona-se de acordo com a região que cada falante de uma mesma língua vive, isso ocorre porque diferentes regiões possuem sua cultura, tradições e hábitos.

Ela pode ser observada em regiões que possuem um dialeto “caipira” ou em palavras que podem ter diferentes nomes em cada região. Exemplo disso: No Goiás se chama mandioca, no Sul tem por nome aipim, já no Nordeste se diz macaxeira.

Diafásicas (conhecidas como estilísticas) são as variedades linguísticas que se adequam ao ambiente ou situação que o sujeito está estabelecido, que necessita uma comunicação formal ou informal dependendo da situação.

Visto que a variação linguística é objeto de estudo da Sociolinguística e possue definições e características, chega-se a um entendimento de que sim, ela precisa ser objeto de estudo também em sala de aula.

Com base nesse exposto faz se primordial citar que:

A variação linguística tem que ser objeto e objetivo do ensino de língua: uma educação linguística voltada para a construção da cidadania numa sociedade verdadeiramente democrática não pode desconsiderar que os modos de falar dos diferentes grupos sociais constituem elementos fundamentais da identidade cultural da comunidade e dos indivíduos particulares e que denegrir ou condenar uma variedade linguística equivale a denegrir e a condenar os seres humanos que a falam, como se fossem incapazes, deficientes ou menos inteligentes [...]. ( BAGNO, 2015, p. 17-18, grifos do autor).

O foco maior da educação brasileira no ensino de Língua Portuguesa está na gramática e sua norma culta, o que torna o ensino apropriado a apenas uma parte dos alunos que já possuem um conhecimento sobre as regras gramaticais e o seu uso tanto na forma escrita e falada. Parafraseando Bagno (2021), todos nós temos nossa própria língua e maneiras de falar, mas não podemos deixar que nos afaste do meio social que estamos inseridos.

Entende-se por norma-padrão a forma da língua  que deve ser usada perante as autoridades, em uma apresentação de um trabalho na faculdade, escritores e jornalistas. É a língua ensinada nas ecolas tendo como base a gramática normativa. Essa língua é o foco central para ser ensinado na escola, deixando de lado a variação linguística. E com isso adotando o preconceito linguístico e causando constrangimento no aluno que faz uso da variação linguística em sua linguagem, isso ocorre principalmente com os alunos mais pobres. Esse tipo de preconceito faz com que o aluno que chega na escola com uma variedade linguística diferente da que é ensinada na escola seja considerada um “deficiente” linguístico.

Isso pode se tornar uma grande problemática tanto para o discente como o docente, ocasionando assim um fracasso escolar,  no fragmento abaixo temos uma clara visão do problema a ser evitado:

- Alguns estudos têm revelado uma triste realidade no nosso sistema educacional – continua Irene. – Os professores, administradores escolares e psicólogos educacionais tratam o aluno como um “deficiente” linguístico, como se ele não falasse língua nenhuma, como se sua bagagem linguística fosse “rudimentar” [...]. Isso cria, no espírito do aluno pobre, um sentimento de rejeição muito grande, levando-o a considerar-se incapaz de aprender qualquer coisa. Por outro lado, cria no professor a sensação de estar tentando ensinar alguma coisa a alguém que nunca terá condições de aprender. Daí resulta que o aluno fica desestimulado a aprender, e o professor, desestimulado a ensinar. (BAGNO, 2021, p. 29, grifos do autor).

Percebe-se então como é importante o professor ter conhecimento das variedades linguísticas e como esse tema deve ser estudado em sala de aula, para que os alunos também tenham o conhecimento de que a língua é viva, ela muda, e que cada pessoa possue um jeito de falar.

Essa diversidade linguística precisa ser conhecida dentro do ambiente escolar e é necessário que haja uma abordagem para evidenciar esse assunto.

Uma alternativa para essa mudança seria conversas abertas com os discentes, fazendo-os refletir sobre todo o processo linguístico entendendo que em nossas interações sociais cada ser humano se expressa de distintas maneiras, fazendo-os compreender que existem lugares, hábitos e condições diferentes em cada lugar e por vários motivos, cada pessoa utiliza signos e códigos diferentes. ( SILVA, 2021, p. 8).

Para tanto, deve-se estudar as duas formas juntas, tanto a norma-padrão como a sua variedade, cada uma possue sua importância na vida do ser humano e no ambiente em que ele estiver.  A questão não é substituir uma por outra, mas sim fazer com que o aluno se familiarize com as duas temáticas e ter consciência de que a variação linguística também está certa.

Existem vários recursos que podem dar ênfase nesse tema, um deles são os livros didáticos que auxiliam os professores na aprendizagem do aluno, mas como foi mencionado anteriormente esse recurso não abrange tanto a variação linguística e mantêm seu foco na norma-padrão. Conforme Bagno (2013) cita que os livros didáticos possuem informações precárias sobre o avanço da linguagem.

Esse instrumento de ensino auxilia e facilita a metodologia do professor em sala de aula, entretanto, como seu foco principal é o ensino da gramática, esse recurso não fica cabível para todos, apresentando um ensino mecanizado e favorável para apenas uma parte.

Os livros didáticos são de extrema importância para o ensino da língua materna, mediante isso se faz valer o foco para trabalhar a variação linguística em seus conteúdos.

A escola é um ambiente onde agrega uma variedade de alunos, com costumes e dialetos diferenciados.

Segundo Bagno (2015, p. 35, grifos do autor) afirma que:

a função da escola é, em todo e qualquer campo de conhecimento, levar a pessoa a conhecer e dominar coisas que ela não sabe e, no caso específico da língua, conhecer e dominar, antes de mais nada, a leitura e a escrita e, junto com elas, outras formas de falar e de escrever, outras variedades de língua, outros registros.

Bortoni-Ricardo (2005, p. 15) acrescenta que “a escola não pode ignorar as diferenças sociolinguísticas. Os professores, e por meio deles, os alunos têm que estar bem conscientes de que existem duas ou mais formas de dizer a mesma coisa.”

Destarte a escola não deve fugir do reconhecimento da variação linguística, é necessário que o ensino escolar esteja aberto para as diversas variedades linguísticas, tornando assim um ensino eficiente e inclusivo para todos.

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