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A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA EM SALA DE AULA: O QUE CORRIGIR? COMO CORRIGIR? QUE PRÁTICA ADOTAR?

Por:   •  26/5/2016  •  Artigo  •  1.553 Palavras (7 Páginas)  •  430 Visualizações

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A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA EM SALA DE AULA: O QUE CORRIGIR? COMO CORRIGIR? QUE PRÁTICA ADOTAR?

Mirelly Pereira de Souto

Universidade Estadual da Paraíba

mirellyletras@gmail.com

Resumo:

O presente estudo traz uma reflexão teórica acerca da prática docente no que diz respeito à forma de tratamento dada as variações linguísticas em sala de aula, tema que gera muitas discussões e incertezas por parte dos professores que muitas vezes não sabem como abordá-las e se devem ou não corrigi-las com receio de constrangerem o aluno. Partindo desse pressuposto, este artigo traz também algumas sugestões para o trabalho com a análise linguística, que é uma forma de ensino que se apoia no uso de atividades metalinguísticas e epilinguísticas, visto que o objetivo é levar os discentes a aprimorarem as habilidades de oralidade, leitura e escrita, tão essenciais em sua vida escolar e em sociedade, sendo então uma forma a mais para se ensinar aspectos gramaticais em sala, porém partindo de situações reais de uso e de gêneros diversificados, saindo do tradicional proposto pelo livro didático através de suas atividades (na maioria dos casos) mecanizadas e sem sentido fora do ambiente escolar.

Palavras – chave: variações linguísticas, prática docente, aluno.

Introdução

Em relação ao ensino de Língua Portuguesa os aspectos gramaticais são considerados mais importantes tanto por parte do professor quanto da própria escola, que priorizam ensinar a norma padrão pelo fato de ser o “falar” de prestígio, ou seja, a escola tem por objetivo “ajudar” o alunado a ascender social e economicamente por meio do ensino, portanto, da norma padrão, pois como sugerem os OCEM (p. 18, 2006)” pode-se dizer que as ações realizadas na disciplina de Língua Portuguesa, no contexto do ensino fundamental II, devem propiciar ao aluno o refinamento de habilidades de leitura e de escrita, de fala e de escuta”.

Sendo assim a disciplina procura “refinar” as habilidades de leitura, escrita, fala e escuta, ou seja, melhorar, tornar mais cultas essas habilidades, porém, em alguns casos a escola acaba por silenciar seu aluno exatamente por desconsiderar o seu falar, indicando-o como errado, sendo apenas o formal considerado o modelo a ser seguido, o que vem a ser um equívoco por criar em sala de aula o preconceito com relação à linguagem da turma ou de grande parte dela.

Este artigo procura focar como a disciplina de Língua Portuguesa trabalha a variação linguística trazida pelo aluno em seus conhecimentos prévios para sala de aula e que postura o professor assume ao se deparar com ela. Para tanto, foi realizada uma pesquisa qualitativa, com relação ao caminho da investigação foi realizada uma pesquisa dedutiva, pois parte da teoria para a análise dos dados, tendo como embasamento teórico as contribuições de Mendonça, Geraldi (2006) e Possenti (2006), Bortoni - Ricardo (2004).

1 - Função da escola

        Quando se fala em ensino de Língua Portuguesa associa-se questão das regras gramaticais, isso porque a escola, desde muito cedo, acostuma-nos que para ter boas notas é necessário escrever e falar bem, para isso saber das regras é fundamental.

Possenti (2006), em seu livro Porque (não) ensinar gramática na escola afirma que tendencialmente o objetivo da escola é ensinar o português padrão, o que é correto. Pensando nisso, o que procuramos aqui analisar as formas usadas para que esse português padrão seja aprendido, visto que o que acontece é uma desvalorização do falar que o aluno traz consigo.

          Quando o aluno chega à sala de aula com um “falar” diferente do que é pregado pela norma padrão, o professor pode ter, segundo Bortoni - Ricardo (p. 38, 2004), as seguintes posturas:

  • O professor identifica os “erros de leitura”, isto é, erros na decodificação do material que está sendo lido, mas não faz distinção entre diferenças dialetais e erros de decodificação na leitura, tratando-os todos da mesma forma;
  • O professor não percebe o uso de regras não padrão. Isto se dá por duas razões: ou o professor não está atento ou o professor não identifica naquela regra uma transgressão, porque ele próprio a tem em seu repertório. A regra é, pois, “invisível” para ele;
  • O professor percebe o uso de regras não padrão e prefere não intervir para não constranger o aluno;
  • O professor percebe o uso das regras não padrão, não intervém, e apresenta, logo em seguida, o modelo da variante padrão.

A abordagem do professor é muito importante durante a concepção do falar ou da leitura do alunado, pois dependendo do que é dito o aluno pode ficar estagnado durante as aulas, com medo de falar ou ler e errar novamente e, por isso, ser motivo de risos para os demais colegas. A tirinha abaixo do Chico Bento na escola exemplifica claramente uma situação de um aluno do interior sendo corrigido pela professora:

[pic 1] Disponível em: http://wordsofleisure.com/2013/10/15/tirinha-do-dia-chico-bento-e-o-portugues/, acesso em 29 de junho de 2015.

Na situação exemplificada acima percebemos haver uma dura correção por parte da professora, porém sem compreensão para o personagem Chico Bento, pois ao responder “I eu qui vô sabê?/ Ocê também feiz prova?” ele não queria desacatá-la, isso apenas demonstra que não entendeu a correção feita, logo que não partiu de uma reflexão, a própria fisionomia do Chico comprova isso no último quadrinho, o desapontamento por não entender o estresse da professora e o que havia errado, logo que seu falar em casa com os familiares e amigos é certo então por que na escola não?

São situações como esta que deixam os professores muitas vezes indecisos: o aluno falou errado, como deve ser corrigido? Se for preciso respeitar as diferenças, então o erro de oralidade do aluno não deve ser corrigido?

Essas questões merecem ser refletidas pelo profissional, pois, o que não pode acontecer em sala é o constrangimento no aluno, e mostra que existem formas diferentes podem ser reformulados durante a aula é essencial deixar claro com a turma que as variedades da língua não são erros e que precisam ser respeitadas por todos, explicar que dependendo da situação comunicativa falar “cumê” ou “prantá” em lugar de comer e plantar não são erros, só não estão de acordo com o que o português padrão propõe, sendo, no entanto entendida pelos interlocutores que podem ser amigos ou familiares. É necessário ensinar a norma culta porque os alunos precisam aprendê-la para se saírem bem tanto em situações formais quanto informais de uso da língua.

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