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Análise Crítica Do Discurso. Uma Proposta Para Uma Análise Crítica Da Linguagem

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Por:   •  21/9/2014  •  8.188 Palavras (33 Páginas)  •  459 Visualizações

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ANÁLISE CRÍTICA DO DISCURSO

UMA PROPOSTA PARA A ANÁLISE CRÍTICA

DA LINGUAGEM

Cleide Emília Faye Pedrosa (UFS)

Origem da Análise Crítica do Discurso

resumo histórico

A partir da década de setenta, desenvolveu-se uma forma de análise do discurso e do texto que identificava o papel da linguagem na estruturação das relações de poder na sociedade (FAIRCLOUGH, 2001). Contudo, não podemos deixar de registrar que na década anterior, alguns movimentos consolidavam estudos sobre a importância das mudanças sociais como perspectiva de análise. Na Grã-Bretanha, um grupo de lingüistas desenvolveu uma “lingüística crítica”, ao articular as teorias e os métodos de análise textual da “lingüística sistêmica”, de Halliday, com teorias sobre ideologias. Na França, Pêcheux e Jean Dubois desenvolveram uma abordagem da análise de discurso, tendo por base, especialmente, o trabalho do lingüista Zellig Harris e a reelaboração da teoria marxista sobre a ideologia, feita por Althusser, que ficou conhecida como Análise do Discurso Francesa (ADF).

Contrapondo as duas vertentes, verificamos que a primeira destaca a análise lingüística, porém, com pouca ênfase nos conceitos de ideologia e poder, e a segunda enfatiza a perspectiva social, relegando a análise lingüística. Ambas apresentam uma visão estática das relações de poder, enfatizando o “papel desempenhado pelo amoldamento ideológico dos textos lingüísticos na reprodução das relações de poder existentes” (FAIRCLOUGH, 2001: 20). O fato é que as lutas e as transformações de poder não mereceram a atenção exigível, considerando-se a linguagem em si e seu papel.

Já em 1990, devido aos estudos limitadores de algumas teorias em Análise do Discurso (AD), surge a Análise Crítica do Discurso (ACD). Um marco para o estabelecimento dessa nova corrente na Lingüística foi a publicação da revista de Van Dijk, “Discourse and Society”, em 1990. Entretanto, é importante acrescentar publicações anteriores, como os livros: “Language and power”, de Norman Fairclough, em 1989; “Language, power and ideology”, de Ruth Wodak, em 1989; e a obra de Teun van Dijk sobre racismo, “Prejudice in discourse”, em 1984.

Janeiro de 1991 foi um mês importante para o desenvolvimento dessa nova perspectiva da linguagem, tendo como pano de fundo um pequeno simpósio em Amsterdã. Vários nomes, hoje relevantes em ACD, se reuniram por dois dias: Teun van Dijk, Norman Fairclough, Gunter Kress, Theo van Leeuven e Ruth Wodak. O interessante é que eles apresentaram diferentes enfoques de estudo. Dessa forma, esse tipo de análise surgiu com um grupo de estudiosos, de caráter internacional e heterogêneo, porém, estreitamente inter-relacionados.

Propostas da ACD

A ACD propõe-se a estudar a linguagem como prática social e, para tal, considera o papel crucial do contexto. Esse tipo de análise se interessa pela relação que há entre a linguagem e o poder. É possível defini-la como uma disciplina que se ocupa, fundamentalmente, de análises que dão conta das relações de dominação, discriminação, poder e controle, na forma como elas se manifestam através da linguagem (WODAK, 2003). Nessa perspectiva, a linguagem é um meio de dominação e de força social, servindo para legitimar as relações de poder estabelecidas institucionalmente.

Para a Análise Crítica do Discurso, são necessárias as descrições e teorizações dos processos e das estruturas sociais responsáveis pela produção de um texto “como uma descrição das estruturas sociais e os processos nos quais os grupos ou indivíduos, como sujeitos históricos, criam sentidos em sua interação com textos” (WODAK, 2003: 19, tradução nossa). Não obstante, a relação entre o texto e o social não é vista de maneira determinista:

[...] a ACD trata de evitar o postulado de uma simples relação determinista entre os textos e o social. Tendo em consideração as intuições de que o discurso se estrutura por dominação, de que todo discurso é um objeto historicamente produzido e interpretado, isto é, que se acha situado no tempo e no espaço, e de que as estruturas de dominação estão legitimadas pela ideologia de grupos poderosos, o complexo enfoque que defendem os proponentes [...] da ACD permiti analisar as pressões provenientes de cima e as possibilidades de resistência às relações desiguais de poder que aparecem em forma de convenções sociais (WODAK, 2003: 19-20, tradução nossa).

Devido aos diferentes enfoques seguidos por analistas críticos do discurso, aceita-se a ACD não como um método único, porém como um método que tem consistência em vários planos.

Posições teóricas da Análise Crítica do Discurso

Quem trabalha com ACD a considera como uma teoria ou como um método ou, até mesmo, como uma perspectiva teórica que versa sobre a linguagem. Desse modo, a referência a essa análise como teoria, método ou perspectiva teórica é totalmente aceitável entre os analistas críticos do discurso.

A ACD é uma forma de ciência crítica que foi concebida como ciência social destinada a identificar os problemas que as pessoas enfrentam em decorrência de formas particulares da vida social e destinada, igualmente, a desenvolver recursos de que as pessoas podem se valer a fim de abordar e superar esses problemas (FAIRCLOUGH, 2003: 185, tradução nossa).

Para todos os que desenvolvem projetos com base na ACD, é de suma importância a aplicação dos resultados a que chegam em suas análises, seja em seminários para pessoas da mesma área ou profissionais de outras áreas que se beneficiem com os resultados, seja em textos escritos em que exponham suas constatações, posições e experiência ou como critérios para a elaboração de livros didáticos (WODAK, 2003).

A ACD destaca a necessidade de um trabalho interdisciplinar, objetivando-se uma compreensão adequada do modo como a linguagem opera. Assim, poderá acompanhar a manifestação da linguagem na constituição e na transmissão de conhecimento, na organização das instituições sociais e no exercício do poder. Esse tipo de análise busca uma teoria da linguagem que incorpore a dimensão do poder como condição capital da vida social. Daí, justifica-se o esforço de estudiosos da ACD para desenvolver uma teoria da linguagem que apresente essa dimensão como uma de suas premissas fundamentais. “A ACD se interessa pelos modos em que se utilizam as formas lingüísticas em diversas expressões e manipulações do poder” (WODAK, 2003:

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