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O Artigo Romantismo

Por:   •  17/12/2021  •  Trabalho acadêmico  •  2.819 Palavras (12 Páginas)  •  126 Visualizações

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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SÃO PAULO – CAMPUS SÃO PAULO

Alexia Ferreira Teixeira
SP3022838

Amor de Perdição: O realismo na forma do romance

Literatura Portuguesa III

SÃO PAULO

2021

AMOR DE PERDIÇÃO: O REALISMO NA FORMA DO ROMANCE

Alexia Ferreira Teixeira

Resumo

O seguinte trabalho se propõe a analisar a estrutura do romance Amor de Perdição de Camilo Castelo Branco por meio da crítica sociológica da literatura e pelas teorias da análise do discurso, para que seja estabelecida uma relação entre a forma da literatura e a forma da sociedade da época. Ao realizar tal análise, pretende-se a verificação de um nível de verossimilhança da obra com a sociedade portuguesa do século XIX, por meio da tipicidade de suas personagens principais.

Palavras-chave: Romantismo, Amor de Perdição, Verossimilhança, Literatura e Sociedade, Realismo na Forma.

Introdução

Toda literatura é imitação de pessoas em ação. Aristóteles compõe a sua Poética delimitando as diferentes formas de imitação. Segundo suas ideias, pode-se imitar pelo ritmo, pela melodia, pela métrica como a poesia, a tragédia e a comédia. Por imitar as ações de seres viventes, a poesia enuncia verdades gerais, isto é, diz que tipo de coisa um indivíduo de certa natureza tem a tendência de fazer. Dessa forma, “a obra do poeta não consiste em contar o que aconteceu, mas sim coisas quais podiam acontecer, possíveis no ponto de vista da verossimilhança” (ARISTÓTELES, 384-322 A.C). Das diversas formas existentes de imitação, interessa para os fins deste trabalho debruçar-se sobre a descrição aristotélica da epopeia, visto que se assemelha em certos pontos à estrutura mais moderna do romantismo.         
        A poesia épica deu início à forma narrativa, sempre retratando suas personagens como superiores aos seres de sua época. A ação em suas narrativas é completa e discorrem por longos períodos, mas ainda assim tem foco em um acontecimento único, descrito em diversos episódios com início, meio e fim. Dificilmente era encontrado nas epopeias vestígios da vida cotidiana, já que a peripécia e o “grande” era melhor e mais valorizado artisticamente que o cotidiano. Porém, tomando como exemplo a epopeia de Homero, Odisseia, é possível encontrar no canto XIX um detalhamento cauteloso de como eram os processos de limpeza e banho desempenhados pelas servas quando algum forasteiro chegava em uma casa. No episódio em que Ulisses tem seus pés lavados por sua primeira serva, Euricléia, existe um vislumbre do que viria a ser a descrição da vida cotidiana dos romances românticos do séc. XIX.
        O romantismo surge na Europa, no fim do séc. XVIII como um movimento artístico, político e filosófico. Seus valores eram antiabssolutistas e anticlássicos, já que teve como motivação os ideais do iluminismo “Liberdade, Igualidade e Fraternidade”. Em Portugal , o movimento chega com força pois existe um novo público-leitor: Por conta da evolução econômica-social e política da burguesia, ocorre uma democratização cultural e mais pessoas tem poder aquisitivo para comprar jornais e consumir obras de arte que foram rapidamente difundidas e deixaram de ser um luxo somente aristocrático. Por esses motivos, o Romantismo é, segundo Lukács, a epopeia da vida burguesa.        
        No romance
Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco, pode-se perceber que o autor utiliza de ferramentas que hoje são estudadas pela teoria da análise do discurso para criar uma verossimilhança entre a sociedade portuguesa do século XIX e as personagens principais de seu romance. Ao analisar as tipificações das personagens existentes em Amor de Perdição, percebe-se que existem invariantes que se realizam de maneiras variáveis. Isso significa, como afirma Fiorin, que no texto literário encontramos formas do discurso que estão presentes em todas as pessoas, mas que dependendo do contexto se realizam de maneiras diferentes, sem nunca deixarem de refletir a invariante original.

Amor de Perdição como Romance Romântico de Portugal

A vida econômica-social moderna de Portugal inicia-se com a independência do Brasil, causando uma crise aguda na burguesia tradicional portuguesa, que vivia principalmente da exportação para o mercado brasileiro. Por conta de diversas situações, erige-se no poder uma nova burguesia rural a partir de 1832, apoiando um novo capitalismo bancário e medidas de protecionismo e barateamento de crédito, já que essa pequena burguesia ainda não se beneficiava das grandes vendas para a nobreza e o clero. Deste cenário é que começa a ser percebida a importância das bibliotecas, que não só davam acesso à leitura pela venda, mas também proporcionavam gabinetes de leitura oral no século XIX.        
        Com o aquecimento dos jornais por conta da modernidade da prensa e dos novos leitores, muitos autores surgem nessa época denominada de Romantismo. Três gerações de autores, voltados para temas diferentes entre si, escreveram nesse período. Camilo Castelo Branco é o grande representante da 2ª geração romântica. Geração marcada pelo ultrarromantismo, o inconformismo romântico em relação ao espírito burguês, a busca por um amor inalcançável. Como relata Saraiva & Lopes,

“Sua obra trás até nós o palpitar humano das províncias nortenhas no seu tempo, com uma vida que nenhum outro ficcionista voltou a captar.” (SARAIVA & LOPES, 2005)

Sua obra se adapta aos preconceitos da época usando da ironia, do sarcasmo e da contradição para criar uma ilusão, para si mesmo e para seus leitores, de que podia vencer sua própria época, mas ao mesmo tempo revela conformismo e resignação com seu tempo. Sua produção foi muito extensa e muitas vezes é descrita como pedaços de sua autobiografia, já que muitas vezes utilizou de suas próprias experiências como inspiração para seus escritos.        
        Seu romance
Amor de Perdição foi publicado em 1862, assinalando o auge de sua popularidade como novelista. O enredo do romance segue a história de dois jovens vizinhos, Simão Botelho e Teresa de Albuquerque, que se apaixonam perdidamente, todavia são de famílias rivais e isso torna o amor dos dois inconcebível. A história se passa em Viseu, cidade localizada na região Central de Portugal. Teresa e Simão trocam simpatias pelas janelas de suas casas, gesto que logo é percebido por suas famílias que rapidamente os separam. Entre resistências e desencontros, Teresa é encerrada num convento por não aceitar se casar com seu primo Baltazar. Simão, por seu lado, busca abrigo na casa de um ferreiro amigo de seu pai enquanto bola um plano para fugir com Teresa, e passa a ser objeto de amor de Mariana, filha do dono da casa. Essa situação gera um triângulo afetivo à moda do melhor romantismo da época. Separados, os amantes trocam cartas jurando amor eterno um pelo outro, até que Simão, na tentativa de tirar sua amada do convento, mata Baltazar com um tiro e é condenado à forca. Sua pena é alterada para ser enviado à Índia por 10 anos. No momento do embarque, Simão vê sua amada pela última vez.        
        A tragicidade é explícita ao fim do romance, com a morte de Teresa no convento por tuberculose e Simão falecendo 9 dias depois de saudades, no mar. Mariana, a filha do ferreiro, se atirando ao mar para falecer afogada quando vê o corpo do amado sem vida sendo jogado do barco, completa a tragédia.        
        Por mais simples o roteiro aparente ser, nenhuma novela apresenta um desenvolvimento tão sóbrio e unitário como Amor de Perdição. A obra camiliana entrelaça a veracidade dos enredos sob a forma de precisão cronológica e genealógica, com o apoio de manuscritos, sentenças de cartório, cartas que eram das personagens, relatos complementares de quem também testemunhou o ocorrido. Camilo Castelo Branco apresenta verossimilhança em suas obras pois

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