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O ESTUDO COMPARADO

Por:   •  6/6/2022  •  Trabalho acadêmico  •  1.971 Palavras (8 Páginas)  •  81 Visualizações

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Estudo comparado.

Isabelle Martins (UNESPAR)

RESUMO: O presente trabalho  faz uma comparação entre os contos “Nas águas do tempo”, de Mia Couto e “A terceira margem do rio”, de João Guimarães Rosa. Ambos os contos têm a mesma temática, porém cada um com suas distinções, ao ler um dos contos é inevitável não lembrar do outro, obviamente que remetem a uma lembrança mesmo tendo sido escritos em épocas e lugares diferentes.

Palavras-chaves: Temática. lembranças.

O presente trabalho tem como objetivo um comparativo entre os textos, “Nas águas do tempo'', de Mia Couto e “A terceira margem do rio”, de João Guimarães Rosa. No seguinte comparativo será comparada a questão da figura paterna e suas relações na “Terceira Margem do rio” bem como o avô do conto “Nas águas do Tempo”, que será apontado através de citações, interpretações, etc. Ambos os textos têm a mesma temática, porém, são distintos em alguns quesitos. O texto será organizado da seguinte maneira: Um resumo sobre cada um dos contos, logo após um breve relato sobre os autores e por fim a comparação envolvendo a temática central dos dois contos.

A terceira margem do rio, de João Guimarães Rosa, foi publicada em 1962 no livro Primeiras estórias. O conto é narrado por um personagem não nomeado que não consegue compreender a escolha  do pai. No início o narrador relata que o pai era  normal, com rotinas normais e sem qualquer estranheza. A família era composta por pai, mãe, irmão e irmã são retratados como uma família qualquer do interior brasileiro. Certo dia o pai resolve mandar construir para si uma pequena canoa e ninguém percebe bem o motivo da decisão, mas a construção segue, apesar dos estranhamentos, após a conclusão da construção da canoa, o pai parte para o rio, onde permanece pelo resto de sua vida, sem desaparecer, sempre a vista de seus familiares, como uma silhueta parada, sentado sobre a canoa a flutuar pelas águas do rio. De nada adiantam os pedidos dos parentes e amigos que se colocam na beira da água implorando para ele retornar. As mudanças vão aparecendo com o avançar dos anos: os cabelos do pai crescem, a pele escurece do sol, as unhas ficam enormes, o corpo definha de magreza, e finalmente o pai transforma-se numa espécie de bicho. O filho, narrador do conto, com pena do pai, lhe manda, às escondidas, roupas e mantimentos, enquanto isso, na casa sem a figura paterna, a mãe encontra alternativas para disfarçar aquela ausência, então convoca seu irmão para ajudar nos negócios, depois encomendou um mestre para os filhos. Quando o primeiro neto nasce, a filha vai à beira do rio mostrar o bebê ao seu pai, que agora se tornara avô, na esperança que ele voltasse, mas de nada adiantou. A mãe, transtornada ao testemunhar a situação miserável do marido, acaba por se mudar para a casa da filha. A reviravolta do conto acontece quando o narrador toma coragem e vai lá dizer que aceita tomar o lugar do pai na canoa, e no momento em que o pai aceita a proposta, o narrador  é tomado pelo medo e se arrepende, fugindo em desespero.

Sobre o autor Guimarães Rosa (1908-1967) foi um escritor brasileiro. O romance "Grandes Sertão: Veredas" é sua obra prima. Fez parte da 3ª Geração do Modernismo, caracterizado pelo rompimento com as técnicas tradicionais do romance. Guimarães Rosa escreveu contos, novelas e romances. Muitas de suas obras foram ambientadas pelo sertão brasileiro, dando destaque aos temas nacionais, marcadas pelo regionalismo e mediadas por uma linguagem inovadora (invenções linguísticas, arcaísmo, palavras populares e neologismos). Algumas de suas obras são Sagarana (1946), Corpo de Baile (1956),Grande Sertão: Veredas (1956), Primeiras Estórias (1962).

Em “Nas águas do tempo”, de Mia Couto, publicado em 1994, a narrativa abre o livro Estórias Abensonhadas e, assim como o texto anterior, no conto também há um velho, uma canoa e um rio, cujas águas desembocam numa lagoa. O velho é um avô que resolve levar o neto para navegar em interditos territórios. Seu objetivo é ensinar o menino como é a comunicação entre os vivos e os ancestrais mortos, ou seja, os espíritos que habitam as margens do lago proibido, uma tradição de outras gerações. O narrador da história é o neto, porém a narrativa é intercalada com diálogos da mãe do menino e do avô. Numa dessas pequenas viagens, o avô decide saltar da canoa e passar para a margem, acenando ao neto com um pano vermelho que, aos poucos, vai clareando até tornar-se branco, sinal de que o velho havia deixado de ser vivente comum. Com tal visão, o menino então passa a manter a tradição de seus antepassados: “Eu acabava de descobrir em mim um rio que não haveria nunca de morrer” (COUTO, 1996, p.13).

Sobre o autor Mia Couto - Antônio Emílio Leite Couto  é um escritor moçambicano, nascido em 5 de julho de 1955, na cidade de Beira. As obras de Mia Couto fazem parte da literatura contemporânea moçambicana, algumas de suas características Presença de neologismos. Realismo mágico ou fantástico, resgate da tradição, busca da identidade nacional, Marcas de oralidade. Algumas de suas obras Vozes anoitecidas (1987), Cada homem é uma raça (1990), Estórias abensonhadas (1994),Contos do nascer da Terra (1997), Na berma de nenhuma estrada (1999), O fio das missangas (2003).  

 Ambos textos tratam da relação e ensinamentos transferidos, respectivamente, de pai para filho na “A terceira margem do rio” e do avô para o neto “Nas águas do tempo”. Analisando o primeiro conto “A terceira margem do rio” de Guimarães Rosa é evidente o distanciamento na relação entre o pai e o filho como podemos observar na seguinte fala: "Sem alegria nem cuidado, nosso pai encalcou o chapéu e decidiu dar um adeus para a gente. Nem falou outras palavras, não pegou matula e trouxa, não fez a alguma recomendação"(Rosa, Guimarães, 1994 p.1), nesse contexto o personagem “pai” faz questão de ir sozinho, mesmo o filho questionando, de nada adiantou: "Pai, o senhor me leva junto, nessa sua canoa?" Ele só retornou o olhar em mim, e me botou a bênção, com gesto me mandando para trás.” (Rosa, Guimarães, 1994, p.1). Já em "Nas águas do tempo” há uma relação mais próxima entre o avô e o neto, a qual o avô procura dar bons ensinamentos ao neto e faz questão que ele o acompanhe na sua trajetória. “Meu avô, nesses dias, me levava rio abaixo, enfilado em seu pequeno concho” (Couto, 2012,p. 9) .

Apesar de seu pai ter os deixado no conto anterior (a terceira margem do rio) os filhos ainda gostariam de estar perto do seu pai, pois o mesmo  demonstrava uma  admiração pelo pai assim com no conto “Nas águas do tempo” o neto também tinha uma admiração pelo avô e com toda a razão pois era visível o cuidado do seu avô para com ele:

(...) “ele me segurava a mão e me puxava para a margem. A maneira como me apertava era a de um cego desbenga-

lado. No entanto, era ele quem me conduzia, um passo à

frente de mim. Eu me admirava da sua magreza direita,

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