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O QUE É LITERATURA?

Por:   •  26/1/2023  •  Resenha  •  773 Palavras (4 Páginas)  •  57 Visualizações

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O QUE É LITERATURA?

Embora seja comumente utilizada no cotidiano, a palavra 'literatura' pode ser mais difícil de definir do que parece. Terry Eagleton, filósofo e crítico literário, assume a responsabilidade de discutir sua definição em “O que é literatura?”. Iniciando a discussão do tópico, o autor aborda o que talvez seja a forma mais usual de tentar defini-la, isto é, enxergar a literatura como uma escrita “imaginativa”. A problemática que gira em torno dessa definição inicia quando passamos a enxergar as obras que são consideradas literatura. Uma vez que também são consideradas literatura textos como os ensaios de Francis Bacon, os sermões de John Donne e até mesmo a autobiografia espiritual de Bunyan, como poderíamos dizer que somente o “imaginativo” pode ser compreendido como literatura?

De uma maneira simples o autor contesta essa afirmação que somente aquilo que é ficcional é literatura. Neste mesmo sentido,  acrescenta que aquilo que pode ser visto como fictício para uns, em outros contextos pode ser considerado real, como é o caso de Gibbon que, segundo o autor, certamente achava que escrevia a verdade histórica. Outra reflexão é pensarmos que embora a literatura “aceite” muitos textos "factuais", ela também exclui alguns textos ficcionais como gibis, mangás, HQs, etc.

Observando a ineficácia da definição anterior, uma outra ideia discutida pelo  crítico é tratar a literatura como o uso da linguagem de forma peculiar. Porém, antes de pensarmos no que diz Eagleton, podemos observar que ambas as definições discutidas não parecem de todo estranhas aos nossos ouvidos. Na verdade, ambas podem estar até relacionadas. Afinal, quantas vezes ao lidarmos com crianças, não tratamos como literatura somente histórias de reinos distantes, de magia e de príncipes e princesas que, ao falar, utilizam uma linguagem rebuscada e que se afasta de seu uso cotidiano?

No entanto, o autor logo critica esse pensamento de compreender a linguagem literária como um conjunto de desvios da norma habitual. Ele afirma que “a 'estranheza' de um texto não é garantia de que ele sempre foi, em toda parte, ‘estranho’” (EAGLETON, 2006, p. 8). A partir desta afirmação, podemos perceber o caminho  que o autor parece querer chegar: a “variabilidade” da literatura. Isto é, tanto a literatura como escrita imaginativa ou com desvio da linguagem padrão esbarram no fato de que, de acordo com suas definições, poderiam ou não ser consideradas literatura dependendo do contexto. Uma simples frase poderia ser considerada literatura ao ser lida e interpretada de uma forma diferente. Neste sentido, passa a ser muito mais importante como ou o porquê algo se torna literatura do que de fato “o que” a torna. Daí podemos discutir a afirmação de Eagleton de que a literatura não é uma categoria objetiva, isto porque de acordo com ele “A definição de literatura fica dependendo da maneira pela qual alguém resolve ler, e não da natureza daquilo que é lido” (EAGLETON, 2006, p. 12). Ele ainda afirma que alguns textos nascem literários, outros atingem a condição de literários. Assim, o que importa pode não ser a origem do texto, mas o modo pelo qual as pessoas o consideram.

No entanto, seria ingenuidade acreditar que o nosso próprio juízo de valor é o que torna algo literário ou não. Na verdade, de acordo com Eagleton (2006, p 24), esses juízos “têm suas raízes em estruturas mais profundas de crenças” e “têm uma estreita relação com as ideologias sociais”. Ao afirmar que a literatura se relaciona com as estruturas e ideologias sociais,  percebe-se o caráter variável destes juízos de valores, visto que eles podem ser modificados com o tempo. Afinal, algo que é socialmente aceitável hoje, pode não ser amanhã. Assim, podemos entender também a literatura como um instrumento institucional de manutenção do poder e para isso basta pensar em qual “juízo” define o que é literário. Quem define os cânones? Quem define os textos que serão lidos num curso? Pensando, na Universidade, por exemplo, órgão responsável por ditar o que será estudado dentro de um curso de literatura, observamos que aqueles que exercem o poder de escolha (reitores, corpo docente etc), em sua maioria, são pessoas que fazem parte da elite do poder, isto é, brancas, héteros e assim por diante.

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