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O Que é Ideologia de Gênero

Por:   •  11/4/2023  •  Artigo  •  838 Palavras (4 Páginas)  •  83 Visualizações

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A expressão “ideologia de gênero” tem sido um tema de bastante controvérsias e debates nos tempos atuais. Frequentemente utilizado por grupos conservadores e religiosos, o termo supõe a existência de uma doutrinação, promovida por grupos políticos progressistas em escolas e universidades, que nega a diferença biológica entre homens e mulheres. Vale ressaltar, entretanto, que o conceito “ideologia de gênero” não é reconhecido por acadêmicos e pesquisadores da área de gênero, que utilizam, na verdade, o conceito “identidade de gênero” para referenciar a forma com os indivíduos se percebem e se expressam em sociedade em relação ao gênero feminino e masculino, que pode ou não concordar com o sexo biológico.

É possível analisar que esse tema possui uma ofensiva antigênero marcada pela forte presença de um ativismo religioso. Esse ativismo religioso tem sido bastante marcante no meio de grupos laicos ou confeccionais, como a igreja católica e partidos políticos cristãos que se colocam como defensores das famílias tradicionais:

“De algum modo, e em diferente medida, costumam integrar essas investidas morais estruturas eclesiásticas, organizações e movimentos religiosos e grupos ultraconservadores, aliados ou articulados a diversos setores sociais e forças políticas. Sob variadas formas de atuação, articulação, financiamento e graus de visibilidade, tais cruzadas envolvem, além da hierarquia religiosa, movimentos eclesiais1, redes de associações pró-família e provida, associações de clínicas de conversão sexual, organizações de juristas ou médicos cristãos, movimentos e partidos políticos de direita e extremadireita (e não apenas)2, profissionais da mídia, agentes públicos, dirigentes do Estado, entre outros.”(JUNQUEIRA 2018).

A face do exposto, tais grupos criam discursos de repulsa à suposta “ideologia de gênero”, por meio da argumentação de que essa abordagem é uma ameaça aos valores e crenças tradicionais e pode prejudicar o desenvolvimento moral e emocional de crianças e jovens. Toda essa atuação acaba gerando um movimento de pânico moral na sociedade, contra a fictícia doutrina, que é uma ameaça à instituição familiar.

Em relação a esse ideal de proteção à família, Foucault (1988) explana como os cuidados com a sexualidade tornou-se um objeto de preocupação para as linhagens burguesas e aristocratas:

[...] foi na família "burguesa", ou "aristocrática", que se problematizou inicialmente a sexualidade das crianças ou dos adolescentes; e nela foi medicalizada a sexualidade feminina; ela foi alertada em primeiro lugar para a patologia possível do sexo, a urgência em vigiá-lo e a necessidade de inventar uma tecnologia racional de correção. Foi ela o primeiro lugar de psiquiatrização do sexo. Foi quem entrou, antes de todas, em eretismo sexual, dando-se a medos, inventando receitas, pedindo o socorro das técnicas científicas, suscitando, para repeti-los para si mesma, discursos inumeráveis. A burguesia começou considerando que o seu próprio sexo era coisa importante, frágil tesouro, segredo de conhecimento indispensável. (Pág. 114).

Assim sendo, as discussões sobre gênero, na concepção de grupos conversadores, representam um risco, pois intimidam e invadem as suas bases familiares. Porém, ao invés disso, tal concepção, na verdade, desencadeia ações contrárias à liberdade sexual, ao acesso à saúde reprodutiva, às diversidades sexuais e aos direitos das mulheres. Logo, a repulsa e a distorção sobre as abordagens e as discussões sobre sexualidade e diversidade, representam um retrocesso no acesso à informação sobre educação sexual.

Nesta perspectiva, percebe-se que “teoria/ideologia de gênero" é um sintagma inventado, definido e abrigado em uma retórica elaborada pelo Vaticano e por setores ultraconservadores religiosos sob sua influência (Case, 2011). Dessa maneira, são termos fabricados na formulação de rótulos políticos e religiosos, e enquanto rótulos, funcionam como signas na atuação de grupos de mobilização. A “ideologia de gênero”, para representantes religiosos pautados em marcos morais tradicionalistas, significa uma vertente teórica e política, uma invenção que ameaça a constituição das famílias e o seu papel social. Sublinha-se que a “teoria de gênero” seria um erro da mente humana, sem validade científica (Carnac, 2024).

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