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Renascimento Espanhol (Literatura)

Por:   •  19/4/2016  •  Resenha  •  1.447 Palavras (6 Páginas)  •  2.622 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
Professora: Isabel Jasinski                    Introdução às Literaturas Hispânicas
Aluna: Gabriela Ribeiro                                                        Data: 14/04/2016
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Século de Ouro e Barroco Espanhol

O Renascimento Espanhol, denominado Século de Ouro (séculos XV e XVI), foi centrado na artes plásticas mas, pricipalmente, na literatura. No que se refere ao período histórico, após séculos de lutas contra os árabes na península Ibérica, o país alcançou sua independência e, graças às descobertas no outro lado do Atlântico, acumulou grande volume de recursos financeiros. Ainda, a união da coroa com a casa dos Habsburgos aumentou a força espanhola dentro do continente europeu e acabou por gerar um dos homens mais influentes de todo o período: Carlos V. É a partir do ímpeto imperialista promovido por esse rei que se fortalecem as imagens cavaleirescas de lealdade, bravura e orgulho e do poder dominante da igreja católica, que posteriormente passariam a ser criticadas. O desenvolvimento econômico propiciado pela burguesia em outros países não aconteceu na Espanha porque a classe não constituiu papel de importância e, em decorrência disso, um empobrecimento progressivo assolou o império.

Apesar de ter sofrido influência do movimento italiano, no qual Dante, Boccaccio e Petrarca redefiniram os parâmetros de escrita da épica, da prosa e da poesia, na Espanha o Renascimento foi peculiar: devido à essa estrutura social, religiosa e governamental, o espírito da Renascença encontrado na Itália e nos países do norte não pôde ser encontrado com a mesma força, notando-se, principalmente, a ausência do equilíbrio harmônico das obras da Antiguidade. Auerbach aponta as causas dessa diferença:

“O humanismo espanhol [...] não pagonizou os espíritos; a influência italiana, muito intensa sobretudo na poesia lírica, deu lugar cedo a concepções claramente nacionais, e tão logo se manifestaram os primeiros sinais da reforma religiosa, uma violenta reação a ela se opôs. A Inquisição [...] não teve em nenhuma outra parte tanto poder quanto na Espanha; o racismo se lhe juntou, os judeus e árabes que restavam no país (mouriscos) foram perseguidos e por fim expulsos” (2015, p. 273).

Nesse sentido, as contradições entre a fé religiosa e as correntes do platonismo, racionalismo e humanismo, que põem o homem em conflito consigo mesmo, antecipam tendências estéticas barrocas. Pensando-se em literatura, essa antecipação de tendências se manifestou de formas diferentes na prosa, no teatro e na poesia.

Num primeiro momento da prosa, aparecem gêneros de romance variados: há o romance pastoral, o romance de amor aventuroso, o romance “realista popular” e, ainda, o romance de cavalaria. Dentre esses, destaca-se o romance realista (não no sentido moderno da palavra) porque se desenvolveu de forma muito particular, apresentando uma componente fantasiosa e versando sobre aventuras de personagens que fazem parte da classe mais baixa da sociedade, embora tão romanescas quanto as narrativas de cavalaria. Essa literatura urbana e social foi iniciada a partir da publicação de A vida de Lazarillo de Tormes e de suas fortunas e adversidades (1554), que marca o início da tradição picaresca. Conta a história de um jovem extremamente pobre, esperto, astuto e dissimulado que acaba satirizando as classes sociais através de suas desaventuras e más experiências, evidenciando a condição da escória daquele momento. Esse gênero se opõe ao romance de cavalaria e aos romances pastorais porque se concentra no espaço urbano e se baseia na realidade da vida espanhola, em que trabalhar com regularidade não se mostrava um ideal para nenhuma das classes. Depois de Lazarillo, muito romances picarescos surgiram e cabe aqui destacar De la vida del picaro Guzmán de Alfarache (1599), La Vida del Buscón (1626) e La hija de Celestina (1612).

Ainda tratando-se de prosa, pouco mais de cinquenta anos (período em que o romance picaresco predominou, chegando mesmo a ser imitado em vários outros países europeus) separam a publicação do Lazarillo do que depois viria a ser considerado o maior romance já escrito em língua espanhola: O engenhoso fidalgo D. Quixote de la Mancha (1605), de Miguel de Cervantes Saavedra. Um narrador culto, através de um compêndio de histórias que dialogam intensamente com a historeografia literária, nos apresenta D. Quixote, um fidalgo de ideais cavaleirescos num mundo completamente transformado após a época em que a cavalaria teve uma função verdadeira, durante o império de Carlo V. Ao opor seu herói a uma realidade que não tem mais conexão com o que ele experencia através de sua imaginação que, por ser tão poderosa, não permite nenhuma decepção e pôr ao seu lado o escudeiro Sancho Pança, em quem o bom senso realista se une à crença nas promessas de D. Quixote, Cervantes vai além da sátira aos romances de cavalaria e faz do livro um verdadeiro símbolo do povo espanhol daquele período de decâdencia.

Tratando-se do gênero dramático, o teatro espanhol é expressamente popular a medida em que une o trágico e o cômigo em seus temas, fortemente centrados na cultura do país. Apesar de Miguel de Cervantes também ter escrito peças, considera-se que o gênero só ganhou força a partir das publicações de Félix Lope de Vega y Carpio (1562-1635). Dentre as formas dramáticas, destacam-se as comédias, muito líricas, de liguagem declamatória fortemente barroca e conceptista, os entremezes, farsas grotescas representadas entre os atos das comédias e os atos sacramentais, peças religiosas ligadas ao mistério da Eucaristia. Na geração seguinte a de Lope de Vega, quem se destacou foi Calderón de La Barca (1600-1681), apesar de menos popular na sua concepção de arte, mais erudita e aristocrática. Uma de suas peças mais importantes é El alcalde de Zalamea, classificada como um drama de honor. A obra trata do sequestro e violação da filha de Pedro Crespo, Isabel, pelo capitão Don Álvaro Ataide, que passava na cidade de Zalamea por conta da guerra de Portugal e de como Crespo luta pela justiça e para recuperar o nome de sua família, desonrada. Nesse sentido, a obra opõe a modernidade ao arcaico, a cidade ao campo, o indíviduo ao poder político, e a honra adquirida pela vivência em sociedade aos valores intrínsecos.

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