A DINÂMICA ESCOLAR E SOCIAL INDÍGENA

A DINÂMICA ESCOLAR E SOCIAL INDÍGENA: UMA DESCRIÇÃO ETNOGRÁFICA DA COMUNIDADE DO INHACORÁ^[1]

Kelly Borges de Oliveira^[2]

Raquel da Silva Bueno^[3]

INTRODUÇÃO:

Considerando a especificidade dos povos indígenas no que se refere à organização sociocultural, bem como aos conhecimentos étnicos específicos e também à forma de educação utilizada por estes povos; práticas estas provindas das relações com o ambiente no qual estão inseridos e também fruto de heranças culturais percebemos quão pobre são as informações que as comunidades acadêmicas possuem acerca deste tema, principalmente tratando-se das crianças destas comunidades. Assim sendo, este estudo basear-se-á na pesquisa etnográfica realizada com crianças da comunidade indígena do Inhacorá de São Valério do Sul, a qual terá como objetivo principal compreender como se dá o processo de educação neste meio, bem como o papel da escola na comunidade frente a realidade local e cultural.

CONTEXTUALIZAÇÃO:

O local escolhido para a realização da pesquisa é a Comunidade Indígena do Inhacorá da Cidade de São Valério do Sul, localizada na região celeiro do Estado, a qual conta com duas escolas; uma de nível fundamental e outra de nível médio, as quais atendem alunos desta comunidade e é composta por professores e funcionários formados com o idioma Kaingang.

Levando em consideração a realidade supracitada os sujeitos desta pesquisa são os alunos atendidos nestas escolas da comunidade indígena, os quais serão observados no ambiente escolar, em suas relações com seus pares e ímpares.

Para conhecer melhor a comunidade bem como seus sujeitos, será feita uma imersão cultural através de uma visita na qual serão observadas as questões referentes ao cotidiano escolar por meio da etnografia. Essa imersão se dará com questionamentos que serão realizados ao líder da comunidade e também com alguns sujeitos participantes desta.

OBJETIVOS:

Através desta pesquisa discutiremos questões relevantes no que se refere ao processo educativo no meio indígena, bem como às relações que permeiam este espaço e também a importância da existência dessa comunidade escolar como um meio de resistência social e cultural. Dessa forma serão elencados os principais objetivos desta pesquisa:

• Compreender como se dá o processo educativo na comunidade do Inhacorá bem como a formação necessária dos educadores para atuarem na escola;
• Conhecer o dia a dia da comunidade, considerando questões sociais, culturais e educacionais desenvolvidas no meio;
• Discutir a importância dos Povos Indígenas na sociedade brasileira para compreender a luta destes pela validação de seus direitos e também como forma de resistência às práticas de sua cultura perante o sistema.

MEDIAÇÕES:

As mediações serão feitas por intermédio da relação estabelecida na visita que será feita a comunidade através de uma entrevista que será realizada em forma de diálogo, capturas de imagens e áudios (se for permitido pela comunidade), onde os sujeitos da comunidade e as pesquisadoras irão interagir uns com os outros.

Serão questionados sobre alguns aspectos:

• Como se dá a formação dos educadores das escolas?
• Qual a importância da escola para a comunidade?
• Todos os funcionários são indígenas?
• Qual a relação cultural da comunidade com a escola? Quais são os conteúdos trabalhados em sala de aula?
• Além da língua materna existe o ensino de outras línguas na escola?

RESULTADO ESPERADO:

Por meio desta pesquisa esperamos compreender melhor a comunidade escolar indígena do Inhacorá bem como se dá todo o processo educativo, as leis que amparam essa modalidade de ensino. Para que isso acontecesse além dessa primeira visita a comunidade realizamos a leitura de materiais referentes à Educação Indígena. A pesquisa está apenas no início, temos muito que buscar e conhecer para concluir esse estudo.

RELATO DA PESQUISA ETNOGRÁFICA

Chegamos à cidade de São Valério do Sul na tarde do dia 26 de junho de 2019. Ao chegarmos na cidade nos dirigimos até o CRAS do município onde conversamos com a coordenadora responsável pela Comunidade pesquisada. Logo no início a mesma nos explicou que o Cacique da Comunidade não estaria presente, pois teve que resolver algumas questões burocráticas em outra cidade.

Partimos então em direção à Comunidade, a qual fica 17 km distante do município e o acesso é por estrada de terra. Conforme nos aproximávamos da área indígena encontrávamos no caminho integrantes da comunidade, alguns de bicicleta, outros a pé. Cada um que passava por nosso carro nos cumprimentava com um aceno de mão ou uma breve reverência com a cabeça.

Chegando na Comunidade do Inhacorá percebe-se que a mesma é basicamente uma vila. Possui estradas com calçamento e logo na entrada da área encontramos um Posto de Saúde que atende toda a comunidade residente na área. Logo adiante pudemos ver muitas residências construídas em madeira e alvenaria que seguem no caminho que nos leva até a escola de nível fundamental que visitamos nesta tarde. Em frente a escola estavam estacionados carros de alguns professores que não são moradores da comunidade. Algo que chama muita atenção é o silêncio que permeia a comunidade, escuta-se somente canto de pássaros, sons de portões e portas e de veículos que passam em alguns momentos.

Ao entrarmos pelo portão da escola avistamos toda a estrutura, à direita estavam sentadas em um banco duas professoras da escola que supostamente estavam em seu intervalo de aula. Nos aproximamos então de três professores que estavam em volta de uma mesa de refeitório que fica no pátio da escola e ali começamos nossa conversa.

A professora Eulália nos acompanhou na visita e como já conhecia estes professores iniciou o diálogo nos apresentando. Aos poucos fomos estabelecendo um diálogo aberto, onde pudemos questioná-los sobre a escola. Conversamos com uma Pedagoga formada pela Unijuí, um professor de ciências e outro de história, todos indígenas e residentes da área. Estes nos explicaram que o Cacique é também professor e diretor da escola, e que sem a autorização dele não poderíamos interagir com os alunos, porém eles nos auxiliariam respondendo nossas dúvidas.

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