Bernard Lahire

Sucesso escolar nos meios populares- As razões do improvável- Bernard Lahire

Bernard Lahire, no capítulo I do seu livro “Sucesso Escolar nos Meios Populares- as razões do improvável” (2004), inicia o texto contando um caso de uma criança de camada popular que vai bem em seus estudos na escola. Com esse quadro atípico traz ao leitor uma indagação: Como uma família de camada popularcuja família é desprovida de recursos tais como, vive na periferia, os pais são analfabetos, tem pouco conhecimento do universo escolar, entre outros, poderia levar uma criança a ter o “sucesso” na escola?

Para compreender esta situação, ele parte do pressuposto de que há diferenças secundárias entre as famílias dos meios populares que podem explicar a alternância entre o sucesso e fracasso escolar mesmo em situações e contextos tão próximos. O objeto central da sua pesquisa consiste em perceber as semelhanças e diferenças entre as configurações familiares de classes populares que tem o perfil próximo e o universo escolar.

Lahire acredita que a sociologia também pode ajudar a compreender casos específicos, para isso, usou como metodologia a Antropologia da Interdependência, que propõe a pesquisar uma série de questões a respeito de um objeto singular e limitado, questionando a sua prática. Para isso o autor traça alguns perfis familiares e usa como instrumentos de pesquisa a entrevista com 26 famílias, além disso faz notas etnográficas destas entrevistas e dos materiais recolhidos no ambiente escolar: Ficha com informações escolares, cadernos de avaliação, entrevistas com alunos, professores e diretores. A todo o momento, o autor ressalta a preocupação com todos os detalhes e o trabalho de reflexão feito em todo o processo de pesquisa.

Nessa linha de pensamento, os resultados só podem ser compreendidos ao passo em que o sujeito pesquisado seja conhecido dentro do seu contexto. A criança constitui seu pensamento, seu modo de ser e agir por meio das relações de interdependências com as pessoas com quem tem mais contato, tendo então a família grande participação na construção do sujeito. A criança não reproduz necessariamente as formas de agir da sua família, mas encontra o seu próprio jeito a partir do meio em que está inserida. Portanto é na compreensão das redes de interdependências da criança que podemos perceber o comportamento escolar da criança e como isso reflete na escola e nas sua relações sociais.

Visto isso, o autor ainda chama a atenção de que o fracasso escolar pode ser produzido pela falta de interação, conhecimento e relação dos alunos com regras e organizações escolares.  A família e a escola então são redes que se complementam. Para descrever e analisar as configurações familiares e tentar compreender essas relações Lahire cita cinco configurações familiares: As formas familiares de cultura escrita, as condições e disposições econômicas, a ordem moral doméstica, as formas de autoridade familiar e as formas familiares de investimento pedagógico.

A primeira, as formas familiares de cultura escrita, é de extrema relevância, já que o hábito e a familiaridade com a leitura e com a escrita podem favorecer o sucesso escolar. Quando a criança já tem esse contato com ambos ela tende a ter mais recursos ao entrar na escola.

 A segunda, diz respeito as condições e disposições econômicas, estas são necessária para o desenvolvimento de determinados hábitos e atitudes familiar, mais não são suficientes por si só.

A ordem moral doméstica, consiste em direcionar de alguma maneira o comportamento do sujeito em relação a escola. Pais que não conseguem ajudar os filhos em questões escolares, tentam de alguma forma controlar seus estudos, seja por meio de exigências de bom comportamento, respeito a autoridade do professor, entre outros. Além disso, outro fator que tem relevância no contexto familiar são as suas formas de ordem e organização.

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