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O ESTIGMA DA TIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E SEUS PRECONCEITOS

Por:   •  20/10/2022  •  Artigo  •  1.858 Palavras (8 Páginas)  •  61 Visualizações

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O ESTIGMA DA TIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E SEUS PRECONCEITOS

Carlos Davi Pereira Sousa

Houve um período histórico em que apenas os pais e mães eram os responsáveis pela educação de seus filhos, esta realidade mudou drasticamente durante a revolução capitalista-burguesa e suas subsequentes. O capitalismo industrial precisava cada vez mais da sociedade, era preciso de mão de obra barata e a inserção da mulher no mercado de trabalho era uma necessidade cada vez maior, e assim aconteceu. Essa inserção feminina causou uma grande transformação, a figura feminina ligada apenas ao cuidado do lar e dos filhos, mudou. A mãe já não podia cuidar da casa, dos filhos e do trabalho, assim a necessidade de transferir essa missão de educar os filhos foi repassada a outra figura social, a Escola. Que por sua vez passou por grandes transformações, entre elas a mudança de público, que na Idade Média era o clero e a nobreza e passou a ser os burgueses, e posteriormente ampliou seu público a todos. Podemos observar esse contexto da iniciação da revolução industrial e suas mudanças sociais, na obra de Rousseau “O Emílio da educação”, quando ele pensar como deveria ser a educação, na obra para uma só criança o Emílio, e esta deveria ser feita principalmente pelas mães, as melhores educadoras por natureza, mas que devido à nova realidade, já não exerciam esse papel de educar antes o deixava para a ama e o preceptor da criança. Ademais, Rousseau já defendia a competência tanto da ama como do preceptor, para que houvesse uma boa educação.

Essa conjunção social não se restringiu apenas ao século XVII em que Rousseau viveu, na hodiernidade é possível observar as mesmas questões e seus agravamentos com as novas revoluções que vivemos, industrial e tecnológica. Sobretudo no Brasil, um país que vive uma crescente industrialização em todas suas regiões. E por consequência ocorre essa mudança de responsabilidade da educação da criança da figura da mãe e pai para a escola, já que estes trabalham pelo menos oito horas por dia, fora a carência de formação para ensinar. Essa conjuntura gerou diversas problemáticas, entre elas a criação da figura da “tia” na educação, como uma espécie de substituta da mãe, porém há outras questões que estão ligadas a associação da professora como “tia”.

DESENVOLVIMENTO

Afinal o que seria a tia? A tia é a figura feminina próxima à mãe, ao pai ou ao tio que representa cuidado, segurança, liberdade, e parentesco. Numa relação que a tia não escolhe ser tia, ela apenas se torna uma, e não há como negar ou deixar de ser tia, pois é uma relação sanguínea-familiar. E não é impossível que uma tia seja professora, porém ser tia e ser professora não podem ser postos como iguais, afinal ninguém se torna professora por ser tia, nem deixa-se de ser professora por não ser tia, além das claras diferenças nas relações entre tia e seus sobrinhos e professora e seus alunos. “É possível ser tia sem amar os sobrinhos, sem gostar sequer de ser tia, mas não é possível ser professora sem amar os alunos– mesmo que amar, só, não baste – e sem gostar do que se faz “(Freire, Paulo 1997).

Ademais a professora se torna a tia é como uma extensão da família na escola, como fala a mestre em educação Maria Eliana Novaes no seu livro “Professora Primária – mestra ou tia”, essa transformação da professora em tia foi um processo histórico, as mãe que precisavam trabalham tinham que deixar seus filhos nas escolas, e desejavam que seus filhos estivessem com alguém carinhoso, compreensivo e atencioso com seus filhos, daí a criação das tias. Já que não seria mais a professora, seria, distante, rígida e punitiva (imagem ligada à educação tradicional), e sim a tia, uma figura boazinha, carinhosa, cuidadora, quase como uma outra mãe, que carinhosamente ficaria com seu filho.

Sem dúvidas, é papel do educador o afeto, o carinho, exercer a compreensão, e a empatia com seu aluno, como descrito na “Pedagogia da Autonomia” de Paulo Freire, sem essas qualidades o educador não consegue exercer de forma satisfatória sua função, sobretudo o educador que confunde autoritarismo com autoridade e respeito. Porém essas competências são características únicas e obrigatórias ligadas somente à figura da tia? Não, antes, devem ser marcas de um educador competente, como esclarece Paulo Freire: “Ensinar é profissão que envolve certa tarefa, certa militância, certa especificidade no seu cumprimento enquanto ser tia é viver uma relação de parentesco. Ser professora implica assumir uma profissão enquanto não se é tia por profissão”(Freire,Paulo 1997).

Por tanto quando se associar a profissão professora com a figura da tia, resulta numa série de estereótipos, “O trabalho na educação infantil é frequentemente compreendido, em nossa sociedade, como uma ocupação permeada por estereótipos, dentre eles: uma profissão feminina, que não necessita de conhecimentos específicos, uma vez que a mulher, naturalmente, possui capacidades suficientes para exercer esse tipo de atividade” (KUHLMANN, 2007).

Esses estereótipos foram reforçados por um histórico de pouca exigência para se exercer a docência no Brasil, como trata a Doutora Aparecida Neri de Sousa no seu livro “Sou Professor, Sim Senhor!”, praticamente todos os professores reconhecem que possuem uma deficiência na sua formação, que só se resolvem na prática docente, e a grande maioria escolheu a docência como uma segunda opção de carreira, já que não conseguiram cursos melhores, e acabaram se conformando ou se apaixonando pela docência durante a faculdade. Em conjunto, podemos identificar que durante o processo de democratização da educação brasileira o perfil das educadoras mudou para camadas sociais mais baixas, e consequentemente o prestígio social atribuído, o trabalho também decresceu, no artigo “Talentosa demais para ser professora” realizado em maio de 1982 retrata muito bem esse processo histórico, de como a docência passou a ser vista como algo que qualquer pessoa exerce. Todavia, podemos constatar que a formação atual dos educadores passaram por grandes mudanças, por uma grande qualificação, mas também observamos que a opinião social não se modificou, não é incomum ouvirmos o discurso de que se não der certo os planos acadêmicos, sempre poderá ser professor já que ninguém quer ser professor e não é tão difícil.

Contudo, esses estereótipos são uma construção social, uma representação. E conforme a teoria de Serge Moscovici (1925-2014), importante psicólogo

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