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Qual é o objetivo desta ampliação do tempo no Ensino Fundamental

Por:   •  28/4/2015  •  Pesquisas Acadêmicas  •  1.417 Palavras (6 Páginas)  •  204 Visualizações

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Qual é o objetivo desta ampliação do tempo no Ensino Fundamental

O objetivo de um maior número de anos de ensino obrigatório é assegurar a todas as crianças um tempo mais longo de convívio escolar, maiores oportunidades de aprender e, com isso, uma aprendizagem mais ampla. É evidente que a maior aprendizagem não depende do aumento do tempo de permanência na escola, mas sim do emprego mais eficaz do tempo. No entanto, a associação de ambos deve contribuir significativamente para que os educandos aprendam mais.

Tanto esse objetivo como outras justificativas encontradas no documento de orientação para a ampliação do Ensino Fundamental para nove anos, são compreendidos, em nossa escrita, como um investimento que não se limita em dizer que é melhor que as crianças entrem mais cedo para a escola, pois assim as famílias menos favorecidas socialmente terão mais chances de acesso à escolarização. Ao compor um documento que se preocupa em direcionar orientações para a nova “realidade” escolar, investe-se, também, em formas de dirigir a conduta, tanto de familiares, como de professores/as, alunos/as e representantes governamentais. Mais uma vez, se fortalece em nossa sociedade, instrumentos de governo que objetivam dizer como devem ser, o que devem fazer, como devem se relacionar consigo e com os outros, todos os envolvidos nesse contexto educacional. Em consonância com os Parâmetros Curriculares Nacionais, o documento com as orientações para o Ensino Fundamental de nove anos proporciona, através dos discursos nele lançados, aprimorar as práticas governamentais instauradas pelo Estado Nacional. Em nome de expressões como inclusão, autonomia, qualidade social, ensino prazeroso entre outras, o Governo proclama uma “nova” ordem educacional que faz constituir outras narrativas para o ensino brasileiro. Tais narrativas compõem as estratégias que darão margem à condução do controle e da “fabricação” de sujeitos infantis. Desse modo, ao serem definidas técnicas, propostas, currículos escolares, métodos de ensino, entre outros aparatos educacionais, estamos, ao mesmo tempo, promovendo modos de governar os indivíduos que participam dessas ações. Ao escolhermos e concordarmos, ou não, com determinadas idéias, estamos constituindo formas de ser sujeito e nos constituindo enquanto professores que pensam e agem dessa ou daquela forma, cujas ações não estão previamente definidas em nossa ilusória “missão” de ensinar.

O mesmo documento do MEC (2005:p. 20) afirma que "é evidente que a maior aprendizagem não depende do aumento do tempo de permanência na escola, mas, sim, do emprego mais eficaz do tempo. No entanto, a associação de ambos deve contribuir, significativamente, para que os educandos aprendam mais". Ao serem categóricas quanto à eficácia na forma de utilização do tempo, as orientações desconstroem seus próprios argumentos, pois se a idade não fosse definidora para a compreensão dos seus modos de ser (aluno/a, criança, filho/a) a utilização desse tempo não poderia estar tão enfatizada. Espera-se que a criança permaneça mais tempo e com maior utilidade de seu tempo de vida, de aprendizagem, para que possa constituir-se, governar-se, avaliar-se, normalizar-se mais cedo. Como temos problematizado em outros artigos

precisamos, enquanto sujeitos, aprender a utilizar o nosso tempo, a controlar nossas atitudes, a viver de um jeito ou de outro conforme o espaço que ocupamos, conforme nossas idades e, desta forma, passamos a ser identificados/as pelo que fazemos, onde fazemos, do jeito que fazemos, pelos grupos em que vivemos, pelos lugares que freqüentamos (BARBOSA; CARVALHO, 2006: p.1).

Características e “respostas” à aprendizagem, anteriormente não exigidas para crianças de 6 anos em níveis de Educação Infantil, agora com sua escolarização obrigatória, serão capturadas pelas amarras e nós dos muros escolares que hierarquizam aprendizagens, produzem quadros formativos e avaliativos, pré-definem condições de avanço ou retenção, cobram um dos outros entre professores o que foi ou não ensinado.

Não estaríamos, portanto, vivenciando a “fabricação” de um novo “perfil” para as crianças de 6 anos? Essa escolarização, obrigatória para todas as redes de ensino do Brasil, não estaria contribuindo para a produção de novos conhecimentos e saberes sobre os infantis? Nesse sentido, o próprio texto do referido documento, possibilita perceber que tal discurso a respeito da incorporação das crianças de seis anos no Ensino Fundamental através de inúmeras “sugestões” de como implementar tal proposta, institui significados sobre os infantis e constitui sua realidade de uma determinada forma. Pode-se dizer, portanto, que o governo através do Ministério da Educação e Cultura (MEC), ao definir certas “prescrições” a respeito do novo modo de ver, perceber e discutir o Ensino Fundamental, “produz” modos de olhar para os sujeitos infantis e para os professores que trabalharão com estas crianças constituindo uma determinada realidade, não muito diferente para quem acompanha os movimentos da educação, confirmando a máxima foucaultiana de que não existe nada fora do discurso, que não existe nada oculto esperando para ser descoberto, pois a linguagem institui significados e singularidades a respeito dos quais trata.

Intencionamos, antes de encerrar esse artigo, destacar que se faz necessário problematizar essas práticas governamentais que implantam projetos, programas, normatizações e prerrogativas para o ensino brasileiro cujo discurso de melhoria da qualidade de ensino, eliminação da exclusão e das diferenças sociais, entre outros, nos cercam de “sonhos”de pureza da alma humana e de uma sociedade iluminada imbuindo-nos de meta narrativas humanistas que nos tornam sujeitos a formas de disciplinamento do corpo e da mente dentro das instituições sociais promovendo, cada vez mais, modos de ver e compreender a nós mesmos e aos outros. Dessa forma, enquanto pesquisadores e professores envolvidos com (e nos) discursos circulantes a respeito da educação brasileira, acreditamos que, talvez, seja o momento de começarmos a aprender a viver e a pensar de outros modos. Sendo assim, consideramos importante continuarmos atentos aos discursos educacionais, questionando a respeito de como os mesmos nos interpelam e nos

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