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Resumo de libras

Por:   •  14/11/2015  •  Projeto de pesquisa  •  3.692 Palavras (15 Páginas)  •  538 Visualizações

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Identidades surdas

Introdução

Ao iniciar este trabalho, quero falar um pouco da minha vida. A minha identidade, pode ser dita assim: mulher, surda não nativa, teóloga, militante pela causa surda, residente em país latino-americano.

Para me iniciar na escrita de minha visão do sujeito surdo, tive de lutar para desaprender grande parte das suposições que me ensinaram a acreditar a respeito do ser surdo. Os surdos que escolhi para estudar, suas afirmações de identidade surda são parceiros e parceiras de muitos impasses, sonhos e realizações na busca do direito de ser surdo. O foco desse tema é a identidade surda mesma, com suas redundâncias, consequências, diversificações e implicações.

O uso da minha pessoa significa ver o surdo do ponto de vista de dentro, o que implica usar óculos diferentes dos ouvintes, chegando a contestar teorias escritas ou faladas por sujeitos ouvintes pelo simples fato de olhar as coisas como os “óculos surdos” me permite ver.

Muitos tem se ocupado em escrever o surdo tendo como ponto de partida a deficiência, propondo a correção da fala, a oralização. Neste caso os surdos encontram, inclusive hoje, o jogo de uma política educacional em cena tentando garantir maior proximidade com a identidade cultural surda. O meu objetivo é fornecer uma ideia de que a educação, no hegemônico paradigma ouvinte, produziu “verdades” prejudiciais aos estudantes surdos pertencentes a minorias. Neste ponto assumo uma posição crítica diante do ouvintismo que é uma forma atual de continuar o colonialismo.

O que entendo por identidade

Entre os autores aos quais me concentrei para conceituar identidade, destaca-se Hall (1997). Hall dá um conceito de identidade, mas propõe uma aproximação do conceito de identidade tal qual a historia ensina a ver sob diferentes interpretações. Hall cita (1997:10) três diferentes conceitos de identidade presentes na historia: o iluminista que tendia para a perfeição do ser humano, o sociológico onde as identidades se moldam nas representações sociais e o da modernidade tardia onde identidades são fragmentadas.

Entendo o conceito de identidade pós-moderna na concepção do autor como sendo: identidades plurais, múltiplas; que se transforma que não são fixas, imóveis, estáticas ou permanentes, que podem ate mesmo ser contraditórias que não são algo pronto.

Cito alguns elementos que na concepção do autor assumem formas de identidade pós-estruturalista (Hall, 1997:21):

- as identidades são contraditórias, se cruzam, se deslocam continuamente;

- nenhuma identidade social pode alinhar todas as diferenças identidades como uma identidade mestra;

- a identidade muda de acordo como o sujeito é interpelado;

- a identidade cultural é formada através do pertencimento a uma cultura;

De posse desses elementos da identidade em formulações de estudos culturais passo as identidades surdas propriamente ditas.

Identidades surdas

Ao focalizar a representação da identidade surda em estudos culturais, tenho de me afastar do conceito do corpo danificado para chegar a uma representação da alteridade cultural que simplesmente vai indicar a identidade surda. O caso dos surdos dentro da cultura ouvinte é um caso onde a identidade é reprimida, se rebela e se afirma em questão da original.

Para Silva, (1998:58) a identidade cultural ou social é o conjunto dessas características pelas quais os grupos sociais se definem como grupos: aquilo que eles são, entretanto é inseparável daquilo que eles não são, daquelas características que os fazem diferentes de outros grupos.

É uma identidade subordinada com o semelhante surdo, como muitos surdos narram. Ela se parece a um imã para a questão de identidades cruzadas. O encontro surdo-mudo é essencial para a construção da identidade surda, é como um abrir do baú que guarda os adornos que faltam ao personagem.

Os surdos são surdos em relação à experiência visual e longe da experiência auditiva. Essa diferença que separa a identidade surda e a identidade ouvinte também é relatada no depoimento de uma mulher surda: Um dia descobri que nunca iria falar como os ouvintes, seria mesmo impossível. Era preciso pegar o meu jeito próprio de ser surda, de ter minha comunicação visual.

É evidente que as identidades surdas assumem formas multifacetadas em vista das fragmentações a que estão sujeitas face à presença do poder ouvintista que lhe impõe regras, inclusive, encontrando no estereótipo surdo uma resposta para a negação da representação da identidade surda ao sujeito surdo.

Estereótipo

A noção de surdo esta diretamente ligada a estereótipos em muitas formas. Cito o estereótipo por ele interferir muitas vezes como um impedimento para a aceitação da identidade surda. No dizer de Silva (1998:62), o estereótipo como tal é uma ideologia, um esforço de contemplação da fluidez, da indeterminação, da incerteza da linguagem, do social. O estereótipo faz com que as pessoas se oponham, às vezes disfarçadamente, e evitem a construção da identidade surda, cuja representação é o estereótipo da sua composição distorcida e inadequada. O individuo surdo faz parte dos movimentos marginalizados. Qualquer comportamento negativo de sua parte provoca distorções e estereótipos dentro de uma situação de dominação. Esta imagem negativa constitui o que Michel Rogin chama de mais-valia simbólica. O discurso de poder do ouvinte mantém-se firme e controla estes estereótipos.

Admitidos como tipo incapazes, continuam a carregar a marca de seus corpos ditos mutilados, de sua inteligência dita fracassada, arrastando-se pela sombria incoerência de nossos dias.

A ideia de o surdo concentrar-se facilmente em suas atividades sem a distração do barulho leva a uma imagem do surdo como produtor braçal de produtividade. Isto torna presente a ideologia de que vale a pena contratá-lo no campo do trabalho pelo que ele produz não pelo que aparenta. Tampouco estes trabalhos oferecem possibilidades de ascensão visto que as estratégias de poder continuam centradas.

A figura do surdo pode ser visualizada como estereotipada no momento de um discurso colonizador. Porém um discurso mais flexível possibilita ver transformações práticas que produziriam se efetivamente ausentes jogos de estereótipos.

Diferença e diversidade surdas

O surdo tem diferença e não deficiência e a preocupação que pretendo explorar aqui antes de tudo tratam de diferença e diversidade. Fala-se, hoje, frequentemente de biculturalismo entre surdos ou então usa se o termo bilinguismo. Minha posição é de que o biculturalismo e o bilinguismo marcaram normas, pois mantêm a diferença cultural surda como se ela fosse incômoda. As posições bicultural e bilingual mantem o surdo pelo meio.

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