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Análise do Filme Segunda Feira ao Sol

Por:   •  22/2/2016  •  Trabalho acadêmico  •  2.608 Palavras (11 Páginas)  •  3.690 Visualizações

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tratará da análise do filme Los Lunes Al Sol, ou Segunda-feira ao Sol, em uma tradução livre para o português. O filme espanhol com direção de Fernando León de Araona, também escrito por este em conjunto com Ignacio del Moral e produzido por Elías Quejereta e Jaume Roures, em seus cento e treze minutos de duração traz temáticas como o desemprego e os problemas de auto estima que este desencadeia, o sofrimento que o trabalho e a perda dele implicam. Com o intuito de relacionar e discorrer acerca destes temas o trabalho contará com o apoio de autores como Enriquez, Dejours e Bernal.

2 ANÁLISE

O filme Segunda-feira ao Sol, se passa em uma cidade costeira no norte da Espanhã, retrata a história de um grupo de homens que estão sendo vítimas de um desemprego de longa duração, após o fechamento do estaleiro em que trabalhavam devido a aquisição deste por investidores coreanos, com a intenção de construir no local um hotel turístico de luxo. A partir deste contexto estes homens saem em busca de uma nova forma de substância, se contentando muitas vezes com ocupações temporárias. Esta história foi o representante da Espanha ao Oscar 2003 de melhor filme estrangeiro e exibido na mostra Panorama, do Festival do Rio 2003, isso com um orçamento de US$ 4 milhões. O filme possui o elenco formado pelos atores: Bardem (Santa), Luis Tosar (José), José Angel Egido (Lino), Nieve de Medina (Ana), Enrique Villén (Reina), Celso Bugallo (Amador) Joaquin Climent (Rico), Aida Folch (Nata), Serge Riaboukine (Sergei), Laura Domínguez (Ángela), Pepo Oliva (Samuel), Fernando Tejero (Lázaro), Andrés Lima (Abogado).

 Os principais personagens são: Santa, José, Lino e Armador. Santa aparece na história como um homem conquistador e ex-líder sindical de sua categoria que não conseguiu encontrar outro emprego e que se sente injustiçado pela perda do seu. José trás o sofrimento de não ser mais o provedor da sua casa, diante do seu desemprego e a dificuldade de aceitar ser sustentado por sua mulher. Armador, um homem que também permanece desempregado e devido a isso vive em solidão, na trama acaba sendo abandonado por sua mulher e cometendo um possível suicídio. Já o personagem de Lino é construído ao decorrer da trama, sendo ele um homem que busca incansavelmente por um emprego, mas acaba se frustrando diante do preconceito com a sua idade e então vai perdendo sua autoestima e com isso a força de lutar para ingressar novamente no mercado de trabalho.

 Dentre os personagens que sofreram com a demissão em massa do estaleiro que aparecem no filme, os únicos com um novo emprego são Reina e Rico, o primeiro trabalha de segurança em um estádio de futebol e o outro a partir de um acordou feito com a empresa ganhou uma indenização e abriu um bar, sendo este o cenário principal do filme.  Outro papel que chama a atenção nesta história é o de Ana, mulher de José, que possui um trabalho e uma fábrica de linha de montagem enlatando atum, o qual desencadeia danos a sua saúde física e mental.

Observa-se então que o tema principal de Segunda-feira ao Sol é o trabalho, ou a falta dele. Afim de analisar e compreender as vivencias e enfrentamentos dos personagens deste filme, primeiramente é necessário entender o significado do trabalho na modernidade. 

Retornando a antiguidade clássica, berço de todo o conhecimento ocidental, encontra-se uma sociedade hedonista onde o trabalho era considerado algo sem valor praticado apenas por escravos. Caminhando pela história chega-se a Idade Média, onde o trabalho, apenas serviu era visto como uma obrigação por ser um castigo divino pelos pecados da humanidade. Com o declínio na Era Medieval e o aparecimento de cidades, juntamente com uma classe de comerciantes, que posteriormente se constituirá na Burguesia, houve a necessidade de um engrandecimento do trabalho, visto os interesses econômicos deste segmento, então com a reforma protestante o trabalho se transformou em algo nobre, pois somente com ele o homem poderia se tornar digno, e esse pensamento permaneceu até mesmo no pós Revolução Industrial.

[...] o conceito de trabalho, como logo veremos, surge com a modernidade, passando rapidamente a fazer parte dela. Surge, principalmente, a partir da conjunção destes três fenômenos fundamentais estreitamente relacionados entre si: no nível econômico, o capitalismo; no nível cultural, o iluminismo; e no nível político, a constituição e a hegemonia do Estado-Nação e a democracia burguesa. Sem levar em conta tudo isso, assim como o processo pelo qual esses três elementos foram formando a noção de trabalho e como essa foi sendo adquirida e internalizada pelos cidadãos, não seria inteligível a ideia de como o trabalho deixou de ser algo meramente instrumental e passou a ser o centro de nossas vidas. (BERNAL, p. 14. 2010)

A exposição de Bernal, evidencia que o trabalho como conhecemos hoje é uma construção social profundamente histórica, fruto do capitalismo industrial. O autor em seu livro destaca que somente a partir deste momento o trabalho adquire a função que tem atualmente, o de centro da vida dos indivíduos, ao ponto de ter se convertido na própria vida. Portanto um indivíduo sem trabalho é reduzido a nada, perdendo a sua própria essência e causando uma profunda ferida na sua identidade, assim gerando uma desagregação de sua personalidade, visto que o trabalho é um dos elementos constitutivos do ser humano (ENRIQUEZ, 1999).

Diante do entendimento da colocação do trabalho significação de existência, e ainda como sinônimo de vida ativa do indivíduo pode-se compreender a cena (44’02’’-48’14’’) do filme em que os personagens Ana e João vão ao banco realizar um pedido de empréstimo, e João demonstra uma grande agressividade por não estar tomando a frente da negociação, visto que ele estava desempregado e sua mulher empregada, não sendo ele, então, o sujeito ativo.

Esta nova mentalidade sabre o trabalho vai gerar o que se chama, segundo Enriquez de mobilização geral dos seres humanos para o trabalho. A partir disto percebe-se o desenvolvimento da ideia de que os indivíduos que não trabalham são parasitas, delinquentes e inúteis. Ou que, em certo sentido, aqueles que não trabalham não tem a direito de comer. (ENRIQUEZ, 1999). Então, com essa internalização os sujeitos cujos não estão trabalhando vão se sentindo desanimados, entristecidos e excluídos da sociedade. Portanto se inserem em um processo de perda de autoestima, como vemos na trajetória do personagem Lino. Algumas das cenas (04’46’’-5’47’’; 55’06’’-56’37’’; 1h05’46’’-1h07’56’’; 1h36’40’’-1h38’15’’) que ele protagoniza mostra um incomodo desenvolvido para com a sua aparência, devido à dificuldade de encontrar emprego na sua idade. Mesmo não sendo uma pessoa, Lino possui alguns cabelos brancos, que ao longo da história vão incomodando significativamente, até que ele os tinge antes de uma entrevista de emprego, portanto agindo de maneira deprimida com essa situação. Diante da mesma concepção social acerca de pessoas sem trabalho, o personagem Santa age com revolta, dotado de uma personalidade forte, crítica e com caráter revolucionário se posiciona contra essa ideia em cenas como a encontrada no minuto 38 e 19 segundos até 39 minutos e 27 segundos, onde ao se deparar com a história meritocráta da cigarra e da formiga, se revoltou dizendo que não era desta forma que a vida funcionava. Outro momento que esse pensamento aparece é na cena (1h15’50’’-1h18’00’’), onde Santa defendendo sua posição contraria discute com seu amigo Reina sobre a condição do desemprego e sua significação.  

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