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Entrevista Trabalho e Subjetividade

Por:   •  4/10/2021  •  Resenha  •  2.059 Palavras (9 Páginas)  •  105 Visualizações

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Entrevistada: Marielza Queiroz – Psicóloga – CRAS Cavaleiro 1. Qual sua função dentro do CRAS e a quanto tempo está nela? - A nomenclatura do cargo que eu ocupo é: Analista de políticas sociais e econômicas/Psicóloga, pois quando entrei pelo concurso que eu passei em 2015, havia esse cargo e aí dentro dela tem várias especialidades: Psicologia, Assistente social, Pedagoga..., e aí eu entrei como psicóloga. No momento eu também estou ocupando a função de coordenação do CRAS, além da função de Analista de políticas sociais/psicóloga. São 3 anos nesse CRAS. 2. Como é a sua rotina de trabalho? O CRAS funciona de 08:00 às 16:00 horas, no cargo que eu ocupo pelo concurso eu deveria trabalhar 6 hora, mas como agora eu estou na coordenação foi preciso aumentar a carga horária para 8 horas, então em todo o período que o CRAS está aberto, eu estou nele, só que como eu também estou na coordenação, em alguns momentos eu preciso estar “fora” do CRAS, em reuniões, em alguma reunião de rede, ou reunião na secretaria de assistência social e em outras situações que exigem que a coordenação esteja fora, mas, geralmente, enquanto o CRAS está aberto eu fico aqui. 3. Quais são os pontos positivos e negativos da sua profissão? Os positivos é principalmente o de poder estar atuando na minha área, por que muitas vezes a pessoa se forma e não consegue atuar na área na área que almeja, seja estudante de qualquer área, se vê muito as pessoas depois de formada não conseguir estar atuando na área que desejou, e opta por outras áreas por não conseguir a que, de fato, queria, e eu vejo isso como um ponto positivo, pois desde o momento que eu me formei eu já fui atuar na minha área. Eu entrei aqui em Jaboatão dos Guararapes em 2015, mas eu já trabalho nessa área desde 2007, então eu venho atuando como psicóloga desde 2007 no CRAS. Com relação aos pontos negativos, primeiro com relação a psicologia, o CRAS, a assistência social. Toda a minha formação foi em psicologia clínica, eu me formei pela UFPE, e eu fiz toda minha formação sendo voltada a psicologia clínica, me formei em 2005, comecei a atuar em psicologia clínica e depois fui trabalhar no CRAS, que era um CRAS no interior, o ponto negativo que eu vejo, que talvez não seja até um ponto negativo, é que, na minha época (não sei como está hoje), a gente não tinha uma formação voltada para psicologia social, tínhamos apenas uma ou duas cadeiras, mas não me prepararam para trabalhar em psicologia social, eu tive que aprender no meu dia a dia, no meu cotidiano, então eu vejo isso como ponto negativo, puxando para o lado das faculdades mesmo. Não sei como está essa questão hoje em dia, eu lembro que na época, era mais focado para as áreas: clínica, hospitalar e organizacional, e aí as outras áreas como a psicologia social entravam como disciplinas eletivas, então, se você quisesse você pagava, mas no geral você não saia preparado. Tanto é que eu fiz a formação em clínica e depois fui para área social. Então, isso eu vejo como ponto negativo, e aí quando a gente entra no CRAS, e isso é uma crítica, por exemplo, recebemos muita solicitação para estagiário de psicologia e sempre que recebemos eu tento explicar como é o nosso trabalho aqui, por que aqui não atuamos como psicólogo, atuamos como analista de política sociais e econômicas e isso abrange várias atribuição que não necessariamente são do psicólogo, como também não é do assistente social ou do pedagogo, então é uma função que abrange várias situações com famílias que não atuamos como psicólogo, lógico que enquanto psicóloga eu tenho um olhar diferente do assistente social, por exemplo, mas minhas intervenções e todas as que fazemos aqui, por vezes se torna muito semelhante as da assistente social, por exemplo, e aí eu vejo isso como um lado negativo, pois não conseguimos colocar tanto o olhar da psicologia, apenas nessa formação e nesse olhar diferenciado, e muitas vezes não podemos fazer intervenções da psicologia clínica dentro do CRAS. 4. Como você avalia o seu ambiente de trabalho? É, vocês me deixaram em maus lençóis, porque, assim, hoje em Jaboatão temos uma situação bem complicada do CRAS, até a professora de vocês, normalmente deve falar um pouco da situação dos CRAS, hoje em dia a situação de Jaboatão em relação aos CRAS está bem precário. Você pode começar olhando pelo ambiente físico que não é dos mais propícios, por exemplo, eu quero fazer um atendimento individual, que não é um atendimento clínico, mas, quase sempre precisamos conversar apenas com aquela pessoa ou família e aí nós temos uma estrutura que não permite isso, temos essa sala aqui que é uma sala geral que fica toda a equipe, mas geralmente aqui ficam eu, 2 assistentes sociais, 2 educadores sociais e o auxiliar administrativo tudo isso numa única sala e quando precisamos fazer o atendimento a gente tem que expulsar a equipe de dentro da sua própria sala, por precisar prezar pelo sigilo da informação que está sendo trazida e também por vezes serem situações delicadas que são situações que a pessoa precisa do mínimo de privacidade para falar sobre, pessoas que trazem problemas pessoais, que choram... enfim, situações que exigem um ambiente mais adequado, uma ambiente que ofereça o mínimo de privacidade e que zele pelo sigilo e muitas vezes eu estou aqui atendendo e alguém abre uma das portas e não temos muito controle sobre isso, até porque o CRAS não tem a estrutura que permita termos isso, então em relação a estrutura é bem complicado. 5. Como você se sente dentro do ambiente de trabalho? Então, como eu falei, a questão da estrutura é muito desmotivador pra toda a equipe, pois nós investimos toda uma carreira de estudos para o trabalho e quando chegamos no ambiente de trabalho nós encontramos uma situação bastante frustrante no sentido de atuação, uma vez que somos limitados pela estrutura que nos é oferecida. Temos pessoas aqui que são mestres e até doutores que se dedicaram a esse trabalho e procuramos minimamente o reconhecimento nessa área que estamos depositando tanto investimento, e aí essa falta de estrutura, não só isso mas também a falta de resposta da secretaria para algumas demandas do CRAS acabam desmotivando bastante, se você me perguntasse uma palavra que, hoje, circula, não só da minha pessoa, mas de toda equipe é a desmotivação, justamente por isso, uma estrutura de trabalho que não lhe dá condições de trabalho, não lhe dá condições de fazer o que você se propôs a fazer e muitas vezes nos vemos aqui de “mãos amarradas” sem poder dar um passo por uma falta de resposta da secretaria ou por uma estrutura que não possibilite sua atuação, enfim, você acaba se sentindo muito desmotivado. 6. Existe algum tipo de treinamento para aperfeiçoamento da equipe? Assim que a gente entrou tiveram com uma frequência interessante várias capacitações, mas com essa nova gestão não tivemos mais e toda a equipe tem sentido falta desse investimento em capacitações e formação para toda a equipe. 7. Qual a maior problemática já enfrentada aqui no ambiente de trabalho? É justamente o que eu estava falando, nós temos todo um investimento profissional para fazer o que nos propomos a fazer, mas não depende somente do profissional, não trabalhamos sozinhos, eu, por exemplo, trabalho com uma rede de encaminhamentos, eu preciso articular com a saúde, a educação e muitas vezes nos deparamos com a situação de não ter para onde encaminhar o usuário, até por uma falta de estruturação da prefeitura com alguns setores, por exemplo, a gente tem um CAPS mas não funciona, temos alguns setores que também estão sofrendo pela falta de esturra como o CRAS, então ficamos, as vezes, sem ter respostas para dar ao usuário, e esse é o problema que eu mais enfrento, atender ao usuário e muitas vezes não ter respostas para dar a ele. 8. Como você é trata da pela gestão que coordena o CRAS? Nós que somos de concurso, temos uma voz a mais, até pelo tipo de contrato que temos, porque aqui também tem pessoas que são comissionadas, e nós que somos do concurso temos uma liberdade maior de fala, de lutar por algumas questões e de cobrar respostar, e aí, na medida do possível, a secretaria sempre abre esse espaço. Mas também entra a questão de que muitas vezes a gente não tem resposta da demanda que a gente apresentou, em relação a estrutura, material de trabalho, a rede de cuidados que muitas vezes não funciona dentre outras questões que as vezes levamos e não temos um retorno. 9. Você se sente reconhecida dentro do seu ambiente de trabalho? Não, na grande maioria aqui, não nos sentimos reconhecidos enquanto profissional, justamente por isso, sabemos o quanto investimos para estar aqui, e de repente quando chegamos aqui não conseguimos realizar o que nos propomos a realizar por causa da falta de estrutura e isso não permite que a gente se sinta reconhecido. 10. Você já veio trabalhar doente por não querer faltar? Eu particularmente não, nunca fiz isso, mas eu nunca fiz porque por ser concursada eu tenho noção dos direitos e deveres que a gente tem, tenho noção de que eu posso, se for necessário, através de um atestado justificar a minha falta, mas eu tenho colegas que são comissionados que já vieram trabalhar doente por preferir não faltar. 11. Você já se viu na situação de ter ser pressionada no trabalho? Se sim, como você se sentiu? Sim, é bem difícil, porque aqui você vai me ouvir muito falando de falta de estrutura, falta de respostas, falta de uma rede de cuidados que funcione e que ainda, as vezes, se depara com algumas situações que, sim, nos sentimos obrigados a ter que atuar, ter que fazer algo, mesmo com as faltas que existem, e mesmo que seja uma pressão indireta, mas as vezes uma fala diz muito e isso acaba fazendo com que a gente se sinta pressionado a dar uma resposta para aquilo. 12. Dentro do seu ambiente de trabalho tem algum local que possibilite descanso? Não, a gente mal tem uma estrutura para trabalhar, salas que nos permitam exercer o nosso trabalho dentro do CRAS, muito menos um espaço que possamos utilizar para descanso. Nós improvisamos um espaço para descanso que é a copa, que é um espaço que usamos para almoçar, mas não chega a ser um espaço de adequado ao descanso, até porque não é nada propício, é quente, não tem ventilação, não contamos com uma estrutura mínima que possamos passar alguns minutos de descanso. 13. Você já fez algo dentro do trabalho no qual se orgulha? Todos os dias. Eu costumo dizer a minha equipe, que como coordenadora eu preciso usar de algumas formas para motivar eles, e eu sempre digo que somos verdadeiros guerreiros, pois mesmo com a falta de estrutura, mesmo com a falta de respostas da prefeitura, mesmo sem contar com uma rede que, efetivamente, funcione, nós conseguimos, minimamente, fazer com que o usuário saia daqui com uma resposta, nem sempre é a resposta que ele veio procurar, eu costumo dizer que as vezes um “não” bem dado, bem argumentado faz com que o usuário saia daqui confortável, por que por mais que ele não tenha saído com o sim, ele entendeu, foi bem orientado e isso proporciona um conforto a ele, pois por mais que ele não tenha conseguido o que ele queria no momento, ele foi bem atendido, bem orientado, bem encaminhado e se a pergunta é do que eu me orgulho é dessa força que, não só eu, mas a equipe tenta buscar e que mesmo com todas as condições de trabalho a gente tenta atender, e quando eles chegam pra a gente com um “muito obrigado”, as vezes você não fez nada, você fez o mínimo que poderia, mas a pessoa agradeceu e até conseguiu resolver a situação pela orientação que você deu. Isso nos deixa orgulhoso principalmente pela falta de estrutura que temos, com tão pouco, as vezes, conseguimos mudar a vida de alguém, orientar ela e nós vemos que com o nosso trabalho conseguimos mudar a vida de alguém e isso me orgulha muito.

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