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Estudo Dirigido De Psicologia

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Por:   •  24/5/2013  •  5.564 Palavras (23 Páginas)  •  2.205 Visualizações

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Raízes orgânicas e sociais da violência urbana

Proposta de introdução única

A violência urbana é uma enfermidade contagiosa. Embora acometa indivíduos vulneráveis em todas as classes sociais, é nos bairros pobres que ela se torna epidêmica. A prevalência varia de cidade para cidade, e de um país para outro. Como regra, a epidemia começa nos grandes centros e se dissemina pelo interior. A incidência nem sempre é crescente; a mudança de fatores ambientais pode interferir em sua escalada.

Sabe-se que os genes herdados exercem influência fundamental na estrutura e função dos circuitos de neurônios envolvidos nos mecanismos bioquímicos da agressividade. É bom ressaltar, porém, que os fatores genéticos não condicionam o comportamento futuro: o impacto do meio ambiente é decisivo. Os mediadores químicos liberados e a própria arquitetura das conexões nervosas que constituem esses circuitos são dramaticamente modelados pelos acontecimentos sociais da infância.

As estratégias que as sociedades adotam para combater a violência flutuam ao sabor das emoções; o conhecimento científico raramente é levado em consideração. Como reflexo, o tratamento da violência evoluiu muito pouco no decorrer do século XX, ao contrário do que ocorreu com as infecções, câncer ou AIDS.

Parte I - Raízes Orgânicas da Violência

Características físicas e índole criminosa

A explicação para o atraso no desenvolvimento de técnicas eficazes para tratar a violência está nos erros do passado. No século XVIII, um anatomista austríaco chamado Franz Gall desenvolveu uma teoria em torno da seguinte idéia: a maioria das características humanas, inclusive o comportamento anti-social, seria regulada por regiões específicas do cérebro. Cada comportamento estaria sob o comando de um centro cerebral específico. Quanto mais robusto fosse o centro mais intensa seria a expressão do comportamento controlado por ele. Essa teoria ganhou o nome de frenologia.

Franz Gall imaginava que, ao crescer, os centros cerebrais exerciam pressão contra os ossos da cabeça, deixando neles saliências que poderiam ser vistas ou palpadas. As pessoas com tendências criminosas poderiam, então, ser reconhecidas pelo exame cuidadoso dessas protuberâncias e depressões ósseas presentes no crânio.

Com o tempo, a frenologia caiu em descrédito, mas a tentação de identificar a aptidão para o crime por meio de características físicas persistiu. Cerca de cem anos depois da frenologia, um italiano especialista em antropologia criminal chamado Cesare Lombroso criou uma nova doutrina que ressuscitou a associação das características físicas com uma suposta índole criminosa. Tais características constituiriam os "stigmata". De acordo com Lombroso, os tipos humanos com testa achatada e assimetria nos ossos da face, por exemplo, seriam criminosos potenciais. Quem tivesse esses traços era classificado como tipo lombrosiano e visto com extrema desconfiança nos tribunais.

Lobotomia e controle medicamentoso da agressividade

Em 1949, Egas Muniz, neurocirurgião português, ganhou o prêmio Nobel de medicina em reconhecimento por haver introduzido a lobotomia, na prática médica. Na lobotomia, são seccionados os feixes nervosos que chegam e os que saem do lobo frontal, localizado na parte anterior do cérebro, estrutura responsável pela tomada de decisões a partir das informações captadas pelos sentidos. Inicialmente indicada apenas nos casos de pacientes muito agressivos, as lobotomias se popularizaram segundo critérios de indicação duvidosos e, muitas vezes, serviram como instrumento de poder ou castigo, especialmente nos estados totalitários (mas não apenas neles).

Nos últimos 50 anos, essas teorias caíram gradativamente em descrédito, até se tornarem execradas pelos estudiosos. Hoje, são consideradas exemplos típicos de ideologias pseudocientíficas que foram utilizadas para justificar arbitrariedades graves.

Paralelamente ao abandono dessas idéias, criou-se em certos setores da sociedade um medo generalizado de que os cientistas realizassem pesquisas laboratoriais, capazes de conduzir à obtenção de medicamentos apaziguadores dos instintos violentos.

Imaginava-se que essas drogas poderiam ser administradas preventivamente às comunidades carentes de recursos, para acabar com a violência milagrosamente, sem que as classes dominantes precisassem abrir mão de seus privilégios.

Pensamentos desprovidos de bases científicas como esses, trouxeram péssima reputação aos estudos do comportamento anti-social. A politização afastou a comunidade acadêmica da área e a violência urbana passou a ser entendida como um fenômeno de raízes exclusivamente sociais. Qualquer tentativa de caracterizar um substrato orgânico para a agressividade física gerava debates carregados de emoção e até manifestações políticas.

Aspectos biológicos da violência

O panorama começou melhorar a partir da década de 1970, quando os americanos tomaram consciência de que as dificuldades enfrentadas com as minorias do centro deteriorado das grandes cidades de seu país não desapareceriam espontaneamente. Ao contrário, a violência aumentava apesar do maior rigor em puni-la. Os institutos oficiais começaram, então, a financiar pesquisas para conhecer melhor o lado biológico da violência.

As informações científicas acumuladas nos últimos 30 anos permitem afirmar que a violência tem um substrato biológico, de fato. O comportamento humano, no entanto, não se acha condicionado às características que herdamos de nossos pais. Ele é resultado de interações sutis entre genes, condições ambientais e experiências de vida.

Bioquímica e fatores sociais envolvidos na violência A revista Science, que divide com a Nature prestígio e popularidade inigualáveis no meio acadêmico internacional, acaba de publicar um número dedicado a discutir a violência com base nas informações científicas disponíveis atualmente. Vamos resumir, aqui, o que a ciência sabe sobre a bioquímica e os fatores sociais envolvidos na violência, de acordo com essa revisão primorosa publicada pela Science:

1) O papel do álcool - O rato coloca o nariz num buraco da gaiola. No buraco há um sensor que detecta a presença do nariz e ativa um circuito elétrico. Nesse instante, num bebedor de água ao lado, caem algumas gotas de bebida alcoólica que o rato bebe rapidamente. Cada dose de álcool que cai é calculada de acordo com o peso corpóreo do rato para corresponder

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