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FAMILIA E SITUAÇÃO DE LUTO

Por:   •  28/6/2016  •  Trabalho acadêmico  •  4.710 Palavras (19 Páginas)  •  497 Visualizações

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INTRODUÇÃO

Nos dias de hoje, a morte ainda é vista como um tabu, cercada de mistérios de crenças e as pessoas, frequentemente, não se encontram preparadas para lidar com a finitude humana. Quando a morte ocorre de forma trágica e repentina, tende a causar inúmeras alterações na vida de uma pessoa, acarretando muitas vezes, prejuízos e alterações principalmente nos funcionamentos emocionais e cognitivos.

Neste trabalho apresentaremos de forma clara e sucinta algumas situações de perda que o indivíduo passa em sua vida, seja perda de posições sociais a perda da própria vida.


FAMÍLIA E SITUAÇÕES DE LUTO

Em nossa realidade brasileira vivemos inúmeras situações amedrontadoras como o aumento e a banalização da violência incluindo o crescente número de homicídios, o aumento de acidentes automobilísticos fatais, os ainda recentes devastadores acidentes envolvendo aeronaves civis, enchentes, secas, incêndios, deslizamentos e outros acontecimentos envolvendo o meio ambiente, o aumento do índice de suicídios, especialmente entre os adolescentes, pessoas desaparecidas, enfim, inúmeras tragédias, que provocam perdas não estruturais nas famílias.

Portanto, abordar este tema na terapia familiar tornou-se crucial, possibilitando a família a falar sobre o assunto e buscar saídas coerentes com sua realidade, para que possam adaptar-se as perdas e construir um significado para ele, respeitando as diferenças individuais.

A perda de um ente querido pode influenciar a dinâmica de uma família, uma vez que o sistema familiar é alterado e os seus membros são obrigados a se reorganizar. Um bom funcionamento familiar, com abertura para a comunicação e expressão de sentimentos e pensamentos, e a coesão entre os seus membros pode colaborar para um processo de ajustamento adaptativo à situação de perda. Cuidar de um familiar com uma doença grave e progressiva é muitas vezes estressante, gerador de angústia e pode acarretar alterações na dinâmica familiar, já que, na maioria das vezes, toda a família está direta ou indiretamente envolvida no processo de cuidar, no apoio instrumental e/ou emocional. A tipologia do funcionamento familiar pode influenciar a maneira como os seus membros vivenciam e experienciam o processo de luto e vice-versa. O ambiente familiar pode contribuir decisivamente para a morbidade psicossocial, como por exemplo, com sintomatologia depressiva, ansiosa e abuso de álcool, que pode ser anterior à perda e se estender posteriormente no período de luto.

O PROCESSO DO LUTO: DO INDIVÍDUO À FAMÍLIA

O luto é uma resposta ao rompimento de um vínculo significativo para o indivíduo. O processo do luto é uma resposta natural e esperada após uma perda simbólica ou concreta importante. O processo pode ser eliciado em decorrência de morte, afastamento, perda de capacidades físicas ou psicológicas, perda do ambiente conhecido, experiências que envolvem mudanças e que exigem da pessoa uma reorganização interna ou externa, promovendo novas formas de lidar com as situações que se apresentam.

As perdas podem acontecer em qualquer etapa do ciclo de vida familiar, afetando a todos os integrantes da família, cada um à sua maneira. Cada elemento da família pode apresentar as fases e as manifestações do luto em tempos diferentes.

Em relação às reações individuais à perda, existem duas classificações importantes de serem mencionadas para se pensar na questão da família. Parkes (1998) propõe uma classificação do luto relacionada à temporalidade do surgimento das reações à perda sem, no entanto, quantificar o tempo. Define como luto crônico o prolongamento indefinido das reações de luto. Como luto adiado refere-se ao processo de luto em pessoas que apresentam reações tardias de luto, aparentando viver normalmente após a perda (semelhante a um processo de negação). Classifica-se como luto inibido o processo em pessoas que não esboçam qualquer reação ao longo do tempo. Rando (1998) propõe o uso do termo luto complicado, relacionado com o tempo desde a morte e a existência de algum comprometimento, distorção ou fracasso de uma ou mais tarefas ou etapas do processo de luto.

É fundamental reconhecer e respeitar as reações naturais às perdas presentes no processo do luto, muitas vezes classificadas como “sintomas”, tais como choque ou torpor, medo, raiva, ansiedade, somatização, insônia, falta de concentração, atenção ou memória, falta de apetite, tristeza profunda, sensação de presença da pessoa, entre outros, que podem aparecer sobrepostos simultaneamente ou em curto intervalo de tempo. Essas reações podem ser vistas em mais de um integrante da família, em maior ou menor intensidade, não sendo incomum que cada um assuma uma postura complementar, de modo que a família apresente todas as reações.

Silva usa o termo luto disfuncional para se referir ao processo de luto na família que não segue um curso adequado no sentido de adaptação às novas tarefas e à nova realidade, que deve considerar o fator tempo.

LUTO AO LONGO DO CICLO VITAL

Ao longo do ciclo vital, a família experimenta mudanças naturais que geram perdas normativas em cada etapa, inerentes a seu processo de surgimento, crescimento e desenvolvimento, inclusive a morte.

Quando surge um novo casal, os filhos passam a ser marido e mulher, assumindo uma nova família e deixam de ser apenas filhos. Surgem as dificuldades de deixar a casa dos pais e assumir seus novos papeis, muitas vezes, por enredamento excessivo com a família de origem em lealdades invisíveis, que se referem à existência e expectativas diante das quais todos da família assumem determinados compromissos com conexões firmes entre gerações passadas e futuras. (Borzormenyia-Nagy e Spark, 1994. Com o nascimento do primeiro filho, marido e mulher dividem agora as tarefas dos novos papeis de pai e mãe, distanciando-se cada vez mais da posição de filhos. Assim sucessivamente, as fases desenrolam-se em uma dança de papeis e funções, podendo ter maior ou menor dificuldade. Ao mesmo tempo em que indica crescimento, o desenrolar do ciclo vital aponta para perdas em relação às etapas anteriores. Podemos citar a dificuldade de uma criança e de sua família no momento de deixar de usar a chupeta, a mamadeira ou as fraldas, ou mesmo o início da vida escolar.

Um exemplo que é muito discutido e estudado na terapia familiar é a síndrome do ninho vazio, que acontece com a saída dos filhos de casa, fazendo com que os pais tenham que olhar novamente para si como marido e mulher e encontrar novos objetivos de vida, ao mesmo tempo em que precisam buscar uma nova forma de relacionamento com os próprios pais.

A aposentadoria também elicia processo de luto com a perda do trabalho dos amigos, da rotina. Nesse período já é esperado o adoecimento dos pais e a necessidade de cuidar deles. A proximidade de completar idades significativas socialmente, por exemplo, os 70 anos, traz à tona uma reflexão sobre a vida até essa etapa e pode gerar falta de perspectiva para o futuro, sendo necessário um grande redirecionamento de objetivos de vida. Nesta fase última é bem provável que a pessoa possa ter vivenciado morte de integrantes da família de origem e da família atual.

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