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Impacto Psicológico Das Motoristas De ônibus

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Por:   •  6/10/2014  •  2.463 Palavras (10 Páginas)  •  274 Visualizações

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A PESQUISA DE CAMPO E SEUS RESULTADOS

Os resultados aqui expostos provêm de uma articulação das informações alcançadas através de diversas técnicas empregadas para a montagem do nosso mosaico científico: observações participantes no interior de ônibus urbanos, entrevistas individual e coletiva com mulheres motoristas, conversa informal com supervisora de RH e entrevista individual com instrutora de motoristas. Além destas técnicas, empregamos a análise documental de matérias da Revista Ônibus, que é voltada para a área de transporte urbano coletivo por ônibus, por se constituir em um discurso ancorado na lógica corporativa das empresas e oferecer um importante contraponto aos discursos das motoristas.

Participaram do trabalho de campo sete mulheres que atuam como motoristas de ônibus. Dessas, quatro participaram da observação participante e quatro foram entrevistadas (uma delas participou das duas etapas).

Não foi possível apresentar o perfil completo das sete motoristas no que se refere à idade, tempo como motorista, estado civil, número de filhos, local de moradia, com quem mora, se atua como chefe de família e com o que trabalhava antes de ser motorista. Estes dados, que seriam obtidos nas entrevistas, foram parcialmente obtidos, durante as conversas informais em algumas observações participantes.

Observamos que as idades variam de 33 a 50 anos: há quatro motoristas na faixa de 33 a 39 anos, duas entre 40 e 49 e uma de 50 anos.

No entanto, todas exerceram a função de cobradora antes de trabalhar como motorista. Em relação ao estado civil, apenas uma se disse casada, assim como apenas ela tem filhos. No que diz respeito à moradia, notamos uma proximidade em relação à localização da empresa em que trabalham. A maioria disse ser responsável pelo sustento da casa, independente de morar sozinha ou com familiares. Todas trabalham no turno da manhã e apenas uma delas tem folga aos domingos e feriados. As demais trabalham em esquema de escala 6x1, ou seja, trabalham durante seis dias consecutivos e folgam em um dia, sendo as folgas nos sábados ou nos domingos, revezadamente.

Por se tratar de uma atividade exercida extramuros, ou seja, fora do espaço físicodas empresas, a análise das condições de trabalho torna-se complexa, em especial pelamaior possibilidade de imprevistos. Mendes90 e Caiafa1, em suas pesquisas comomotoristas de ônibus urbanos homens, em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro,respectivamente, assinalam que a falta de sanitários (ou a precariedade dos mesmos), as32excessivas e extenuantes jornadas de trabalho (com pausas de descanso inadequadas –insuficientes ou, até mesmo, inexistentes), as (péssimas) condições do veículo, aviolência urbana e o trânsito intenso podem ser apontados como fontes de adoecimentoentre motoristas de ônibus.

OS IMPACTOS À SAÚDE DE MOTORISTAS

Dentre os problemas de saúde apresentados por motoristas de ônibus, Winklebydestacam as doenças do aparelho cardiovascular (especialmente hipertensãoarterial), as doenças do aparelho gastrointestinal (em especial úlcera péptica e dispepsia)e os distúrbios osteomusculares (principalmente cervicalgia e dorsalgia). Além destes,outros problemas de saúde foram destacados na revisão de literatura de Santos Jr.91 taiscomo os distúrbios mentais, doenças relacionadas com o estresse, perda auditivainduzida por ruído e surdez ocupacional, lombalgia e outras dores na coluna, além demorte ou invalidez pelos acidentes de trânsito.

Entre os problemas de saúde mencionados pelas motoristas durante asentrevistas estão a hipertensão arterial e as varizes em membros inferiores. Ahipertensão arterial, proveniente de descargas de adrenalina, pode estar relacionada aotrânsito intenso e aos congestionamentos87,88. Já as varizes em membros inferiorespodem decorrer da temperatura elevada, em função da localização do motor na partedianteira do veículo e agravada pela vedação insuficiente, que “pode ser agravada pelamá circulação de ar no interior dos veículos, o acúmulo de passageiros em horários de‘pico’ e a própria temperatura externa.

Battiston, Cruz e Hoffmann81 em estudo sobre as condições de trabalho e a saúde de motoristas de ônibus de Florianópolis, apontam que motoristas de ônibus realizam suas tarefas em uma cabine de espaço restrito e com assento duro, gerando desconforto e insatisfação entre esses trabalhadores. Salientam que as linhas que apresentam maior número de paradas, para embarque e desembarque de passageiros, são as que causam maior fadiga entre os motoristas. Isto ocorre, segundo os autores, em decorrência da posição em que eles realizam o trabalho (sempre sentados), restringindo 33 a possibilidade de movimentos e, assim, sobrecarregando os músculos e tendões, especialmente do tronco, dos braços e das pernas. O ruído (do motor, do tráfego e dos passageiros) e as vibrações (causadas pelas condições do veículo e das pistas) potencializam a fadiga, além de serem geradores de problemas físicos como a dor de cabeça e no pescoço, perda auditiva e dor na coluna. Ainda em consonância com estes autores, os engarrafamentos, as condições das vias e o relacionamento com os passageiros, principalmente os que são “barra pesada”, são fontes de irritabilidade e estresse.

Já Onozato e Ramos82 assinalam que o trânsito, pelos riscos de acidentes (incluindo atropelamentos e colisões), a falta de sinalização e as condições precárias da pavimentação de ruas e avenidas contribuem para tornar o trabalho de motorista mais desgastante. Além disso, a permanência em uma posição estática por um longo período, realizando movimentos repetitivos e os períodos de pausas insuficientes, entre as viagens, para retornar ao trabalho em boas condições (falta tempo, inclusive, para as necessidades fisiológicas) são fatores que predispõem às fadigas física e mental do trabalhador.

Em nosso estudo reconhecemos a importância dos agravos à saúde das motoristas, mas consideramos necessário ir além das questões restritas ao estado de saúde e da saúde ocupacional de motoristas de ônibus urbanos. Um destes aspectos corroborado pelasentrevistas trata da acoplagem de trabalhos domésticos não assalariados ao de motoristae suas implicações em termos de sobrecarga. Outro importante achado trata datransformação de diferenças biológicas em desvantagens ergonômicas.

O SOFRIMENTO MENTAL E EMOCIONAL DE MOTORISTAS DE ÔNIBUS

A pesquisa de Mendes, com motoristas de ônibus de Belo Horizonte/MG,relaciona o estresse ao trânsito, ao contato com passageiros e à pressão decorrente dasexigências de cumprimento dos horários.

Na visão

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