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O ABUSO SEXUAL INFANTIL E O TRAUMA DE UM PONTO DE VISTA PSICANALÍTICO

Por:   •  24/4/2018  •  Artigo  •  1.674 Palavras (7 Páginas)  •  408 Visualizações

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O ABUSO SEXUAL INFANTIL E O TRAUMA DE UM PONTO DE VISTA PSICANALÍTICO*

Alissa Vitória Sangaletti Lourenço**

Marina Nunes Souza***

O presente artigo apresenta o abuso sexual infantil através do ponto de vista psicanalítico e os traumas psíquicos causados por essa violência, que normalmente ocorre no meio intrafamiliar da criança ou adolescente.

Palavras-chave: Abuso sexual, violência, traumas, psicanalítico, criança, adolescente.

 Artigo apresentado como requisito parcial para a aprovação da disciplina Método e Técnica em Psicanálise do curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL.

∗∗ Acadêmica da quarta fase do Curso de Psicologia na Universidade do Sul de Santa Catarina- UNISUL.

E-mail: alissavitoria@yahoo.com.br

∗∗∗ Acadêmica da quarta fase do Curso de Psicologia na Universidade do Sul de Santa Catarina- UNISUL.

 E-mail: marinanunes.98@hotmail.com

Introdução

A violência sexual infantil é a violação dos direitos sexuais, corpo e sexualidade de crianças e adolescentes, causando traumas devastadores em qualquer uma de suas manifestações. Esse, é caracterizado por um ato violento, que muitas vezes inicia com beijos e carícias, até o ato de realmente colocar a criança em contato com o sexo, muitas vezes gerando penetração forçada.

No Brasil, segundo a Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência, em 95% dos casos de violência sexual infantil são praticados por pessoas conhecidas das crianças, sendo essas próximas dos pais ou demais parentes das crianças e inclusive pessoas da família. Em cerca de 65% dos casos há a participação de pessoas do grupo intrafamiliar.

Nos casos onde a violência acontece no meio intrafamiliar, nem sempre o abuso sexual é caracterizado como algo violento e doloroso, pois o abusador normalmente possui um caráter afetivo e sedutor, fazendo com que a criança ou o adolescente passe a confiar em seu vínculo e então, o abusador envolve-a de forma com que esses acreditem que se trata de uma brincadeira ou demonstração de carinho privilegiada.

Resultados de pesquisas realizadas com famílias nas quais houveram casos de abuso sexual apontam que as consequências são percebidas durante o decorrer de toda a vida do indivíduo, apresentando casos de alcoolismo, drogadição, dificuldades econômicas e problemas com violência. Esses são apenas alguns fatores de risco associados ao abuso sexual.

A Violência Sexual: Uma infância roubada

Para Amazarray e Koller (1998) “o abuso sexual pode ser definido como o envolvimento de crianças e adolescentes em atividades sexuais que não compreendem em sua totalidade e com as quais não estão aptos a concordar”, na psicanálise, a criança e o adolescente são tratados como sujeitos que estão vedados a consciência, trata-se, portanto, de um pensar traduzido em palavras, que o deixa em estado de alerta (LACAN, 1976).

Azevedo (2000) afirma que a criança ou adolescente são submetidos a esse tipo de situação para gratificação sexual de um adulto, ou até mesmo um adolescente mais velho, baseados em uma relação de poder que inclui desde carícias, até o ato sexual com ou sem penetração, assim, "o outro é destituído do seu lugar de ser desejante e forçado a ser objeto de um jogo perverso", causando marcas profundas no psiquismo das vítimas.

Atualmente, tornou-se comum a demanda de pacientes que relatam terem sofrido ainda jovens com a violência sexual. O que leva a reflexão de uma realidade que já não pode mais ser ignorada:

O sujeito não passa impune por uma experiência desta ordem, fonte de intenso sofrimento, muitas vezes reduplicada pela insensibilidade daqueles a quem costuma recorrer. Não raramente, a violência física e moral é acrescida a dor do descrédito e até mesmo da inversão do papel vítima-sedutor. (AZEVEDO, 2000).

Esse fato não significa que as crianças ou adolescentes transitem de uma posição de vítima, para a posição de sedutora ou culpada. Mas, em grande parte dos casos, é possível haver um jogo de sedução, onde ambas as partes estão envolvidas, o que corrobora com a implicação dessas no ato do abuso. Por isso, a psicanálise, com seu método e sua prática clínica próprios, pode facilitar para que seja considerado aquilo que o sujeito diz, de forma a considerar o fato de que o sujeito está incluso naquilo que diz em seu discurso, sem saber o que está dizendo. (Costa-Moura, 2003).

Elia (2004) afirma que, no ato do abuso, o sujeito é envolvido pelo grande Outro e somente depois de certo tempo é que dará significação a tal episódio que o marcou, de forma que não é perceptível a si mesmo o que enuncia sobre sua subjetividade, somente percebe sua dor pois essa resulta em suas cicatrizes, sendo denunciadas no discurso ao analista.

Conforme Ribeiro & Gryner (2003), no momento em que se o nomeia o fato como abuso sexual, corre-se o risco de invalidar o sujeito, pois se coloca previamente um lugar para este. Em consequência disso, o que fica em primeiro plano é o eixo vítima agressor, o que remete a esfera da culpa. Com isso, a psicanálise defronta com algo que diz respeito a uma responsabilização, no sentido de que pode haver algum proveito com por parte de quem está sendo identificado como vítima. Então, Cromberg (2001) afirma que “muitas vezes, com a denúncia, há piora do estado psíquico” da criança ou adolescente.

Além disso, a psicanálise busca descobrir como a situação foi percebida pelo indivíduo. Aquilo que seria considerado traumático derivaria tanto da experiência, quanto da reação do sujeito ao evento e em relação ao momento e às circunstâncias do fato (Dupont, 1998).

Juntamente a noção de abuso sexual, sob a visão psicanalítica, está o conceito de trauma. Para Laplanche e Pontalis (1998), o trauma pode ser definido como "acontecimento da vida do sujeito que se define pela sua intensidade, pela incapacidade em que se encontra o sujeito de reagir a ele de forma adequada, pelo transtorno e pelos efeitos patogênicos duradouros que provoca na organização psíquica."

O abuso sexual infantil é o causador de diversos de traumas, inclusive Freud, inicialmente dizia que uma experiência sexual passiva antes da puberdade é uma causa especifica da histeria. Posteriormente, pode verificar que, de fato, suas pacientes contavam apenas suas fantasias, abrindo um novo caminho, que seria a Teoria Edípica (INTEBI, 2008).

Para Davies & Frawley (1994), a experiência traumática do abuso sexual se associa a dificuldades graves nas relações primárias ou vinculares, às experiências concretas de vivências altamente ansiogênicas, ao estabelecimento de um funcionamento psíquico desorganizado, resultando em falhas estruturais importantes no aparelho psíquico.

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