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O CAMINHO DO CONCEITO FREUDIANO DE REPETIÇÃO

Por:   •  15/4/2018  •  Trabalho acadêmico  •  1.365 Palavras (6 Páginas)  •  176 Visualizações

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“REPETINDO” O CAMINHO DO CONCEITO FREUDIANO DE REPETIÇÃO
Jacqueline Danielle Pereira

“Até você tornar consciente,
   o inconsciente irá dirigir sua vida,
e você vai chamá-lo de destino”
(Carl Jung)

No dicionário Aurélio encontramos as seguintes definições para o vocábulo repetição: “ato ou efeito de repetir; reprodução ou imitação do que outrem disse ou fez; lição em que se repetem coisas já dadas; figura pela qual a mesma palavra ou frase se repete várias vezes para dar mais força ao discurso; repetição de espetáculo, filme, programa televisual ou radiofônico”. A psicanálise, a partir de Sigismund Schlomo Freud, mais conhecido como Sigmund Freud, tomou essa palavra emprestada e conferiu a ela um novo sentido. Nos detenhamos no primeiro significado mencionado desse substantivo, do qual talvez Freud mais tenha se aproximado com o seu conceito próprio de repetição.

Logo no início de seus escritos, em 1893, Freud (junto com Breuer, nesse caso) menciona a repetição no artigo “Comunicação preliminar”, dizendo de sua presença na histeria, a qual teria por característica a recordação de uma vivência desprazerosa de caráter sexual relacionada a um trauma antigo. Mas é a partir do livro “Interpretação dos Sonhos” (1914) que Freud começa a esboçar o sentido do mecanismo da repetição. Este vai se formando paulatinamente, sobretudo, nos textos “A dinâmica da transferência” (1912); “Repetir, recordar e elaborar” (1914); “O estranho” (1919); e “Além do Princípio do Prazer” (1920). A partir deles, pode-se traçar o esboço do percurso trilhado pela concepção de repetição na teoria freudiana.

A princípio, Freud aborda a repetição como um processo do inconsciente. Sendo incontrolável, ele faz com que o sujeito, sob um imperativo, repita atos, ideias, pensamentos ou sonhos, que, no passado, trouxeram sofrimento e mantiveram a dor.

Ao introduzir a ideia da transferência, o autor recorre novamente à repetição para explicar o que acontece nesse processo que ocorre entre psicanalista e analisando durante a análise e, através do qual o psicanalista é posto na posição de objetos de desejos inconscientes do sujeito em análise. Desejos esses relativos a objetos externos que vão se repetir na figura do analista. Nesse momento, Freud postula que a transferência é um fragmento da repetição. Não se equivalem, pois, a primeira é somente uma fração da segunda. No entanto, a relação de ambas expressa um importante requisito da própria análise: se para haver análise propriamente dita necessita-se da transferência, e se esta implica em repetição, então só se inicia a análise no instante em que se repete.

O que está em cena na transferência, repetindo-se, segundo o pensamento freudiano, são protótipos infantis da imagem materna ou paterna transferidas ao psicanalista, além de tudo o que já avançou do reprimido para a personalidade manifesta, tal como, as inibições, as atitudes inúteis, traços patológicos e, claro, os sintomas. E não só está em cena, como encena-se, visto que a repetição se mostra por meio do que Freud chamou de acting out (atuação).

A associação livre e os sonhos são, para Freud, a via régia para o inconsciente. De tal modo que, na análise, pretende-se alcançar ambos para acessá-lo. Acontece que a coisa não se dá de maneira tão simples. O paciente, na tentativa de recordar fatos passados ao fazer associação livre, se depara, ainda que sem perceber, com uma das facetas da resistência, mais uma vez, a repetição. Então, ao invés de recordar, ele repete, de certa forma, aquilo que era para ser lembrado, substituindo a recordação pela repetição; ou seja, resistindo. Logicamente, a transferência então é um substituto da lembrança. E, Freud nos lembra de um recurso fundamental que o psicanalista pode se dispor para barrar a força que leva o paciente à repetição e, contrariamente, fazê-lo lembrar. Esse recurso seria o manejo da transferência.

O paciente repete atuando, pois, a rememoração plena do que foi recalcado, como acontece na hipnose, diz respeito a um estado de completa ausência de resistência, que não é o caso da análise. Afinal, se a análise assim o fosse, não haveria transferência, a qual é o motor da mesma.

Se o repetir é o que obstaculiza a reminiscência, percebe-se que se está próximo ao conflito psíquico, quando o analisando repete. Portanto, a repetição mesmo sendo uma forma de resistência, se constitui como um instrumento valiosíssimo da psicoterapia. Porém, Freud assevera que é preciso ultrapassar as resistências. Mas como? Ele mesmo indica a resposta: mostrando claramente ao paciente a sua resistência, a qual não é acessível a ele próprio, a fim de torná-lo familiar a ela.

Freud, neste ponto de suas obras, marca um lugar ao qual a repetição pode conduzir o paciente: a elaboração. Esta seria uma forma de enfrentar a resistência, a qual aparece na forma de repetição de fatos traumáticos que ainda não foram mediados pela linguagem, simbolizados. Para que a atuação do paciente seja simbolizada, ele a torna consciente ou a racionaliza diante do analista, tendo assim a possibilidade de elaborar conteúdos recalcados.

Posteriormente, quando o pai da psicanálise introduz seu conceito de estranho, ele retorna à ideia de repetição, mas agora, dando um novo caráter à sua compreensão. Freud afirma ser possível assinalar, no inconsciente, a prevalência de uma ‘compulsão à repetição’ inerentes às pulsões, a qual estaria a serviço do “eterno retorno” a um estado sem tensão. Inclusive, essa compulsão é de tamanha força que se sobreporia ao princípio do prazer. Qualquer aspecto que nos remetesse a essa ‘compulsão à repetição’ seria percebido como estranho, despertando uma impressão assustadora.

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