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O CASO HERBERT

Por:   •  26/10/2022  •  Resenha  •  1.421 Palavras (6 Páginas)  •  184 Visualizações

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Curso de Graduação em Psicologia

Disciplina: Psicologia e Educação

Para se começar a discorrer sobre o caso Herbert, é de suma importância destacar alguns dos pontos principais os quais serão discutidos: a madrinha, mãe adotiva de Herbert; seu pai e irmãs adotivas; o papel do neurologista e os medicamentos que foram prescritos; o papel da escola e da professora; o papel da Psicóloga; a família biológica, principalmente os pais; o ponto de vista de Herbert e o que ele quer/necessita e a agressividade de Herbert perante sua situação de vida.  O objetivo deste presente trabalho é dissecar cada um dos pontos mencionados anteriormente e relacioná-los entre si, com o propósito de analisar criticamente a educação e como ela se dá no cenário atual, bem como fatores históricos que nos levam a crenças limitadas da Psicologia e da Educação.

Para isso, ressalta-se que as bases da Psicologia e da Educação conversam entre si, desde seus surgimentos no século passado. Ambas são consolidadas no período da Revolução Industrial, onde se vê necessária uma intervenção nos modos de produzir o saber. Por essa razão, a compreensão da trajetória da Psicologia Escolar somente se faz possível a partir do estudo da Psicologia como ciência e profissão, que surge com a consolidação do capitalismo. Com isso e por influências européias e norte-americanas, se instaura a idéia de "normalidade", e todo e qualquer comportamento desviante dessa idéia é visto como desajustado, de mau caráter, perigoso, etc. Nesse sentido, a infância passa a ser vista como uma busca dos mínimos sinais de desajustamento, que pudessem indicar algo de errado com aquele sujeito. Por esses motivos, a Psicologia tradicional, desde então, vem corroborando com a pedagogia da exclusão, ao classificar e rotular as pessoas por esse método psiquiátrico, assim selando seus destinos e servindo para justificar as desigualdades sociais. Além disso, comum a esses pensamentos é a ideia de que a responsabilidade pelo fracasso escolar e social encontra-se no indivíduo, em sua família ou sua raça e condição de vida, contudo, na maioria das vezes, desconsidera as condições institucionais em que são produzidas as dificuldades de aprendizagem, e são reduzidas a procedimentos técnicos de avaliação do sujeito. Nesse sentido, muitos educadores da atualidade ainda possuem essa visão preconceituosa e institucionalizante da Educação, e anseiam por um lugar onde possam reduzir alunos a transtornos mentais ou desigualdades sociais. Assim, portadores de dificuldades de escolarização são frequentemente encaminhados para diagnóstico psicológico. Os "exames psicológicos" quase sempre indicam uma presença de deficiências ou distúrbios mentais nos alunos avaliados, isto é, os mesmos são portadores de desajustes, desequilíbrios, distúrbios emocionais ou psicológicos, agressividade, hiperatividade, apatia, trauma, disfunção cerebral mínima, complexos e tantos outros estigmas (ASBAHR, LOPES, 2006).

Em relação a um estudo feito em 2001, na Universidade de São Paulo, com o objetivo de entender algumas hipóteses dos professores de uma escola pública acerca das dificuldades de aprendizagem de alguns alunos, constatou alguns dos motivos pelos quais os professores encaminham seus alunos para a avaliação psicológica, entre eles: falta de interesse da família, situação familiar complicada, idade mental inferior à cronológica, falta de motivação ou interesse da criança, problemas neurológicos, carência econômica/afetiva, entre outros. A mesma pergunta foi feita aos alunos, e comum à maioria das respostas era da crença de que elas mesmas são responsáveis (ou até culpadas) pelo baixo desempenho escolar. Dessa forma, pode-se ressaltar as principais causas, de acordo com os professores que participaram do estudo: biológicas, familiares, culturais e emocionais. No grupo de causas biológicas percebe-se a influência da Medicina, e da lógica do raciocínio clínico tradicional, de redução dos sujeitos à fatores biológicos, e, ao detectar uma doença pode-se inferir ao seu agente causador, como no caso de Herbert e as medicações prescritas por seu neurologista e as frases ditas pela mãe adotiva "ele tem problemas de cabeça, por isso não aprende"; ou pela escola "tem problemas para aprender pois viveu de forma precária até seus dois anos". Outra expressão errônea desse tipo de pensamento é conceber o desenvolvimento humano como padronizado e linear, no sentido de pensar que a criança age de forma agressiva pois ela ainda não atingiu determinada "maturidade". Em relação às causas familiares e culturais, podemos relacionar com o caso de Herbert no sentido de a madrinha dele (mãe adotiva) ter feito a adoção à revelia de todos, inclusive dos pais biológicos da criança. Frequentemente, a culpabilização da família expressa visão preconceituosa que se tem dos pobres ao longo da história brasileira (Bisseret, 1979; Chaui, 2001; Schwarcz, 1993; Patto, 1999 entre outros). A pobreza, desde o início da Revolução Industrial, passa a ser entendida como inferioridade moral e física, natural de povos primitivos, e se tornou instrumento de culpabilização das classes populares por suas condições de vida. Isso fica explícito no caso de Herbert, por sua adoção pela madrinha. Por fim, as causas emocionais, que são comuns entre os educadores, os quais acreditam que as dificuldades de aprendizagem são decorrentes de problemas emocionais, ou seja, como se os traumas e agressividade fossem a causa e não a consequência. Sem desconsiderar pesos de situações traumáticas na vida de uma criança, é fundamental entender que os professores precisam investir nesses alunos, e não abandoná-los pois estão "marcados por problemas emocionais, e por isso são incapazes de aprender". Cabe aos professores acolherem todas as crianças, tendo em mente que aprender é muito maior do que assimilar conteúdos escolares.
A psicologia educacional tem como função compreender as relações escolares e ajudar na complexa tarefa da escola no contexto da educação. Ela é de suma importância para auxiliar os estudantes na ampla atividade da escola e tem como objetivo se envolver no quesito de aprendizagem, desenvolvimento e ensino, tão importantes para formar adultos no mundo. Por isso, é de suma importância que a psicologia esteja envolvida e atuante na escola, de forma crítica e pertinente, como no caso de Herbert. É notório os vastos problemas existentes em sua história, no qual a psicologia poderia intervir de diversas formas e questões, para ajudar ele e a família a construírem relações mais saudáveis no âmbito escolar e na vida. A partir disso, a psicologia escolar e educacional nos ajuda a olhar o caso com mais criticismo e com uma visão mais clara de intervenções eficazes para que Herbert desenvolva suas habilidades.
Um exemplo de como a psicologia poderia intervir, é existir relações psicoterapêuticas entre ele e a sua família, tanto adotiva quanto biológica. O menino adora encontrar os irmãos biológicos e é sempre impedido, grande parte por sua mãe, com medo de perdê-lo. Assim, isso causa mais irritação e frustração por parte dele, que é entendido como um ‘’menino rebelde’’. Além disso, a relação entre ele e sua família adotiva requer muitos cuidados, pois os mesmos os tratam como se não tivesse jeito e sem amor para com ele. Assim, a psicologia poderia entrar como forma a mediar essas relações e construir uma mais saudável para que Herbert possa se desenvolver em sua vida e escola de forma mais assertiva, olhando para suas capacidades e resolvendo problemas.
No caso, tudo é tratado como uma única possibilidade, e sua realidade é limitada por um ponto de vista. Portanto, a psicologia poderia intervir na hora de conhecer outras formas de análise que visasse romper com essa visão pronta de ‘’aluno problema’’. Um exemplo é como ele não gosta de fazer atividades iguais aos colegas, mas quando é proposto de forma diferente, ele se empenha e mostra o que é capaz. É notório como a escola desenvolve rótulos prontos e quando um aluno não se encaixa, crítica e o trata de forma diferente. Por isso, é preciso repensar no jeito que a escola está inserida em casos como esses e tornar discursos congruentes, já que a escola está presente em grande parte da vida dos seres humanos.
Por fim, a psicologia nos ajuda a pensar em como as crianças precisam ser ouvidas e não apenas julgadas, tornando-as mais falantes e menos ‘’faladas’’. Essa visão torna as relações infantis mais saudáveis e as intervenções mais certeiras. É preciso escutar Herbert assim como os adultos da relação, ainda vivemos em uma sociedade que distorce o discurso da criança e as trata apenas como menos experientes, ou apenas só como o problema que dizem que são. Nesse viés, a psicologia educacional entra como mediadora entre a criança e o adulto, possibilitando um estado de escuta onde ambos falam e ambos propõem ideias. Por fim, o caso Herbert reflete como é necessário a intervenção da psicologia na escola, levando a multiplicidade dos aspectos e uma análise da realidade justa e congruente.

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