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O Corpo x Repulsão

Por:   •  20/5/2015  •  Resenha  •  4.019 Palavras (17 Páginas)  •  170 Visualizações

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O corpo x repulsão

E Freud é indiscutivelmente um inventor. Inventa um novo corpo e uma nova alma” .  por não ser um conceito metafísico. Subversivo, Freud afirma que o conceito de pulsão é o conceito mítico da psicanálise. Pulsão, segundo Freud, De um lado, temos pulsões anárquicas – que nascem de estímulos corporais, que, tomados enquanto pura dispersão, não tornam um conjunto estruturado; é o caos pulsional; de outro lado, temos o aparato como o lugar da ordem desse caos, capturando e transformando essas pulsões segundo uma ordem, a da linguagem. Mas aparato psíquico e pulsão não são independentes, constituem-se na relação uma com a outra, simultaneamente. É nessa relação entre aparato psíquico e fonte somática de estimulação que a pulsão se funda e é fundada como possibilidade de articulação. Por um lado, ela aponta o corpo, entendido como fonte de estimulação constante e como medida de exigência de trabalho imposta ao anímico; por outro lado, aponta o psíquico, enquanto sede das representações. Nessa direção, a pulsão pode ser considerada sob um duplo aspecto: o biológico e o anímico; biológico devido ao fato de ela ser assimilada à excitação somática endógena, portanto, algo que, do exterior, faz uma exigência de trabalho ao aparato psíquico. Do ponto de vista anímico, é devido ao modo de ela se fazer presente no psiquismo. Em conseqüência, é um conceito fronteiriço. Enquanto conceito de fronteira, a pulsão articula o somático e o psíquico. A montagem da pulsão pode ser entendida a partir de quatro termos: pressão, alvo, objeto e fonte. Senão vejamos: ● Pressão (Drang): por pressão da pulsão, compreende-se seu fator motor, sua força e quantidade de trabalho; é a própria essência da pulsão. A pressão da pulsão é o que a caracteriza como ativa, pois sempre há uma exigência de trabalho. Na pressão, há uma quantidade de excitação que tende à descarga. A teoria freudiana possibilita a articulação entre corpo e psiquismo – o corpo, entendido como fonte de estimulação constante; o psiquismo, enquanto sede das representações. ● Alvo (Ziel): o alvo da pulsão é sempre a satisfação. Esta deve ser entendida como a redução da tensão provocada pela pressão da pulsão. Esse alvo é invariável para todas as pulsões, mas os caminhos que conduzem a ele podem ser diversos, havendo inclusive alvos intermediários que podem se combinar ou mesmo se permutar, produzindo satisfações parciais. Mas, por ser característica da pulsão a força constante, não há cancelamento da estimulação, portanto, não há satisfação total. Começa a aparecer o caráter surrealista da montagem pulsional (Garcia-Roza, 2000). O alvo da pulsão, a satisfação, é para não ser atingido, e isso não se dá por falta de meios adequados, mas em decorrência da própria natureza da pulsão. Então, há uma possível satisfação parcial própria da pulsão e uma satisfação plena própria da necessidade. Para Freud, a satisfação, a que visa a pulsão já foi obtida um dia, na nossa pré-história individual. É uma busca sem fim, uma tentativa de reeditar essa satisfação primeira. ● Objeto (Objekt): o objeto da pulsão é o que há de mais variável nela objetivo é invariável: a satisfação. A pulsão está à deriva. Objetos se oferecem como pretendentes a ocupar o lugar da coisa (Das Ding), irremediavelmente perdida pelo simples fato de que nunca foi tida. Frente a essa impossibilidade, a pulsão se apropria de objetos que revelam não serem neles ou por eles que ela encontrará a satisfação, embora a satisfação parcial seja obtida no campo do princípio do prazer, onde os objetos se apresentam como pretendentes a objeto absoluto, mas que, na verdade, são da ordem da representação. Seria a comida o objeto colocado como representante dessa busca de satisfação plena? É somente por intermédio de um objeto que a satisfação, mesmo que parcial, pode ser obtida. A pulsão pede um objeto, o que ela não implica é que seja um em específico. Esse objeto inespecífico não é qualquer um, e sim, aquele que se liga à pulsão pela sua “peculiar aptidão” (Garcia-Roza, 2000). Aptidão? Seria algo genético? Não, essa particular aptidão está vinculada à história do sujeito, ao seu desejo e às suas fantasias. Então, entre a pulsão e seu objeto, há o desejo e a fantasia. O objeto da pulsão não constitui a cópia do objeto externo, mas sim, a representação do mesmo, ou seja, ele é uma síntese resultante da ligação entre representações sensoriais elementares e a palavra, ou representação-palavra. O objeto é o efeito da incidência da palavra sobre as sensações provenientes dos estímulos externos. ● Fonte (Quelle): a fonte da pulsão é no corpo. Dizer que a pulsão tem sua fonte no corpo significa tomar o corpo como um “processo somático”, “uma parte”, “um órgão”, e não um corpo como uma totalidade organizada isto é, a ordem e a inteligibilidade desse corpo de que Freud nos fala não importam, elas não são pertinentes quando se trata de produzir uma inteligibilidade para as pulsões. No início, Freud não considerava uma organização na sexualidade antes da puberdade. Considerava apenas a sexualidade ligada a zonas erógenas. Estas eram consideradas fontes das pulsões parciais; são os elementos primeiros de onde se organiza a libido, e funcionam primeiramente de uma forma anárquica, inorganizada, que caracteriza o auto-erotismo. Freud fazia uma distinção entre pulsão sexual e pulsão do ego. A energia da pulsão sexual é a libido, e tinha como objetivo a satisfação, enquanto a energia da pulsão do ego tinha como objetivo a autoconservação, opondo-se às pulsões sexuais. Com o conceito de narcisismo, Freud abandona essa oposição, pois as pulsões sexuais podem retirar a libido investida nos objetos e colocá-la no próprio ego, sendo denominada libido narcísica. A noção de zona erógena inicialmente tinha um referencial anatomofisiológico, ou seja, certas regiões do corpo eram destinadas a fins sexuais. Mais tarde, em 1915, Freud reformula essa idéia e estende a eroticidade a todo o corpo, inclusive aos órgãos internos, Foi a partir da noção de zona erógena e de uma organização da sexualidade infantil que Freud desenvolveu a noção de organização da libido, em conseqüência, com fases da libido. O conceito de fase tem que ser pensado com a idéia de relação de objeto, relação que a criança estabelece com o mundo em determinado momento. A primeira fase definida por Freud foi a fase oral, sendo a primeira fase da evolução sexual pré-genital. O prazer está ligado à ingestão de alimentos e à excitação da mucosa dos lábios. O objetivo sexual consiste na incorporação do objeto, ou seja, essa é a forma de o bebê relacionar-se com o mundo. Isso se apresenta como protótipo para identificações futuras, pois é a partir da significação comer-ser comido que se caracterizará a relação de amor com a mãe. Essa fase não se caracteriza somente por uma determinada parte do corpo, e sim, por um modo de relação de objeto: a incorporação.

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